Monday, August 12, 2019

Note to Self

Outro dia, disse-lhe a minha vida é, em alguns aspectos pior que a tua. É certo que o que me rodeia interessa-me pouco e que as circunstâncias dizem-me pouco. Caguei no que dizem e no que fazem; o que a minha empresa pensa é-me indiferente. Não perco tempo com externalidades. Os meus problemas e cenas vêm de dentro e, por assim ser, não tenho como picar o ponto e sair nem como desligar da corrente.

É verdade.
É assim.
Além deste problema, ou em consequência deste, há uma tensão permanente entre o que me apetece fazer e o que devo fazer.
A esmagadora maioria das vezes ganha o que devo fazer e não o que quero. É bom porque a racionalidade é superior ao instinto mas é mau porque a vontade não é particularmente receptiva a explicações lógicas.

...mas, como é habitual, nem era isto.

A minha vida é boa.
Há outras maneiras de o dizer e eufemismos que poderia utilizar mas assim é mais simples e verdadeiro: é boa.
É possível que boa seja um eufemismo. É provável que seja óptima.

Em termos pessoais, gosto daquilo que sou.
Novamente: poderia ser um gajo que quer ser visto como sendo humilde mas eu não sou isso.
Eu gosto daquilo que sou.
Profundamente imperfeito. Problemático e, de vez em quando, neurótico. Irascível. Egocêntrico. Mas consciente destes defeitos e a tentar corrigi-los.
Aceito, inclusivamente, que não conseguirei corrigir todos e que alguns nem sequer acho que valham a pena serem corrigidos. Alguns dos defeitos têm umbilicalmente ligadas virtudes que aprecio e que não perderei em benefício de uma placidez que me poderia ser proveitosa.

Sou cercado por poucas pessoas.
As poucas pessoas que me cercam, contudo, têm-me apreço e gostam de me agradar. Mais do que gostarem de me agradar, esforçam-se por não me chatear e por me poupar das merdas que não me interessam e que me fazem ficar tenso.

...e, dito tudo isto, estou frequentemente insatisfeito.
Como se tem reparado, a coisa tem andando pior do que o costume mas, como se pode reparar, nunca foi pejada de unicórnios e algodão doce.
A minha natureza não é alegre.
A minha postura não é esperançosa.

Pode parecer que me estou a tentar convencer que a minha vida é boa mas o que estou a fazer é o contrário.
Estou a mostrar-me que a minha vida é boa e não a convencer-me.
É um facto.
É real.

Podia ser melhor?
Sempre. Tudo pode ser melhor.
Mas é boa. No mínimo, boa.

PS. Tornarei isto mais pessoal e concreto para que não me esqueça da minha estupidez escondida entre todos os livros impressionantes que leio:
Acho que estou mais gordo. Não tenho ideia de quanto e nem se, realmente, estou. Mas acho que estou.
Vou ter de fazer alguma coisa, quanto a isso.
É natural, K! Precisas de ter cuidado com a saúde! ou Óbvio, K! Ser mais gordo torna-te menos atraente!
Errado.
Caguei um bocado em ambas as coisas.
A saúde preocupa-me um bocado, serei honesto.
Ser atraente preocupa-me próximo do zero.

Então, terei de fazer alguma coisa porquê?
Pá...porque se a puta da roupa começar a deixar de me servir terei de comprar outra.
Eu ODEIO comprar roupa.


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