DEDO NO CU

Cresci com diversas expressões que pensava serem universais para mais tarde descobrir que o não são.

Uma dela, por exemplo, é colegas são as putas e outra meterem-me o dedo no cu.

Meterem-me o dedo no cu consubstancia-se em tentarem enganar-me.

Deixam-me dizer-vos isto: intimamente, já me tentaram meter o dedo no cu literalmente; clinicamente, já me meterem o dedo no cu, literalmente; no geral, já me tentaram e tentam meter-me o dedo no cu com alguma frequência, metaforicamente.

Deixem-me acrescentar que a tentativa metafórica é-me incomparavelmente mais dolorosa do que as outras duas que descrevi.

Quando foi um médico, não apreciei mas...é o que é.

Quando foi uma gaja, disse ei, ei, que é isso?! e depois ri-me da tentativa.

Quando é metafórico tenho vontade de estrangular.

Ah, era isso que querias dizer? Não percebi...

Fazerem-me isto quando eu sei que não foi o que aconteceu deixa-me em ponto de bala.

A reacção é imediata e pouco agradável. Nestes momentos, torno-me no idiota arrogante que detesto e mostro - acontece quase sempre porque quem me faz isto não é muito dotado... - que por muito esperta que a pessoa pense que é não está preparada para me iludir.

Ah, aconteceu isso? Ah, a culpa não é minha...

Isto acontece muitas vezes em serviços.

Se as coisas correrem mal e me disserem olha, esta merda atrasou-se ou olha, esta merda correu mal e não deu para cumprir não sou capaz de engrossar; as pessoas cometem erros e, às vezes, nem de erros se tratam; são apenas circunstâncias.

Agora...se um fdp de um empregado de um restaurante, por exemplo, me disser que o prato está demorado mas que ele não tem culpa, não estou na cozinha a merda tem tudo para correr mal.

Uma vez, um gajo disse-me mesmo isto: eu não trabalho na cozinha. Só se quiser ir reclamar com a cozinha...

Não respondi. Levantei-me e fui à cozinha perante a perplexidade do camelo que achou que ia ter graça e dos cozinheiros que não perceberam o que estava um gajo irritado a fazer na cozinha.

Digam-me que fizeram merda;

Digam-me que correu mal;

Digam-me que ouviram o que eu disse mas não concordaram.

Não me metam o dedo no cu.

Não aprecio.

....e para não se pensar que este meu texto intui algo como quem gosta que lhe metam o dedo no cu são os paneleiros! desengane-se.

A apreciação nada tem de sexual.

Deve haver muito homossexual que tem tanto asco como eu a que lhe metam o dedo no cu.