Chuva
Gosto de chuva. A chuva ajuda-me.
Uma vez, há anos, veio uma amiga visitar-me no inverno e disse-me que o tempo estava muito nublado e concordei porque estava mesmo mas apressei-me a dizer-lhe que era o melhor tempo para ver a minha cidade porque era o que mais se adequava a ela.
A chuva tem algo de semelhante no que a mim diz respeito e provoca-me sensações boas e, até, recordações do mesmo tipo.
A chuva ajuda-me a dormir, o som do choque com a janela embala-me;
A chuva ajuda-me a descansar, o negrume e o dilúvio fazem-me querer estar quieto e a fazer coisa pouca e coisa pouca poupa o músculo mas liga as pessoas, quando lá estão, e abre a mente, quando lá está.
A chuva faz-me querer ficar na cama e eu raramente gosto de estar na cama e momento que não a dormir.
Com chuva já fiz das viagens mais agradáveis da minha vida.
Com chuva já estive horas sentado no passeio com quem, naquela altura, queria estar.
Com chuva já vi a minha tristeza raiar o impossível para a seguir se esvair com ela.
...e algo que tem o condão de me envergonhar porque é demasiado etéreo e tenho dificuldades com o etéreo - por exemplo, para cavar ainda mais o buraco onde me meti, entendo o Amor como entendo Deus, uma presença não palpável mas difícil de negar - é o facto de sentir que a chuva lava por dentro e por fora.
Talvez seja uma projecção do facto de não conseguir chorar e tanto ter ouvido que lava a alma.
Eu acho que o Mundo acorda mais limpo depois da enxurrada e eu também.
Ps. não fumei nada, hoje. É esquisito mas resulta de ser sexta acrescido de ter trabalhado mais do que era preciso no resto da semana e estar há uma hora a pastar.
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