Acho que já vociferei contra a perda de valor das palavras e dos próprios conceitos.
Este muitas vezes lamentável acesso a tudo leva que se não conheça quase nada. É difícil continuar-se a ter cultura (da real) e interesse (do verdadeiro) quando se papa, por exemplo, tudo que a Wikipedia nos empresta; Wikipedia que é de fonte aberta e, suponho, a maioria de nós - ou muitos de nós - não sabe que se escreve basicamente o que se quer.
Eu sei que pareço um Velho do Restelo e fustigo-me sempre que me ouço a pensar algumas coisas que fariam o meu eu de 16 anos revirar os olhos.
Chateia-me que se tenha, sempre, de ser razoável e respeitar as vontades das crianças; os Pais não são amigos, as crianças não são adultas; os Pais não são fazedores de vontades, são educadores e as crianças não são clientes, são gente em quem tem de se mandar.
Chateia-me que os cães tenham mais tempo de antena, quando mal tratados, que as pessoas; chateia-me um abaixo assinado e uma marcha porque se abateu um cão com medo que transmitisse uma doença que mata milhares de pretos por ano mas em prol de quem não se marcha.
Chateia-me que se use o conceito de culpa num animal dizendo que não a tem esquecendo-se que para se ter culpa é preciso ter-se consciência e os animais não a têm.
Chateia-me que me olhem de lado porque fumo como se isso fizesse de mim um anormal nojento quando essas pessoas (algumas delas, pelo menos) são capazes de violentar o corpo para caber um número abaixo ou chamar gorda a uma gorda como se ela desconhecesse que o é.
Chateia-me que se ande com o ser eu mesmo na boca mas sem coragem de o ser realmente por medo de arriscar o cu; não se tem de ser corajoso mas convém não se fingir junto de quem sabe ser mentira.
Há uns anos, aquando da campanha contra/a favor do aborto vi uma gaja a criticar mulheres que abortam e eu sabia que ela tinha ido a Badajoz e, como todos sabemos, um aborto no estrangeiro não conta como tal.
Há meia dúzia de meses fui apanhado no meio de um grupo de pessoas em que conhecia uma delas a fundo. Pois ela sabendo que a conhecia a fundo, sabendo que tinha chifrado o anterior namorado com alguém que ali estava deu-se ao desplante de criticar uma pessoa que nem conheço porque andava muito decotada e isso não era decente para o namorado.
Há bastante tempo tive uma alteração com um gajo que era, supostamente, muito perigoso. Eu nem sabia que ele era muito perigoso mas apanhou-me em estado de cegueira e disse-lhe abres mais uma vez a boca e rebento-te todo! e não falou mais; umas semanas depois, o mesmo gajo, encontrou-me num shopping com uma amiga e ele estava com dois amigos. Terá pensado é agora porque estava com uma mulher e ele com dois otários. Veio ter comigo e disse-me daquela vez não estiveste bem...e estavas com os teus amigos...não gostei (sendo que não me lembro se estava mesmo com amigos e não me lembrava, também, quando mo disse).
Contou com a força dos números e com o facto de eu estar com uma menina. Pensou mal. Disse-lhe se pensas que tenho problemas por ter os teus amiguinhos aí (com eles a ouvirem) enganas-te. Se temos alguma coisa para resolver é agora!!!
Pois... não era bem isso que ele queria dizer...no fundo, queria dizer-me que ficou magoadinho...
Puta que o Pariu. Até hoje cumprimenta-me com muita simpatia sempre que me vê e continuei a ouvir histórias de como ele é valente.
Só és maluco com quem é menos maluco que tu dizia-me o meu Avô e tinha muita razão.
Isto parece um chorrilho de coisas desconexas e pode até ser mas na minha cabeça faz sentido.
Se se aplica qualquer palavra a qualquer coisas ela deixa de significar coisa nenhuma.
Uma pessoa gorda é gorda, não é forte;
Uma pessoa feia é feia, não é simpática;
Uma pessoa com mau feitio não tem um feitio especial;
Uma criança mal educada não tem uma personalidade forte;
Uma coisa de que se gosta não tem de ser uma coisa que se ama (sapatos, tigelas, saias, livros, minhocas, telefones, cafés...);
Uma pessoa que desfilou uma vez não é modelo;
Uma pessoa que trabalha muito não tem sorte quando as coisas lhe correm bem.
....mas depois, um gajo como eu que gosta de usar as palavras para o que elas servem (ou, pelo menos, tenta fazê-lo consciente de que nem sempre o consegue) é que é picuínhas. Sim, eu que gosto de perceber o que me dizem e, por isso, tendo a ter atenção às palavras usadas para me transmitir o que se quer é que dou demasiada atenção a estas coisas.
M-I-S-A-N-T-R-O-P-O!
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