Comportamento Condicionado
As condicionantes invisíveis são um assunto que me é muito querido e, sempre que dou uma volta por isso, acho que é mais querido do que deveria ser.
Mais uma das incontáveis vantagens da ignorância é a capacidade de desconhecer o que, não raras vezes, merece ser desconhecido.
Muitos responderão que isto que acabei de escrever pode ser parvo porque para melhorar ou ultrapassar comportamentos que nos prejudicam o melhor é conhecê-los...e estarão parcialmente certos.
Se é verdade que só conhecendo se pode altar não o é menos que isto nem sempre acontece; quer porque não temos força para isso quer porque optamos por não os alterar (não é bem a mesma coisa). Assim, o melhor seria podermos ter noção dos problemas que conseguiremos ultrapassar e não ter noção dos problemas que não conseguiremos ultrapassar, o que é uma contradição nos termos e matéria onde se poderia gastar um dos desejos que o génio nos concedesse.
Por exemplo:
Há mulheres que têm tendência para homens que abusam delas e algumas delas sabem que têm essa tendência e continuam a laborar no mesmo erro.
As que não conseguem ver a tendência, culpam o devir;
As que conseguem ver a tendência, culpam-se.
...é melhor culpar o devir quando não se consegue resolver um problema.
Até aqui, falei do mais comum dos problemas que é laborar no erro mas há um outro manifestamente mais chato.
Se erramos e sabemos que vamos errar a coisa é mais ou menos clara; ter noção do erro e tentar escapar-lhe pode ser mais desgostoso.
A tendência natural quando alguém puxa uma corda a que estamos agarrados é puxá-la também, pelo que quando temos noção de um determinado problema de que padecemos corremos o risco de fazer o mesmo, ou seja, tentar contrariar o comportamento.
Mas isso nada tem de errado, certo?
O princípio, não. O resultado...
Imaginem este cenário:
Vocês não confiam em ninguém e sabem que isso é claramente exagerado porque há gente confiável. Vocês sabem disto e já viram gente pegar fogo, na vossa vida, porque não confiaram nelas como deviam mas, provavelmente, não podiam.
Vocês são pessoas atentas e detectam o problema, então, numa qualquer próxima oportunidade vão contrariar a vossa desconfiança natural tentando racionalizá-la, ou seja, tendo atenção ao que pode, do nada, despoletar o demónio que vos habita.
Problema:
nesta ânsia de melhorar, racionalizam demais.
Olham para onde veriam incerteza e pensam hmm...lá estou eu a imaginar merdas! FDP de trauma! Vá de retro! mas, infelizmente, não veriam mas antes vêm e ignoraram porque cegos pela vontade de ultrapassar o comportamento condicionado de que sofrem.
Num dos episódios do House - já não falava dele há demasiado tempo - ele acertou numa determinada doença mas fê-lo por instinto, ou seja, nada de concreto indiciava que ele poderia estar certo.
Então, usaram o que ele prescreveu mas não lhe disseram. Melhor: disseram-lhe que não tinha resultado.
Quando o Wilson foi confrontado com o porquê de o ter feito, respondeu porque se lhe dissermos, nestas condições, que ele estava certo ele nunca mais duvidará de si!
A dúvida quase fodeu o House.
A dúvida pode foder-nos a todos.
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...e na sequência de coisas que se aprendem a apreciar:
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