Sunday, August 14, 2016

Mais 3 Que Vocês!

Costuma haver uma hierarquia de amizades. 
Diz-se existir os melhores amigos, os amigos, os amigos de copos e, suponho, mais que agora não me ocorrem.
Só tenho amigos e só tenho 3 - esta conta não é exacta porque tenho mais 1 ou 2 com quem posso sempre contar mas que, porque a vida a isso obriga, tenho menos contacto - e daí o título: para os que pensam respondo que, provavelmente, tenho mais 3 do que vocês.

Há uns dias, quando fui sair encontrei 3 gajos. Desses 3 gajos, 1 deles nunca foi meu amigo mas os outros 2 foram e, entretanto, deixaram de ser.
1 deles deixou de ser porque a vida levou a isso, não me parece que tenha sido responsabilidade de nenhum de nós. A vida andou e levou-nos.
O outro deixou de ser porque não foi o que era preciso quando era preciso. Reconheço que não deve ser culpa exclusivamente alheia mas perderei duas linhas com este segundo caso.

Houve uma fase em que a coisa não estava impecável e, por ser quem sou, não pedi ajuda porque...não peço ajuda. Quer dizer, não peço ajuda nos termos tradicionais.
Ora, nesta fase, mais uma vez, por ser quem sou, desapareci muito fortemente do mapa, mapa onde se incluía o telefone e as saídas à noite e os jantares e por aí fora.
Pela 50ª vez, por ser quem sou isto deveria ter sido suficiente para se entender que alguma coisa se passaria mas, verdade seja dita, era preciso mais ou menos adivinhar.
Pensarão, então:
Ah, estás à espera que adivinhem e, porque não adivinharam, mandaste todos para o caralho!
E estarão errados na segunda parte da afirmação.
Embora aprecie que adivinhem, não espero que o consigam fazer mas o que me fez tirar a ficha da corrente foi uma outra coisa, uma outra coisa que me serve, ainda, nos dias de hoje e que cortou toda a gordura que tinha na minha vida:

Foi por esta altura que descobri que as pessoas não se querem cansar, coisa que é chata porque eu canso-me sem hesitar.
O que o pessoal quer - a maioria - é ter umas quantas pessoas com quem possam beber umas cervejas e que os acompanhem a sacar umas gajas à noite e a quem mandar os parabéns...e eu não preciso de companhia para nenhuma destas coisas e não ligo a darem-me os parabéns.

A cristalização disto foi quando o meu melhor amigo à data (sim, nesta fase também hierarquizava) me disse foda-se, não ligas nenhuma. Nunca telefonas. És uma merda! e não sabem o que isto me deixou de olhos esbugalhados.
Coitado, sentiu-se pouco valorizado quando quem andava metido na merda não era ele...
Não o culpo demasiado, só verbalizou o que os outros pensavam.

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Há momentos marcantes na vida das pessoas:
- lembro-me do preciso momento em que percebi que ia dar para ter sucesso a sacar gajas;
- lembro-me do preciso momento em que comecei a cortar gente da minha vida;
- lembro-me do preciso momento em que deixei de ter ilusões quanto à bondade e honestidade da humanidade;
- lembro-me do preciso momento em que deixei de admitir que me agredissem;
- lembro-me do preciso momento em que descobri que não tinha percebido o que deveria ter percebido anos antes e o que isso me doeu e me fez estar muito mais atento.

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O meu apreço pelo músculo que sobrou é muito e, de vez em quando, deixa-me orgulhoso de ser capaz de manter gente assim à minha volta.
Na fase que descrevi - brevemente, porque ainda me dói - estes três (haverá mais 1, para ser honesto) recusaram-se a desaparecer e, porque sabem que não gosto, também não invadiram. Só ficaram lá.

Esta gente percebe que as coisas não estão quando deviam sem ter de dizer e, mesmo percebendo, não perguntam coisas. Dizem olha, passa cá, tenho comida a mais para o almoço e isso chega.

Quando estamos juntos com mais pessoas, é comum estes estranhos ao círculo não perceberem, exactamente, o que se passa. Conhecem-nos e talvez também por isso não percebem muito bem a coisa.
Normalmente - 2 dos 3 são mulheres - tendem a pensar que alguma coisa se passa entre mim e uma delas porque o cérebro e a experiência diz-lhes que é a única explicação...mas não é.

Há, no entanto, algo que pode ser desagradável:
quando se tem um círculo tão pequeno, é mais difícil conseguir-se fazer o que muitos de vocês devem fazer com frequência com os vossos amigos: beber um copo, ir ao cinema, jantar...enfim. É mais difícil porque as pessoas têm coisas a fazer e as agendas são mais difíceis de conciliar quando são tão poucas.

MAS!

O que interessam os finos e os jantares?
Interessa quando acordas não estares sozinho e isso sim, é uma conquista.

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