Tentando uma de Borges (sem o talento, obviamente)
Tenho pensado mais do que devia e o turbilhão não me ajuda.
Então, para parecer pouco e porque a minha paciência há-de esgotar, vamos tentar cenas curtas.
A Injustiça Natural de Ser Mulher
Ontem, uma amiga queixava-se de que de há uns tempos para cá se anda a chatear porque acha que os gajos a vêm como amiga quando, antes, também a viam com desejo carnal.
Disse-lhe que isso me parecia esquisito...não que ela não seja boa (disse isso mas não é boa...) mas porque a vibração dela não é para isso. Não olharia para ela num bar e pensaria hoje és tu porque dificilmente seria e eu tenho, sempre, a comida ao lume.
Para mim, isso de ser necessário envolvimento emocional é bom mas se ela preferia outra coisa, teria de se comportar mais como uma porca.
....
Horas depois, quando entrámos num bar fui (quase) violentamente assediado por uma gaja que lá estava e disse-lhe: vês?! Se queres ser sacada, tens de fazer mais como esta ao que ela me respondeu mas isso eu não quero e, pelos vistos, tu não a vais sacar ou deixar que ela te saque.
- Fico contente que não queiras ser assim mas para resolver o que te chateia, é isto! Depois, é irrelevante se eu a vou sacar ou se ela me vai sacar...ALGUÉM a vai sacar se ela continuar assim e, suponho que se não for um otário, não lhe vai ligar no dia seguinte.
Esta é uma das injustiças mas houve mais uma e esta não lha disse directamente:
Foi ter connosco uma amiga dela que eu conheço há algum tempo mas apenas de raspão. Olá e Adeus, nada mais.
Ora, essa amiga, há 5 anos, era muito bonita e excitava-me um bocado...coisa que não era recíproca.
Ontem, essa amiga continuou a ser bonita mas a idade não a está a ajudar e, em contrapartida, pareceu-me que a excitei um bocado...coisa que não foi recíproca.
O avançar da idade não ajuda as mulheres...
O avançar da idade ajudou-me muito.
O Amigo
(sem sair muito do primeiro assunto mas com a perspectiva masculina da coisa - Eu!)
Verem a pessoa do sexo oposto como amigo ou amiga foi um problema que me acompanhou até, talvez, aos 19/20 anos.
Este problema, vim a perceber, devia-se a eu não ser propriamente um estouro físico (ainda que bonito) e, o maior de todos, ao meu gosto e afinidade por mulheres.
Depois de conhecer mais ou menos bem uma mulher passava a preocupar-me com ela como um ser humano; reparem: não é que não seja mas, como viram no que descrevi antes, também querem ser um naco de carne e esta capacidade escapava-me quando as conhecia melhor. A minha tendência é agradar e fazer-lhes bem, pelo que parecia-me chato só as querer comer e não tentar ajudar (isto sem esquecer o facto de ser bastante gordo).
Houve um momento em que decido, consciente e expressamente, isto: foda-se! Acabou. A partir de agora, tomo um máximo de 3 cafés com uma gaja e se nesses 3 não rolar nada, a fila andou!
Esta regra não mais foi desrespeitada e transformou-se num tal bicho que, nos meus últimos tempos de caça desenfreada nem sequer troca de números de telefone aconteceram: deu, agora...deu. Não deu, agora...não vai dar. Nenhum de nós existe depois desta meia dúzia de horas.
Pareço ouvir-vos dizer ah, isso é uma tanga! As coisas só mudaram quando passaste a ser fisicamente desejável e estarão completa e redondamente enganados.
É certo que a minha alteração morfológica me facilitou imenso o trabalho mas não foi o factor de mudança.
O factor de mudança - facto que será verdade para quase tudo - foi a minha cabeça e o comportamento e não o exterior.
....não disse à minha amiga para fazer o mesmo, porque não quero que ela o faça, mas descrevi que é a solução.
As Costas dos Outros
(achavam que eram os assuntos que precedem a foder-me a cabeça? Nã...)
Há mais de uma década (detesto pensar que me lembro de coisas com mais de uma década...) fiz a minha primeira viagem que assim se pode chamar e, na altura, fui com mais dois gajos (depois disso, todas as minhas viagens que assim se podem chamar foram feitas sozinho).
Os 3 tinham relacionamentos:
1 tinha uma à espera que ele se decidisse há alguns anos;
1 tinha aquilo que viria a ser um relacionamento mas que, na altura, ainda não era exactamente isso;
1 não tinha um relacionamento até 4 dias antes da viagem e, na altura em que partimos, voltou a ter namorada (era ex, 4 dias antes).
O que tinha acontecido era óbvio!
Ela percebeu que ele ia para o outro lado do Mundo durante quase três semanas e, mais que isso, percebeu que ia comigo e com o outro gajo, gente de bem mas muito pouco celibatária ou, sequer, tímida; então, decidiu amarrar o borrego antes de ele partir e porque este borrego era o mais manso dos 3 a coisa resultou.
A mim tentaram fazer-me algo de parecido mas...ficou para segundas núpcias.
Por que resultou com ele e não comigo?
Não é difícil de explicar...
Ele achou que ela era sincera e Eu achei outra coisa. Não achei que ela estivesse a mentir mas pensei - e ainda penso - que era demasiado conveniente querer amarrar-me na altura em que eu ia bater a asa. Tivesse decidido tenta-lo duas semanas antes e talvez resultasse.
O resultado foi este:
Ele ficou a fazer desenhos na areia quando exposto a duas gajas completa e totalmente nuas numa praia deserta;
Os outros dois fizeram outra coisa.
(se tiverem curiosidade: eu liguei para quem me queria prender uma vez durante a viagem e dessa vez percebi que não estaria a ser muito conveniente porque devia ter mais gente à volta.
Só me voltou a ouvir quando regressei à pátria)
Por que Fui Eu Uma Besta Deste Tipo e Por que Ligo a Tempos?
Há uns tempos, conheci uma luso-francesa que queria, claramente, ser sacada e, porque me mostrou o pescoço, não me apeteceu perder tempo.
Quando a coisa pegou, disse-me não posso fazer isto...tenho namorado e o meu namorado vem visitar-me na quinta-feira (acho que me disse quinta-feira mas tenho a certeza que era sábado) ao que lhe respondi sabe-se lá o que vai acontecer até quinta...interessa o agora...
Ora, isto é uma tanga completa. Haverá pouca gente menos carpe diem que eu mas, neste contexto, era completamente irrelevante; convencê-la era só o que interessava porque passadas estas meia dúzia de horas não existira mais tempo nem convívio nem coisa nenhuma.
Na minha Vida a coisa não é assim. Na minha Vida quero que as coisas sejam naturais e apenas aconteçam.
Depois de verbalizar o que quero é, normalmente, tarde demais para o fazer.
Por uma lado, depois de verbalizar, é bom que aconteça; Por outro lado, acontecendo depois de verbalizar fico com a sensação que aconteceu porque verbalizei. É entre o mau e o péssimo, sendo que não sei qual delas será uma ou a outra;
Depois de a coisa começar a azedar, chateia-me que aconteçam coisas.
A idiotice humana de precisar de perder para dar valor dá-me voltas ao estômago. A idiotice humana de pensar que tudo se aguenta e que nunca é tarde é uma receita maravilhosa para ser sempre tarde demais.
A ex do gajo que descrevi percebeu que não ia ter rédea próxima e decidiu oficializar (este relacionamento não durou muito tempo).
A que se tornou, bastante tempo depois e por outros motivos, minha ex percebeu que não era com decisões convenientes que ia segurar-me.
Encontros
Gosto de ser avaliado e gosto, ainda mais, de saber como me avaliaram.
Muitos de nós fica tenso quando percebe que está a ser julgado e medido de cima a baixo, especialmente quando o avaliador poderá ter algum tipo de peso no desenrolar de uma qualquer situação que nos envolva.
Ora,
porque não tenho um sentido de auto-preservação particularmente apurado, não fico tenso mas antes divertido. Para ser honesto, as mais das vezes tendo a ser uma versão mais agreste de mim só porque...bem, porque ninguém manda e mim e porque quero que todos se fodam.
No último deste tipo até nem acho que fui mais agreste mas não fui uma coisa que não sou e a coisa que eu sou é, as mais das vezes, um bocadinho demais num primeiro contacto.
Houve duas coisas engraçadas (ok, a segunda não é engraçada mas prefiro descrevê-la assim):
1
Perguntaram-me como achei que tinha corrido e a pergunta bateu na trave.
No caso em concreto, não é particularmente relevante o que eu achei porque eu não estava à espera e nem contava com nada. Era para ser e foi. Eu não fico nervoso. Eu não fico ansioso. Eu não me preocupo com o que vão pensar de mim e preocupo-me pouco com o que acharei dos outros; desde que não me chateiem, não há um problema porque não ando à procura de amigos para a vida, daí...bem, cada um seja o que quiser, desde que me deixe em paz.
A pergunta que interessava era o que quem perguntou como tinha corrido achava que tinha corrido.
Ela sim estava imensamente preocupada com isso. Preocupada numa paralisia que me é impossível entender.
Teve pouco a dizer.
Sempre mais confortável quando são os outros.
Eu disse pouco.
2
Não se deu nenhum tremor de terra e o céu não caiu, como tanto temia o Asterix e seus companheiros.
Na verdade - como era, para mim, abundantemente previsível - o problema (se é que foi um problema. O termo pode não ser apropriado) foi o seu preciso oposto: Porquê só agora?!
A maioria de nós - de onde me excluo - mede a sua importância naquilo em que está envolvido na vida dos outros, ou seja: a maioria de nós sente-me assim tão mais importante como maior for a importância daquilo que consigo é partilhado.
Quando algo de relevante é escondido...bem, não precisarei de discorrer sobre isto.
Foi isso que disse.
Disseram-me que estava errado.
É possível que eu me engana - o que é triste - mas não é provável.
Com este tipo de merdas e com outras dentro do mesmo tipo, criam-se problemas onde eles não existem e não raras vezes problemas gigantes.
Não estou com vontade de me manter neste assunto nem no próprio post.
Estou a azedar um bocado.
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Já não ouvia há imenso tempo e gostei de reencontrar:
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