Saturday, September 26, 2015

INQUIETUDE

Já há uns tempos falei disto e do que representava nos meus sonhos quando era miúdo.
Voltou.

Antes de sair para ir à dentista (ligeiro interregno para falar de Dentistas)

Ninguém gosta de Dentistas é uma coisa que ouço com muita frequência quando me refiro a estes profissionais. Esta reacção vem sempre em reacção ao mau estar - extremo - que me causa lá ir.
...só que ninguém acerta no porquê de me custar tanto e hoje estive a pensar nisso.
Não é a dor que me incomoda, a minha relação com ela é muito tranquila; já me recolocaram ossos no sítio e arranjaram lascanços em outros, sempre sem anestesia; já levei mais pontos do que os que consigo contar e levo-os, desde há bastante tempo, a seco e peço para não ser anestesiado; já andei dias de costela partida que, entretanto, se arranjou e acho que nenhum dos meus dedos das mãos se salvou a uma fractura. Nada disto me chateia.
Então é o quê?
Bem... sinto-me muito exposto e desprotegido quando estão com uma broca na minha boca e de boca escancarada. Pode-se pensar que é o mesmo quando me recolocaram cenas e quando me coseram estavam com uma agulha em vários lugares, certo? Errado. Em qualquer daquelas situações eu sentia que podia, de a coisa azedasse, levantar-me e ir-me embora, a bem ou a mal.
No Dentista não consigo sentir isto.

Poder-se-ia pensar, também, que tem que ver com o facto de ser envergonhado, daí temer exposição...não ocorre.
Há uma semana, estava num jantar em que não sei bem porquê (não me lembro mesmo!) senti que me estavam a desafiar a tirar a roupa. Qualquer coisa que tivesse que ver com isto porque achavam que isso me causava constrangimento. 
Sem que tivessem tempo de proferir mais uma sílaba, estava sem polo, em tronco nú, e ainda perguntei se chegava, enquanto agarrava o botão das calças. Disseram que sim.

Ah, e não era uma coisa de homens. Havia mulheres e homens, mais novos e mais velhos mas não havia crianças.

Os Dentistas fazem-me sentir muito pior do que estar despido em público, fazem-me sentir frágil e susceptível a ataque e eu odeio essa merda com toda a força que tenho mas que não lhes consigo aplicar.

- Pronto, K, agora precisa de voltar daqui a um mês para fazer cenas.
- Pois, não vai acontecer. 2 meses, no mínimo e olhe lá!

São 2 meses de paz...
(e...de volta)

...estava onde não gosto de estar.
Para se ter uma ideia, não estava certo que fosse chegar ao consultório porque não estava certo de conseguir guiar. Não é uma tremedeira que se me dá, é mais o oposto ou, então, a luta para controlar a inquietude dá-me para o contrário: imobilidade.

Então, esta coisa que me assola de vez em quando é como um vulcão que não explode, o magma só anda lá dentro a bater contra as paredes a causar alvoroço e com vontade de rebentar. Como  não acontecem coisas boas com a erupção de vulcões, tento ficar quieto e, honestamente, a tensão chega ao ponto de evitar pestanejar. 
Lá saí, sempre a achar que não chegaria, e lá fui em silêncio, sem rádio, sem atender telefonemas, sem responder a mensagens e, quando conseguia, sem respirar aceleradamente. 
Lá cheguei e arrancaram-me palavras a muito custo. 
Pus-me na minha posição de Dentista - deitado como um morto com as mãos em cima do estômago mas em vez de ter as mãos dadas aperto o antebraço esquerdo com a mão direita - e, quando me levantei, tinha os cinco dedos da mão direita marcados no braço esquerdo (ainda os tenho).

Não podia voltar para casa - não voltei;
Não devia falar ao telefone - tive de falar e não correu bem em nenhuma das vezes;
Não posso estar parado mas não devo ter companhia - estou a ter sucesso em ambas as empreitadas;
Não convém que alimente este estado porque, se o fizer, demora muito a passar - tem até à hora do jantar porque depois vão acontecer coisas, a bem ou a mal.

Ontem disseram-me que deve cansar estar na minha cabeça (e cansa);
Esta semana que amanhã termina, teve, a dado momento, a seguinte troca de palavras:
- K, se precisares de alguma coisa, o que quer que seja, avisa!
- Ok, se precisar, eu aviso.
- Avisas... tu nunca precisas de nada...
- Foda-se, mas isso é uma coisa má?! Era preferível ser carente e precisar de apoiozinho?!
- Era preferível seres mais carente do que és e precisares de mais apoio do que o que precisas... uma pessoa sente-se imprestável contigo, de vez em quando.
(não é espantoso? Se as pessoas precisam de coisas, são um peso; Se as pessoas não precisam de coisas, são um peso)
Há uns tempos, houve outras que foram mais ou menos neste sentido:
- Isso de não precisares de ninguém mas só quereres é insuficiente.
- Ah? Mas... é melhor depender?! É melhor precisar?!
- Sim. Da maneira que pões as coisas, fica a parecer que se te cansares, vais-te!
- Sim, é isso que faço... não percebo, exactamente qual o problema. Será melhor depender para ter de ficar?!
- (silêncio) parece que à mínima coisa que aconteça vais-te embora! (só para que não restem dúvidas, isto foi um Sim).
- Não consigo entender o que no meu comportamento revela que eu sou de abandonar pessoas por motivo nenhum ou, vá, por um motivo fútil.
(Não houve resposta a isto porque nada no meu comportamento revela isso mas precisamente o seu contrário)
(não é uma maravilha?! Esta troca de palavras não é extraordinária nem esquisita; sinto - ou sei - que o mais comum é que as pessoas queiram sentir-se seguras para além do gostar, querem que as outras tenham a perder para pensarem duas vezes antes de bazar e, embora sem o admitirem, preferem que os outros fiquem contrariados do que vão embora.)

Bem, espero ter ficado melhor mas acho que ainda não aconteceu.
Pocilgas, fechem as vossas filhas!

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