Visto de Fora da Janela
K, sabes que no X há uma noite em que fazem um concurso de quiz? Temos de ir!!! Vamos limpar aqueles burros!
- Eh, pá. Eu gosto muito disso mas não é boa ideia, acho...se não ganhar vou ficar muito fodido!
Lido assim e conhecendo-me mal, seria de pensar que o meu problema é esse: tenho medo de perder.
Eu não tenho medo de perder mas não gosto nada. E dizer que não gosto nada é dizer pouco.
A prova que não tenho medo de perder é que competi em tudo a minha vida inteira e a coisa era (é?) tão má que por vezes estava a competir mas as pessoas com quem estava a competir não sabiam.
Então, qual o problema? Vamos dar umas linhas e voltaremos:
Umas horas antes do que descrevi no início:
K, vi um artigo de que ias gostar. Um gajo escreveu sobre o Phelps e disse que era incrível a quantidade de medalhas que ele ganhava mas era um problema: ele era obcecado!
Ele achou que isto seria uma luz para mim, como foi para ele. Não foi. Descobri isto há muito.
Lembro-me de há uns anos ter visto o Villas Boas a fazer uma corrida de carros para celebridades e vê-lo (e só a ele!) ir contra muros e dar cabo do carro porque queria ganhar.
Isto, sim, deu-me uma luz: o Mourinho era e é encarado como muito diferente do Villas Boas, e são mesmo mas têm uma coisa em comum: são gajos que só pensam em ganhar e, por baixo do verniz do Villas Boas e da sua educação têm o mesmo intuito e a mesma vontade.
Contei há uns tempos, por aqui, que o Pacquiao que fodia putas e apanhava bebedeiras era melhor e mais entusiasmante lutador mas quando se tornou um religioso fervoroso piorou.
...e voltando:
Eu não quero ir a concursos de quiz e evito, activamente, competição porque não gosto da pessoa em que isso me transforma.
Como os gajos que descrevi e muitos outros, não tenho paciência para falhar e quando começo a correr só penso em aniquilar. Não é divertido. Não é fixe. É um tormento que arrasa tudo o que me rodeia.
Infelizmente, como tenho uma profissão e ando na rua e tenho conversas, não consigo sair desta mentalidade competitiva.
Para se perceber como a coisa é má, só me interessa ganhar mais dinheiro na estrita medida em que isso revela que fiz melhor o meu trabalho que os outros e não porque, depois, posso ir jantar onde quero. Apesar de não o dizer e, em certa medida, me envergonhar, quando ganho penso FODAM-SE BURROS! mesmo para quem não é burro e mesmo para quem não merece.
Para tentar explicar ao ponto que isto chega:
Bem, vamos pedir 6 shots de tequilla! (éramos 3 e eu nem gosto assim tanto de tequilla nem de shots)
- K, só 6?! (dito para ter graça porque, à partida, eram o dobro dos necessários)
Tens razão... Por favor, são 9 (disse ao empregado). Satisfeito? Diz só 9 e vamos para 12!
Então,
quando posso, não me coloco em situações que me vão empurrar para isto. Eu não gosto disto.
É certo que é impressionante para quem vê de fora e dá sainete mas a minha vida é pior porque me rouba a paz que ando à procura e raramente encontro.
Por exemplo:
quando era miúdo e até meio da adolescência, concorri e ganhei concursos por escrever merdas e, depois, descontinuei porque no momento em que concorria perdia o prazer que me dava e dá fazer por fazer.
Deixava de ser uma o que parecia para ser outra coisa.
Aprendi pouco ou muito menos do que devia nestes anos que vão correndo mas isto tento com toda a energia que consigo: evitar situações que quando aparecem deixamos de controlar o seu desenrolar porque entramos em automático.
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