Monday, August 22, 2016

CORRE!

Há uns tempos, contaram-me que um determinado casal - que não conheço - estava nas ruas da amargura e que a merda iria, quase de certeza, arder.
O motivo do arder era e é mais ou menos desconhecido mas, quando me falaram, parecia ser resultante de uma depressão por parte do gajo.
Quem me contou achou esquisito mas a mim, sempre considerando que pode ser uma das muitas mentiras que se contam para esconder a verdade do que se passa (e que, normalmente, é outra gaja ou outro gajo), nem tanto.
Tenho convívio directo com gente que sofre de depressão crónica e isso é, completa e absolutamente, uma merda e é uma merda ainda maior quando recusam tratamento e o problema em sim, o que nem é pouco comum.

Como sei, mais ou menos, aquilo de que se fala, só disse QUE CORRA!

Eu sei que isto é uma opinião muito desagradável de se dar e sei, também, que poderá ser visto como largar uma pessoa de quem se gosta - coisa que me causa arrepios! - em benefício próprio.
A minha visão, ainda assim, é outra:
Muitas das vezes, eu e vocês, temos tendência a achar que os melhores tempos ainda estão por vir e que é apenas uma fase, coisa que muitas das vezes até é mas a percepção que tenho é que não é tantas vezes como queríamos que fosse. O resultado, não poucas vezes, são duas pessoas agarradas a uma âncora onde apenas uma teria de estar e, o pior dos cenários, duas pessoas agarradas a uma âncora em que nenhuma delas teria de estar.

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Não me lembro onde, vi um estudo que revelava que gente deprimida estava mais perto da realidade, algo a que, mais tarde, foi dado o nome de Teoria do Realismo Depressivo.
Surpresa? Não...

Parece-me, desde cedo, que o mais que podemos aspirar são momentos de felicidade mas já não felicidade e isto porque o que nos rodeia - entre Natureza e os Outros - não se compadece com o que transmite uma comédia romântica e nem com as histórias de superação e de sucesso.
Aliás, caso a realidade não fosse, em larga medida, depressiva não haveria necessidade de Além, um lugar onde a justiça existe e onde somos premiados pelo que de bem fizemos. Mesmo sem querer assim colocar as coisas quando pensamos em cultos, a realidade também os afectou: a vida é uma chatice e se queremos felicidade e cenas, o melhor é esperar por depois da morte.

Voltando:
os estudos do tipo que referi demonstraram que pessoal deprimido (não sei se muito ou pouco ainda que ache que não podem ser casos graves) está mais atento ao que acontece e tem uma maior facilidade em prever o que vem a seguir, o que faz sentido...
Em temos vulgares: alguém que acha que o Euromilhões nunca lhe vai sair estará, sem sombra de dúvidas, mais perto de estar certo do que aquele que acha o contrário.

O Mundo deve pertencer aos medianamente deprimidos mas quem se diverte são os patetas alegres.
Se soubesse o que sei hoje, quando me perguntaram o que queres ser quando fores grande teria respondido pateta alegre mas acho que só consegue atingir este objectivo quem não o tem nem o conhece.

E isto é tão mas tão à má fila que:
Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus (O Sermão da Montanha).

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Num plano mais pessoal:

Cada vez sinto como mais difícil perceber o que acontece por acontecer e o que acontece porque provoco.
Esta dúvida surgiu-me relativamente tarde mas, pelo que vejo, só o facto de ter surgido faz com que tenha acontecido muito mais cedo do que muitos outros para quem ela nunca dá as caras.

Isto traz consigo uma coisa muito chata:
sinto necessidade de analisar o que aconteceu e o que fiz para que acontecesse e, infelizmente, ainda não sou alguém que é incólume à culpa quando a sente como própria; ou seja, não é fácil fazerem-me sentir culpado mas é-me muito difícil perdoar-me daquilo em que sinto ser da minha responsabilidade.
E traz, ainda, uma outra coisa ainda mais chata:
quando não tinha consciência de que, ainda que subliminarmente, os meus actos provocaram determinadas reacções a minha vida era muito mais fácil.
Naqueles dias, que se foram, optava muito mais facilmente pelo CORRE porque o que não se entende deve ser destruído porque nada de bom daí advirá.
E traz, ainda, uma outra coisa ainda mais chata que a que precede:
mesmo depois de toda a análise e da decisão se a culpa é própria ou alheia, o resultado, muitas das vezes, é o mesmo: CORRE! só que como só se chega a esta conclusão depois de muito pensar, torna-se demasiado tarde para evitar consequências que poderiam ser evitadas se só os instintos nos preenchessem.

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Vamos tentar acabar com esperança!

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