Friday, August 11, 2017

DUAS PESSOAS

Pessoa I

A maioria de nós tem vontade de se enturmar e, julgo que também a maioria, apenas quer fazer parte de um grupo e sentir-se confortável.
Quando se está num meio pseudo-intelectual (licenciados e Drs. e merdas do tipo), há a tendência para o fazer com base em coisas especiais que não são do conhecimento geral (o facto de conhecermos dois camelos que batem num tambor e que são de Timbuktu faz o pessoal sentir-se cosmopolita e desenvolvido).

Por aqui aconteceu menos isso mas, infelizmente, o tema escolhido foi música.
Porque estamos numa era em que conhecer a superfície parece suficiente, quando se arranha a crosta e se afunda uns milímetros parece que estamos em descoberta mas, felizmente, ainda há gente que cava trincheiras.

Em música eu cavo trincheiras. Na verdade, cavo trincheiras em tudo o que me interessa.

Foi-me, então, falado do quão espectacular é uma determinada cena um bocado obscura mas era, para mim, bem clara porque é comercial.
Quando os assuntos me interessam, tendo a responder.
Quando respondo, por norma faço-o meramente para trocar impressões e mostrar cenas que me interessam;
Quando respondo, de vez em quando faço-o para esfregar na cara de gente que se julga conhecedora que mais não é do que um bocadinho mais do que uma anémona.

Neste caso, fi-lo só para mostrar cenas que me interessam e estou, até, em crer que foi entendido desta maneira mas o que aconteceu é que o assunto não foi mais tocado.

Ela percebeu que estava fora de pé e em vez de aprender a nadar preferiu voltar para terra firme.
Não levo a mal nem penso menos dela.
É só engraçado.

Pessoa II

Ontem conheci um gajo que do tipo que não me agrada.
Gente que fala muito aprende pouco e gente que se acha o maior pode estar certo ou errado ao ver-se dessa maneira mas a minha experiência pessoal é que só nos achamos incríveis quando não temos conhecimento do que o incrível é de facto.

Então,
este gajo falou de coisas interessantes mas em relação às quais percebe menos do que eu.
A maioria dos assuntos tocados, contudo, não me eram particularmente queridos, pelo que deixei o bonas julgar estar a iluminar a mesa com todas as palavras que ia soltando (fiquei orgulhoso de mim mesmo!).

Depois caiu no erro de andar demasiado para a frente porque foi apanhado numa curva.
Que curva?
Bem... nem o fiz por maldade (meia hora depois faria mas, como Popper, se soubesse o que não sabia já o saberia). Apenas teci um comentário contrário ao que o idiota dizia.
Talvez por se sentir diminuído - se não se sentiu, devia ter-se sentido - disse qualquer coisas como:
Oh C, não te imaginava assim com uma besta!
Isto não me caiu bem mas também não me caiu mal. O discurso usava este tipo de coloquialismos e, verdade seja dita, ser uma besta não me desagrada.

Algum tempo depois, quando revelava ser um paneleirote quando viajava (eu era para ter ido para o lugar X mas, lá, os gajos são os ciganos do País) respondi-lhe que era cauteloso mas que não me coibia de ir para lugar nenhum. Já estive em lugares supostamente perigosos e nunca lhes senti o perigo.

Foi então que:
Mas sozinho é uma coisa. Um gajo pode levar uns sopapos mas aguenta-se (não comentei que quem diz levar uns sopapos não sabe o que é apanhar na tromba). Quando se vai com a mulher, é diferente.
A mulher riu-se e eu respondi:
- Mais ou menos. Sabes, apesar de ser surpreendente a C estar com uma besta, isso tem as suas vantagens. As pessoas com juízo tendem a não querer chatear-me tanto no estrangeiro como no meu País como em restaurantes.

Isto não foi dito com agressividade porque não quis tornar a coisa pesada e preferi ver se o homem dos sopapos se iria refrear ao ver-me os dentes.
Refreou-se. A coisa acalmou.
Eu não dou sopapos e também não paro perante a eventualidade de sopapos.

Não tenho muita vontade de encontrar este gajo mais vezes porque - cheira-me - se a plateia for maior ele vai-se agigantar e eu serei menos complacente.

Se falasse menos teria aprendido mais.


0 Comments:

Post a Comment

<< Home