Saturday, October 03, 2015

O Facto Negativo

Facto Negativo é uma cena usada em questões jurídicas que se prendem com a impossibilidade de prova por quem alega; o mais clássico, se bem informado estou, prende-se com as dívidas: quem paga pode pagar que pagou mas quem não recebeu não tem como provar que não recebeu.
Lembrei-me disto à pala da injustiça que a vida em si encerra.

Se olharmos à volta, constatamos que só os sucessos são premiados e só a resolução de problemas em momentos de tragédia são encarados como heróicos.
Por que é isto injusto?
Bem, porque as mais das vezes os sucessos fazem-se em cima do insucesso alheio e prévio e esse insucesso alheio e prévio mais do que não celebrado e mais do que criticado às vezes destrói. Pensem, por exemplo, no gajo que elimina hipóteses, ao errá-las, e ao que descobre a solução porque muitas das opções anteriores foram desconsideradas.
Pensem, por exemplo, no exército que de nada serve enquanto dele não se precisa - raciocínio não muito diferente para os bombeiros - mas que é fundamental quando a coisa aperta.
Pensem, por exemplo, no gajo que pudesse ter inventado um sistema que evitaria o 11 de Setembro e que, por isso, não estaríamos a falar de um 11 de Setembro que não existiu.

Há um gajo que concorreu, há pouco, para o senado americano e fez uma campanha parecida com o que todos os outros fazem quando, em tese, poderia ter feito uma diferente, caso a vida não fosse injusta.
Este gajo foi o responsável pela obrigatoriedade do uso de cinto de segurança. Ora, quantas vidas se salvaram e, indirectamente ou nem tanto assim, este gajo salvou? Seguramente muitas mas o que acontece é que podiam ter morrido muitos não é suficientemente impactante porque não morreram...
O House disse, uma vez, Morrer muda tudo, quase morrer não muda nada e, como de costume, não estava errado.

Saindo, agora, de aspectos por vezes demasiados transcendentes para serem entendidos (o que é uma questão, em si, muito parecida com a do tal Facto Negativo), vamos para um que deve tocar a todos: Os Relacionamentos.
É claro e óbvio que as histórias que ouvimos e contamos prendem-se com gente que salvou o casamento; gente que terá feito grandes gestos, que terão mudado comportamentos, que terão deixado de encornar...mas nunca ouvimos nem contamos histórias de gente que nunca teve de salvar o casamento. E não é isto que se quer?
Aparente e realmente parece ser necessária uma tragédia para ter importância e não devia.
(foi assim que uma vez me disseram que não estavam felizes e com isto tentaram dramatizar e esperar que eu me mexesse. Mexi-me, fui-me embora).

Estaline dizia que algumas mortes são uma tragédia e que milhares são estatísticas (parafraseei). 
Estava enganado? Lamento muito mas não...
Quantos migrantes bateram a bota antes de ter sido fotografado um gajo a sair do mar com uma criança (UMA) nos braços?
Que diferença faz uma? Tendencialmente, nenhuma; Realmente, toda.

E agora, o pior de tudo:
Poderá este reconhecimento levar-me a ser amargo e tentar mudar o mundo?
Não, nem uma coisa nem outra.

Gosto de saber isto e de encontrar a parvoíce mas o importante, no fim de contas, é isto: RESULTADO.

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