Sunday, September 11, 2016

Insegurança?

Um amigo vai 3 semanas para a Índia e deixará em terra a mulher e a filha. Formulando isto desta maneira, parece que reprovo mas não o faço. E também não é pelo facto de ele ser meu amigo que não o faço. 
Não reprovo porque não sou ninguém para tecer comentários valorativos sobre o que funciona e o que não funciona na relação das outras pessoas. 
Eu sei, eu sei...isto parece uma cena demasiado new age para mim mas é assim que entendo - não desde sempre - o funcionamento do Mundo: se funciona, é assim que deve ser e não de uma outra maneira que possa parecer mais convencional.

Perguntei-lhe, contudo, o quanto lhe andava a foder a cabeça a mulher, sabendo, à partida, que seria muito.
Como previa: Muito.
O problema, disse-me ele, é que as pessoas são demasiado controladoras e isso fez-me pensar no assunto. Fez-me pensar no assunto porque, há pouco tempo, disseram-me que padecia de insegurança devido a um determinado comportamento.

(para que conste: lamentavelmente, tenho inseguranças que identifico mas, como em muitas das camadas que constituem a minha cebola, estão muito lá no fundo e não são visíveis, sendo certo que acresce que além de não serem visíveis são poucas)

Então,
como me parece abundantemente claro, não tenho a capacidade de querer um bocado ou de fazer um bocado nem, infelizmente, de ficar um bocado fodido;
como me parece, também, abundantemente claro, não gosto de correr riscos que apesar de parecerem diminutos podem ter consequências demasiado gravosas.

Quanto ao primeiro:
a minha experiência diz-me que o Mundo não é simpático e diz-me, também, que tudo tende a acabar mal (como termina a vida?), pelo que gosto de fazer e responder sozinho; gosto de resolver e complicar sozinho; gosto de saber que sou eu quem tem de se resolver e sou eu quem tem de se submeter às merdas que faço.
A consequência, lógica, do que acabo de vomitar é que todos nós - se o conseguirmos - somos mais independentes e rápidos quando sozinhos.

Como sei disto tudo e como já o comprovei empiricamente, quando me importo menos a coisa esmorece ou, talvez mais correctamente, já esmoreceu.
Nas ocasiões em que apesar de ter deixado claro que não tinha uma relação com uma determinada pessoa deixei que a coisa se arrastasse nunca me comprometi mais do que tinha previsto à partida e isto corria de mãos dadas com não, este fim-de-semana apetece-me estar sozinho ou agora estou com atenção ao filme que está a dar ou hmm...não me apetece falar disso. Talvez noutra altura mas não contes muito com isso.

Este comportamento - o oposto do que descrevi agora mesmo - foi chamado de Insegurança mas não o entendo desta maneira.
Não é falso dizer que eu engulo a vida de quem a quer partilhar comigo e que não dou muito espaço a que exista muito mais além de mim. Não é falso que isto - nesta medida - não é comum e pode, até ser excessivo mas...quando não é assim eu deixo de ter o apego de que preciso para achar que estou onde devo estar.
Quando tenho ou deixo que seja criada a distância que parece ser higiénica a minha memória histórica assalta a diz-me: Pá...mas isto assim não é muito melhor?! Não tens de te preocupar com nada...isto é simples e isto é bom.

É difícil perceber-se mas é assim.

Quanto ao Segundo:
Há uns tempos, contaram-me que o médico tinha dito a uma grávida que o sushi era desaconselhável por ser cru mas se fosse num lugar seguro...
Não. Não há lugares seguros. Mesmo que comer o peixe resultasse, no máximo, a uma unha encravada no bebé: Não!
O risco, pura e simplesmente, não compensa.

Eu não saio à noite para sacar gajas mas também não saio para não sacar gajas.
Não sou capaz de ir a um sítio que não me agrada só porque tem milhares de porcas mas também não tenho uma capacidade muito desenvolvida para dizer não a uma gaja que me queira comer (é uma coisa de natureza, lamento).
Então, quando não devo sacar ou ser sacado o que faço? Evito, activamente, situações em que tal possa acontecer e não dou quaisquer abébias.
Sim, poderia fazer o flirt que os gajos e as gajas fazem para se valorizar e sentirem-se atraentes aos olhos das outras pessoas. Podia. Não é assim tão grave, pois não?
É. Se eu embarcasse nisto eu sei que não voltaria na palavra. Eu sei que depois de dar corda não vou recuar porque isso é estúpido.
O que faço, então?
Nada.
O risco de e a consequência não compensam.

Esta é uma forma muito austera de viver mas é a que resulta comigo.
Melhor.
Esta é uma forma muito austera de viver mas a alternativa nunca funcionou comigo.

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O que dizer de alguém que prefere preservar-se a preservar outra pessoa?
Devemos entender que faz sentido porque quem se preserva é mais frágil do que a pessoa a preservar?
Devemos entender que não faz sentido porque não nos podemos colocar sempre em primeiro lugar independentemente das circunstâncias?

Depende da disposição que tivermos nesse dia, não é?

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