Wednesday, March 13, 2013

Não sei exactamente em que fase da minha instrução académica fui apresentaro ao Império Otomano. Dei a coisa e desde esse momento até relativamente recentemente entendi-a como algo pré-histórico, algo que não fazia, de todo, parte da minha realidade, assim como os dinossauros e o Manuel Luís Goucha.
Foi com uma enorme surpresa que descobri que, afinal, a coisa não foi há tanto tempo assim, o Califado por que lutam muitos dos extremistas islamitas está ao virar da esquina que dobrámos há pouco.
Pode parecer parvo e suguramente parecerá para muitas pessoas mas quando pensava na I GGM nunca a tal havia juntado a existência do Imperio Otomano, ou seja, há menos de 100 anos.
O que me parecia da antiguidade afinal nem sequer era da idade média, foi ontem!
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Que importância terá isto?
Há um sentimento generalizado de que há coisas que são imutáveis. Parece-nos, por exemplo, inconcebível o que agora se passa na Síria como o que se passou (ou ainda se passa, um gajo não sabe) no Ruanda e, até, o que se passou há bem menos tempo na nossa vizinha Jugoslávia.
Não parece possível que se volta àquilo a que chamamos selvajaria e, no entanto, é facílimo perceber que a evolução no sentido daquilo que entendemos por civilizado demora muito tempo a atingir mas a barbárie regressa num segundo.
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Talvez só na minha cabeça esta coisa dos portugueses esfaqueados na Alemanha represente mais do que portugueses esfaquedos na Alemanha; talvez só na minha cabeça os votos entregues a dois palhaços em Itália represente mais do que uma graça; talvez só na minha cabeça seja preocupante que seja apenas a Irmandade Muçulmana a prestar apoios de primeira necessidade no Egipto, por exemplo; talvez só na minha cabeça a Aurora Dourada seja preocupante no mesmo sentido em que a Irmandade Muçulmana o é; talvez só na minha cabeça o apoio à Le Pen na França (sem esquecer que já uma província foi capaz de proibir certos livros e comida kosher nas escolas) arrepie.
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Bem, na sociedade hodierna que parece ter por indiferente o que ultrapassa, vá lá, vamos ser simpático, o tempo de vida da geração intermédia, seria útil referir que a memória pode limitar-se ao que pretendemos mas a história não; a história tem o inconveniente de nos ultrapassar e vergar-se menos ao que pretendemos.

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