Este Sábado, enquanto começava o livro do Taleb mantive a televisão acesa, como faço sempre e dei conta que estava a dar um filme chamado State Of Play.
Este filme é protagonizado pelo Russel Crowe e pelo Ben Affleck, sendo que o que existe de comum entre eles, além de protagonizarem este filme, é que são manifestamente sobrevalorizados e maus actores na mesma medida em que são sobrevalorizados.
De todo o modo, o filme não era mau, tendo sobrevivido às interpretações, coisa que acontece com raridade mas, ainda assim, acontece.
O livro do Taleb, o filme e eu ligam-me, o que é sempre divertido, para mim.
No filme, ocorre um triângulo amoroso entre dois amigos e uma gaja que se casou com um dos amigos mas queria o outro.
Esta gaja foi ter com o que ficou de fora e disse-lhe que se ia divorciar, tendo ouvido que ela vivia num mundo que já não existia, o tempo deles tinha passado. Ela irritou-se um bocado e respondeu-lhe que ele nunca se tinha chegado à frente em altura nenhuma.
Ele não lhe respondeu; pareceu-me que ela tinha razão; pareceu-me que ele não tinha de se ter chegado a lado nenhum; pareceu-me que nem para ele o mundo de que ela falava já tinha acabado.
O livro do Taleb, tema recorrente e que me agrada nos livros dele, é sobre a imprevisibilidade do imprevisto. Isto dito assim parece parvo mas se atentarmos que o maior esforço que se faz (não apenas individual, não apenas colectivo mas de tudo e todos) é prever o que vai acontecer e acreditar que isso é possível, a parvoíce parece menor.
Como é bom de ver daquilo que por cá vou colocando, interessa-me muito as situações e actos pouco relevantes; aquilo que acontece e não tem grande impacto no mundo; o eu e tu que não vão acabar com a fome em África nem levantar o Nikkei....e na verdade, sou eu e tu que podemos acabar com a fome em África e levante o Nikkei.
Como vivemos numa era de gráficos e algoritmos, é comum esquecer que o que interessa - tanto para se prever como para se conhecer como para se ser bem sucedido... - são pessoas e o maior número de actos das pessoas são actos vulgares e a soma dos actos vulgares revelam quem as pessoas são e são essas pessoas que, de vez em quando, tomam decisões nada vulgares mas que são conformes com a sua vulgaridade.
Eu sei que parece metafísico mas não é.
Para não meter outros ao barulho:
É mais provável que façam um bom negócio comigo se estiver de bom humor e posso estar de bom humor porque a noite de ontem foi um espanto, porque algo de bom aconteceu a quem eu gosto, porque o almoço foi exactamente o que queria que fosse... e o inverso é igual.
Milhões podem ir ao ar porque o gajo discutiu com a mulher e apenas por isso.
Ah, uma coisa é vida pessoal e outra é a profissiona! É o caralho! Tudo é tudo.
O que tem que ver o Taleb e a cena do filme?
Ela previu - eventualmente bem - que não fazia sentido manter-se à espera de quem não se ia mexer;
Ele previu - eventualmente bem - que não tinha que se chegar à frente porque se ela estava indecisa não sabia bem aquilo que queria.
Decisões sobre pessoas que alteram tudo;
Decisões com informação incipiente que decidem tudo.
É muito comum achar-se que as pessoas são testadas em momentos de pressão mas não estou certo desse método.
Não podemos, infelizmente, ser excepcionais o tempo todo, pelo que o que mais somos é comezinho; o que mais somos é a decisão do que queremos jantar e que calças vestir e o que mais diz de quem se vê no dia-a-dia é isto mesmo.
Interessa que um gajo entre num edifício a arder para salvar uma criança - e terá sido o único a fazê-lo quando poderia ter sido outra pessoa - se, dia-sim-dia-sim trata mal todos os empregados que o servem?
Será ele digno de admiração porque teve uma acto admirável?
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