Complacência
Complacência nunca foi uma coisa que me viesse naturalmente mas tem vindo a mudar.
Eu acho a juventude estúpida porque já fui jovem e, de vez em quando, dou comigo a pensar se não acharei a vida adulta estúpida quando for velho.
A minha natureza não é complacente porque a Natureza também não é complacente. Temos de ser por nós e a fraqueza cheira-se à distância. A primeira gazela que se fode é a manca.
Com o tempo a coisa foi mudando.
A minha tolerância para com o outro Humano foi aumentando à medida que fui passando por cenas que me fizeram, por momentos, ser uma outra coisa que não sou.
Há uns anos, precisei que dissessem que gostavam de mim e, na altura, como agora, acho que as palavras interessam coisa nenhuma;
Certa vez, deitei a cabeça no colo de uma amiga porque não me apetecia que o que estava a acontecer fosse verdade;
Durante uns dias - acho que foram só dois mas podem ter sido mais - não saí da cama e estive pouco tempo acordado; o que me rodeava não me agradava.
Detesto tudo isto;
Achava tudo isto uma fraqueza atroz que não merecia complacência e, no que a mim diz respeito, continuo a achar.
Ainda hoje faço um esgar de dor quando imagino estas merdas e o paneleirote que fui e que não posso garantir não vir a ser novamente.
Mas, quanto aos outros diz respeito, a minha complacência é incomparavelmente maior.
Sim, acho que as pessoas precisam umas das outras;
Sim, acho que as pessoas são egoístas porque não sabem ser outra coisa;
Sim, acho que as pessoas são estúpidas porque não conseguem não o ser.
Então,
em termos gerais, deixei de fazer juízos de valor quanto a outros.
Não desculpo mas tento compreender.
Há, contudo, duas excepções, se bem me recordo:
1. mentir não faz de ninguém mentiroso; fraqueza não faz de ninguém fraco. Se a deficiência for estrutural e não conjuntural, a minha paciência é mais reduzida;
2. se estiver irritado.
Infelizmente, se o sangue me subir, passam todos a ser a gazela manca que se vai foder e se estiver suficiente irritado sou o leão que as vai foder.
Infelizmente, isto ainda não mudou.
(pequeno à parte:
ouço muitas vezes dizerem que sou um animal - que tomo como elogio por ser sexy - mas, as mais das vezes, sou o menos animal de todos os que me rodeiam.
Tendo a dizer o que quero dizer enquanto que os outros tendem a dizer uma outra coisa...então, imaginam que estou a ser agressivo e a julgar outros porque é isso que fazem nos momentos em que pensam e nos infinitamente maiores momentos em que falam.
Se eu disser que alguém é preto estou, apenas, a constatar uma cor mas muitos imaginam que estou a dizer outra coisa por ser outra coisa que estão a pensa)
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