Tuesday, May 07, 2019

Deambulação

Gosto de olhar. Gosto de ver.
Acho que sempre foi assim.

Quase tudo o que escrevo tem que ver com o que vejo; é verdade que pode haver uma qualquer alegoria ou metáfora mas a ficção interessa-me pouco.
Sempre apreciei fotografia e, agora, aprecio muito (mas mesmo muito!) fotografar. O facto de não editar fotografias, por exemplo, tem mais do que um fundamento. É verdade que joga contra a minha natureza brusca mas é ainda mais verdade que me interessa muito mais tentar captar o que estou a ver do que o que gostaria de estar, ainda que para as outras pessoas possa ser menos interessante.

Chego-me sempre mais perto de um precipício porque quero ver de lá;
Faço sempre mais uns kilómetros de carro porque quero saber o que está depois da curva.
Ando sempre mais umas centenas de metros porque quero ter a certeza que aquela estrada não leva a lado nenhum.

Viajar não é diferente.
Podia ser pedante e falar de mergulhar na cultura ou enriquecer como ser humano e mais umas quantas expressões ocas que pintam as redes sociais.
É provável que faça a primeira e que aconteça a segunda mas o que eu quero, mesmo, é ver.

A maioria vem contar das ilhas paradisíacas e dos resorts incríveis e das águas límpidas e isto não me interessa por aí além.
Não se enganem: excluindo os resorts, aprecio todas essas coisas mas não faria milhares e milhares de kilómetros por conta de uma água mais quente e mais limpa nem por um cocktail na praia. 

Vou porque quero ver.
É, também, por isso que não gosto de ficar meia dúzia de horas num lugar só para dizer que lá pus os pés.

...é uma coisa minha.

Este romantismo, como tudo na vida, não vem sem custos.
A fantasia que ajuda muitos de nós a suportar uma vida que nem sempre é aquilo que gostaríamos não me é permitida.
Não acho que tudo vai correr bem nem que tudo tem uma solução. Acho que algumas coisas correrão bem. Acho que algumas coisas têm solução.

Bem, é sempre melhor ver...não é?

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