Wednesday, August 31, 2016

A Vergonha e a Culpa (e, depois, um bocadinho mais)

Estou a ler um livro sobre neuro-ciência (quando me perguntaram o que estava a ler respondi isto mesmo e foi feito um esgar de dor. Sim. Saber ou querer saber cenas é chato mas ler analfabetos funcionais porque vendem muito...enfim).

Algumas das coisas que estou a ler são bastantes interessantes mas a maioria delas surgiram-me como intuitivas, ou seja, coisas que não saberia explicar - e agora sei mais ou menos - mas que entendia como consequências naturais.
Felizmente, apareceu a questão da Vergonha e da Culpa e deu-se uma luzinha do tipo caralho, como não me tinha lembrado disto?!, aquela luzinha que alegra as minhas leituras.

Então,
aparentemente, o sistema que controla a culpa e a vergonha é mormente o mesmo;
as expressões físicas da vergonha e da culpa são semelhantes;
a maior diferença será o facto de uma ser pública e outra privada (disto não me tinha lembrado e a culpa, que nem tanto a vergonha, é um tema que me interessa).

A Culpa desagrada-me muito e castiga-me muito. 
Poderão, então, pensar que me sinto culpado com frequência e estarão enganados. A perspectiva da Culpa é-me tão pesada que faço tudo o que posso para a evitar. 
Não tenho qualquer problema em fazer mal a alguém nem em destratar nem em ser antipático e, no limite, mal educado; o meu problema só surge quando faço alguma destas coisas sentindo que não o devia ter feito e, por isso, tenho muito mas muito cuidado.
Ainda hoje, volvidos muitos anos sobre algumas situações, tenho esgares de dor visíveis quando me recordo de uma idiotice que fiz. Não me passa. É como ferro quente gravado no cérebro.

A Vergonha é-me quase completamente desconhecida.
A única coisa que me deixa desconfortável - não sei se envergonhado será o nome certo - são elogios que entendo não merecidos e determinados tipos de declarações. Felizmente, porque nem nos elogios nem nas declarações sou comum, é difícil acertar-se no que me deixa à rasca.

De todo o modo, e voltando, não sofro de Vergonha e isso pode ter que ver com o facto de não me sentir culpado com frequência.

Outra explicação, mais rápida e talvez mais certeira é que a minha interioridade pode castigar-me muito violentamente mas o que os outros acham ou pensam é-me quase completamente irrelevante (escrevi quase porque há uma ou duas pessoas cuja opinião me interessa mas mesmo essas não têm grande interferência com o que, posteriormente, decidirei).

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Como sou um bocadinho extremado nas coisas que me interessam:

Há uns posts colei a última cena do filme sobre o Noel Rosa e, naturalmente, anda em loop desde aí.
Depois, andei a rodar com mais força o reportório que conhecia, já, relativamente bem e dei-me conta disto:

Os sambas do Noel são alegres. Basta ouvir o Gago Apaixonado e o Com que Roupa, por exemplo, onde é usada parte do hino nacional brasileiro.
Só que, depois, a mesma pessoa escreve Último Desejo (que é a da cena), uma coisa de cortar ao meio qualquer um.

Ora,
sendo certo que não considero Último Desejo triste mesmo por se referir a algo muito grande que existiu, é verdade que - ainda que a última estrofe tenha graça - a alegria não anda por lá aos bailaricos.

O que revelará isto do Noel e de muitos de nós, que não todos, felizmente?
Bem...
um gajo pode brincar com tudo e dar importância nenhuma a coisas que outros terão como sagradas mas há sempre uma parte que o humor só poderá abraçar muito ao de leve.
Para o Noel, e para outros, será o Amor mas pata todos será aquilo que não temos particular gosto ou vontade de mostrar. 

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