O Pó na Somália
Numa qualquer entrevista ou reportagem sobre as doenças de primeiro Mundo, li ou ouvi reparem: ninguém é alérgico ao pó na Somália!
Na altura, achei graça e pensei que fazia sentido. Lembrei-me que as consolas de jogos e outro tipo de entretenimento que são hoje oferecidos às crianças e que as mantêm reféns das paredes os tornam menos resistentes a merdices para as quais há uns anos atrás estariam mais preparados para enfrentar.
Quando, por estes dias, o tema Depressão encontrou caminho até ao meu círculo, lembrei-me do Pó da Somália.
Há uns anos, fui de férias para uma aldeia mexicana e foi, talvez, a primeira vez que estive exposto a pobreza. Não era uma pobreza do tipo absolutamente miserável, como de vez em quando nos mostra a TV mas era pobreza; era gente que fazia muita e muita coisa para ganhar quase e quase nada.
Dei conta, contudo, que aquela gente me parecia mais contente do que aquelas que conhecia em casa. Sim, deve andar por aqui gente mais feliz que lá mas em termos médios estou certo não ser o caso.
Na altura, novo e parvo, achei que era por causa do clima.
Não é que considere ter estado enganado mas é demasiado simplista.
Agora, anos depois, acho que tem muito que ver com as expectativas que são criadas, de uma maneira ou de outra.
A Depressão primeiro mundista talvez seja a manifestação da ausência de alérgicos ao pó na Somália.
Por cá,
tenho a impressão que as pessoas acham que lhes é devida alguma coisa por existirem. Tenho a sensação que pensam que têm direito ao que quer que seja só por respirarem.
Por cá,
tenho a impressão que as pessoas acham que devem a sua felicidade a um conceito de sucesso que se revela aos outros e não aos próprios. Tenho a sensação que não andam de BMW porque gostam dele mas porque gostam que os outros os vejam a andar nele.
Quando não recebem o que acham que deviam receber, frustram.
Quando não conseguem comprar o BMW, frustram.
Quando ambas as coisas acontecem - compreendendo-se, naturalmente, que tanto uma como outra são metáforas para tudo -, deprimem.
Preparados para que chame mentecaptos a todos (onde vocês se incluirão)?
Pá...eu queria mas não consigo.
Quando todos olham para um lápis e lhe chamam caneta, tu, que sabes ser um lápis, passas a estar enganado.
É certo que não estarás, intrinsecamente, errado porque...é um lápis mas quando todos os que te rodeiam lhe chamam outra coisa é estúpido continuares a usar um termo que ninguém entenderá o que quer dizer e para que te referes.
Bem,
eu não gosto do caminho que isto está a seguir mas não sou um revolucionário.
Encolho os ombros, penso sa foda e sigo o meu caminho mas essa merda desse caminho é uma coisa esquisita.
De vez em quando, na altura em que a bicharia me apanha, dou por mim a ver-me assim:
...e vamos terminar a bombar (imaginando que é uma reposição mas não indo confirmar):
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