Desta Vez, Logo a Abrir: Não Fumei Nada (além de cigarros)!
É muito chato o determinismo, especialmente para quem tem problemas com a autoridade mesmo quando essa autoridade é interna e, por isso, auto-infligida.
É muito comum ouvirmos que é uma chatice o esquecimento. É chato esquecermos números de telefone, é chato esquecermos datas, é chato esquecermos a matéria sobre que versará o exame a realizar, é chato esquecer um compromisso... e tudo isto é justo porque, conscientemente, não queremos que nada nos escape.
O preço deste esquecimento, contudo, é bem pago.
(já por aqui rolou a explicação fisiológica da necessidade e benevolência do esquecimento que o cérebro impõe, caso que ilustrei com o melhor exemplo que conheço: o esquecimento, pelas mulheres, daquilo que dói dar à luz, pelo que não voltarei ao tema)
Outro sinal daquilo que me parece uma imagem de gente sã e esclarecida é agradecer este esquecimento. Tomar consciência das virtudes de não se lembrar de tudo como mais valiosa do que não se esquecer de nada porque, a dada altura, a memória, se muito presente, é mais um fardo do que uma bênção (ia usar maldição em vez de fardo mas pareceu-me demasiado dramático).
É um sinal de desenvoltura mental conseguir representar que é bom esquecer quando todas as nossas células nos empurram para o contrário; é um sinal de maturidade entender, aceitar e, até, querer que o célebre quem bate esquece mas quem apanha, não. Às vezes, que não serão tão poucas como isso, é melhor esquecer que apanhámos mesmo correndo o risco de apanhar de novo.
....e de volta à minha estupidez.
Acabo de elogiar quem entende as vantagens de não se lembrar de tudo, mesmo à custa de se esquecer o que se não quer;
Acabo de demonstrar consciência de que o caminho para se ser mais feliz há-de ser este: o do esquecimento que, se fecharmos os olhos, se coincide com o do perdão;
E no ponto final desta frase revelarei a minha incapacidade, até hoje, de fazer o que me faria bem, à imagem do que faz bem a todos.
Quando foram descobertas pessoas que se lembravam de tudo sobre as suas vidas (TUDO!!) foram alvo de admiração porque, afinal, conseguiam o que todos achávamos querer: Nunca Esquecer.
Depois de uma festarola de elogios e admiração, veio uma outra face da mesma moeda: Nenhum deles conseguia manter, por exemplo, uma relação durante muito tempo.
Estranho? À partida, sim, mas se perdermos meia dúzia de minutos...
Então,
o sentimento devastador de sermos agredidos ou desiludidos ou traídos ou desapontados (mais devastador para uns do que para outros, claro) tenderá a mitigar-se com o tempo. O desapontamento de hoje não será sentido da mesma maneira daqui a 1 ano, certo?
Certo se conseguirmos esquecer.
Para as pessoas que têm aquele defeito (É UM DEFEITO), são desapontadas todos os dias e para sempre durante o resto das suas vidas. Será sempre presente porque foi sempre agora; não esquecerão uma dor ou um desgosto que ocorre constantemente porque tudo foi gravado, quase literalmente gravado.
E não houve - nem sei se há - relacionamento que aguente a falta de esquecimento e a erosão da memória.
Sou um trabalho em evolução.
Um dos sinais dessa evolução é que sou capaz de reconhecer, hoje, que é possível que seja melhor esquecer mas incapaz de o fazer automaticamente porque está, ainda, entranhado.
Hoje, tento controlar e relativizar.
Não é que exija perfeição aos outros mas exijo-me (ainda que o tente fazer cada vez menos) não me pôr a jeito.
Problema detectado e problema a ser tratado.
Agora....sucesso na empreitada....
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