Saturday, November 09, 2019

Todos Iguais

As minhas afirmações tendem a ser absolutas mas apenas por uma questão de ênfase.
Quando digo que toda a gente é igual refiro-me a comportamentos que me parecem transversais e cujas excepções são meros erros estatísticos e erros estatísticos não merecem tornar uma frase menos incisiva.

Por exemplo: eu não me dou bem com sextas-feiras mas sou, da minha experiência pessoal, um erro estatístico porque toda a gente adora sextas-feiras.
Percebem-me?

Dito tudo isto, sou capaz de detectar as excepções mas, com muita dor à mistura, não acerto sempre. Acerto a esmagadora maioria das vezes mas não sempre.
Não aprecio.

Há um gajo que trabalha comigo e com quem me dou realmente bem. É um encontro improvável de pessoas. Ele não foi abençoado com muitos neurónios. Não sabe nada das coisas que mais me interessam. É um faccioso benfiquista.
Aprecio, contudo, o facto de ser honesto e simples.
...infelizmente, por ter o tipo de limitações que descrevi, às vezes acha que diz a verdade mas não é o caso. Não está a mentir. Só não entende que o que está a dizer não corresponde à realidade porque vive dentro da sua confusa cabeça em que dizer é o mesmo que reproduzir a realidade.

Ora, nunca ouvi este gajo falar mal de ninguém. Quando digo falar mal não me refiro a denegrir mas apenas constatar factos. Há gente que é incompetente: nunca o disse. Há gente que é burra: nunca o disse. Há gente que cheira mal: nunca o disse.
É daquelas pessoas que não sabe porque nunca trabalhou ou bem, há pessoas que trabalham melhor mas assumir as palavras pelo que realmente são, nunca.
(seria mais um factor para não me dar bem com ele mas...).

Desde há umas duas semanas comecei a ouvi-lo falar mal de duas pessoas. A queixar-se de que não fazem o que deviam e que tem de andar sempre em cima delas.
Eu conheço essas pessoas. Ele não está enganado.

Contexto:
Ele e eu fazíamos parte da mesma equipa e a restante equipa eram essas duas pessoas. 
A equipa, neste moldes, durou uns oito meses e desmembrou porque eu saí e entrou outra pessoa.
Durante estes oito meses nunca o ouvi queixar-se delas. 
O que mudou?
Eu percebi mas não queria acreditar.

As equipas têm um determinado número global para atingir e este número global é decomposto em números individuais.
Se um indivíduo atingir um número, atinge o seu objectivo;
Se todos os indivíduos atingirem o seu número, a equipa atinge o seu objectivo;
Se nem todos os indivíduos atingirem o seu número mas um deles o superar o suficiente, a equipa atinge o seu objectivo.

Este equipa - a minha antiga equipa - nunca esteve dois meses sem atingir o seu objectivo e este gajo de quem vos falo apenas atinge o número dele se o número da equipa for atingido...e está há dois meses a seco, por isso.
Eu saí há dois meses.
Eles não cumprem há dois meses.

Enquanto ele me contava o que o apoquentava, disse-lhe:
Pá, não é possível que elas tenham passado a ser incompetentes agora. Já eram antes, só que como tu ias comendo, estavas-te a cagar.
Enquanto os meus números compensaram a ausência dos números delas, era que se foda...agora...

Não achei que isto fosse acontecer mas aconteceu.
Doeu-lhe no bolso e quando lhe doeu no bolso começou a ver a realidade à volta dele.

Não acho bonito.
Acho Humano.
São todos iguais.

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