Saturday, May 30, 2015

ARTE

Esta é, para mim, mais uma questão em que a diferença psicológica, essa nuance quase imperceptível, é tudo.
Arte, por definição, é inútil. Não no sentido em que não tem qualquer aproveitamento mas no sentido em que não é palpável aquilo que faz por nós e porque não é palpável é inestimável.

Poderia, neste momento, discorrer sobre a impossibilidade de se ganhar dinheiro com alguma coisa e essa coisa ser arte mas não é isso que penso. O que penso é que a Arte pode ser um ganha-pão mas já não pode ser Arte se for para isso que tenha sido criada; podemos ficar ricos porque somos artistas mas se formos artistas para ficarmos ricos não o seremos.
Não é mau (nem bom) querer que milhões gostem daquilo que fazemos mas não é Arte; se criarmos para agradar estamos a fazer uma outra coisa mas se agradarmos porque fizemos o que queríamos a história é diferente.

Hoje não consegui evitar ler - ainda que muito rapidamente por deferência ao meu estômago - uma entrevista do Chagas Freitas ao I e é aquilo uma manifestação do que não é ser um escritor mas antes um gajo que escreve. Na verdade, o próprio define-se desta forma mas de maneira a que alguém lhe diga que está enganado, que ele é um escritor... que não é e que afirma não ser acreditando que o é.
Ora, este gajo quer - legitimamente - ser lido pelo maior número de pessoas possível, o que é honesto, mas diz que faz o que lhe apetece, o que é menos honesto.
Este gajo escreve, pelo vistos, uma média de 10 livros por ano e qualquer mentecapto que alguma vez tenha tentado fazer algo como escrever um livro de forma decente sabe que isto não é possível.

Não perderei muito mais tempo com este tipo mas deixo duas notas que revelam tudo:
a) comparam-no com o Rodrigues dos Santos - comparação que aceita em termos de vendas - , Rodrigues dos Santos com quem tem muito em comum e que começa no pouco talento para escrever, passa pela ignorância nos temas que aborda e acaba num ego muito grande para aquilo que realmente vale;
b) usam o gajo que era vocalista dos Toranja para uma equivalência musical e, mais uma vez, acertam e ele aceita; de facto, ambos são vazios mas imaginam-se uma outra coisa.

Voltando,
a Arte não deixa de o ser porque dela se gosta, muito ou pouca gente;
a Arte não passa a sê-lo porque não se entende;
a Arte é uma manifestação de nós que serve para nos darmos a conhecer.

Há uns tempos perguntaram ao Ne-Yo o que procurava nos Artista com quem assina contrato para a sua editora ao que respondeu "que fizessem a mesma coisa se não desse dinheiro nem gajas". Ora, se ele foi sincero ou não, desconheço, mas errado não está.

Estou, neste preciso momento, a ouvir o Sinatra em Barcelona (1992) a cantar o Under My Skin, em Big Band, naturalmente. É Arte. Leva-me embora. Pagava-se muito dinheiro para o ver. Também era uma profissão. Ele ganhou mundos e fundos. Foi, provavelmente, para a cama com quem lhe apeteceu.

Leva-me embora.
Faz-me feliz por momentos.
É Arte.

EGOÍSMO

Nasceu a filha de um amigo na passada terça-feira.
Soube disso, tentei ligar e não atendeu. Mandei SMS a parabenizar. Depois calei-me.

Ontem estive com ele e como nos conhecemos há muito expliquei-lhe que nem me ocorreu ir ao Hospital visitar e que só iria se me fosse pedido.
Entendeu, naturalmente. Como eu, também acha que não é momento para paradas e público. A mãe está num 8, a criança ainda nem se apercebe de nada e o pai quer estar com ambas. As pessoas vão lá para chatear mas ninguém tem coragem para lhes dizer. As pessoas vão incomodar.

Disse-me que estava farto de andar cima e baixo a entregar cartões e receber e responder a mensagens mas tinha-o feito porque as pessoas poderiam ficar chateadas. Tinha razão, As pessoas ficam chateadas. No momento em que o que deveria interessar era o bem estar de quem nasce e de quem deu a nascer as pessoas medem a sua importância. Se receberam a notícia mais cedo; se foram as primeiras a visitar; se deram o melhor presente.

As pessoas fazem com boa intenção, disse-me ele, e nem discordo. E talvez o mais triste seja isso. A completa incapacidade de entender que o que pensam ser pelos outros ser pelos próprios. 
Egoísmo...

Quando nos despedimos, disse-lhe que estava a pensar visitá-los (aos 3) este fim-de-semana mas que me parecia, ainda, muito cedo e que era irrelevante quando a visita iria acontecer.
O pessoal que recuperasse, que se adaptasse, que ficasse mais confortável que eu depois aparecia. Não tinha nem tenho pressa. A importância de me quererem lá é secundária ao que é benéfico para quem nasceu e deu a nascer.

Eu ligo a perguntar como está;
Eu ligo para saber se está tudo bem;
Eu ligo a disponibilizar-me para o que precisarem.... mas sempre para o que eles precisarem porque eu não preciso de nada.

Fizeste bem. Se um gajo precisasse de alguma coisa no Hospital tinha-te ligado.
Pois, espero que sim.

(acho que ainda volto...)

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