Funerais
Não há lugar que me seja mais desconfortável do que um velório.
Um funeral, em si, há-de ser pior mas não compareci a quase nenhum.
A minha ideia é a de que funerais são para gente realmente próxima. Imediata do falecido ou falecida. Felizmente, faleceram poucas pessoas que me são assim próximas.
Voltando:
não é a pesada presença da morte que me incomoda;
não é o sofrimento profundo que me desencoraja;
não é a comparência forçada e social de gente que se lembrou da pessoa uns anos depois que me faz olhar para o chão.
A morte, enquanto tal, não me incomoda.
Como a maioria de nós não tenho vontade de morrer e temo a horas mas não de forma paralisante.
Parece esquisito atento o debate que tenho tido com a minha finitude mas não é. O fim em si é-me desagradável mas o que me tem aterrorizado é o que não faço ou farei enquanto andar por cá.
O sofrimento, verdadeiro e justificado, não me agrada, claro, mas encaro-o com estoicismo. Estou lá sem grande esforço. Lamento o sofrimento alheio e partilharei.
...a parte social, fode-me um bocado a cabeça porque abomino hipocrisia...mas tolero porque, aqui, acho que tenho de tolerar.
Então, porquê o desconforto?
Eu não sou o gajo mais social capaz.
Não sei o que dizer. Não sei o que perguntar.
Normalmente, dou um beijo e um abraço e pergunto se precisares de alguma coisa. Qualquer coisa, diz-me.
...e depois, tudo para mim é humor e ambientes de tensão ainda são mais propícios a isso. E isto é difícil de navegar.
Hoje, entrei com outro gajo na câmara.
Esse gajo, entes de entrarmos, perguntou sabes do que morreu? ao que respondi negativamente. Acrescentei ...não pergunto essas merdas...
O gajo, mal cumprimentou a filha da falecida perguntou do que tinha sido.
Na minha cabeça, isto não é elegante e nem produtivo e nem altruísta.
Ela não me pareceu importar-se;
Ele nem hesitou.
Deve, ser eles que estão certos...
Eu?
F, se precisares que tome conta da A ou que fique com ela, diz-me. Com a idade dela acho que ainda me safo no shopping...as gajas adoram homens com crianças!
Ela riu-se.
Eu só sei fazer isto...
Por outro lado...encaro a morte como normal. Não a entendo como uma tragédia.
Podem dizer que sou insensível. Talvez seja.
Podem dizer que é porque não é comigo. Já foi. Não encarei como realmente trágico.
Obviamente, doeu-me. Mas o que mais me preocupava era o sofrimento anterior; se lhe tinha sido difícil. E não terá sido.
Esta pessoa que me era muito próxima escondeu o cancro de toda a gente até que tombou. Até lá, fez o que conseguiu fazer e bebeu o que conseguiu beber e fumou o que conseguiu fumar.
Ouvi muitos se ao menos se tivesse tratado!!!!
Nunca achei.
Achei, e acho, que fez o que lhe apeteceu enquanto pôde e preferiu isso a um sofrimento arrastado por tempo intedeterminado.
Não lhe levei a mal.
Acho que fez bem.
Para quem cá fica, é uma merda.
Mas, para mim, quando gostamos das pessoas, nós não somos o mais importante.
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