"Senão Ficavam a Saber o Mesmo que Eu!"
Há bastantes anos atrás, estava o meu Pai a queixar-se da entrada de um chefe novo. O chefe era novo em mais do que 1 sentido:
a) acabara de entrar na empresa;
b) era mais novo que o meu pai (acho que por um bom bocado);
c) seria, mais ou menos, recém-licenciado.
O meu Pai já trabalhava há muito na cena e o outro gajo, também pelo que descrevi, não.
Nestes casos, como vim a descobrir, isto não é esquisito. Quando comecei a trabalhar, as pessoas que faziam parte da estrutura (adoro este termo!) e que me eram subalternas, além de muito menos instruídas em termos de habilitações literárias, sabiam incomparavelmente mais do que eu.
A dada altura, o meu Pai contou-me que o gajo lhe tinha perguntado qualquer merda sobre o material e a resposta tinha sido lata e pouco específica quando poderia ter sido o inverso.
Mas porquê? perguntei eu.
Porque senão ficava a saber o mesmo que eu!
...isto não é parvo. Não me soou a parvo na altura e não me soa a parvo agora.
É certo que não é simpático mas é o equivalente à realpolitik dentro do ambiente profissional: é realista e atinente a beneficiar a auto-preservação porque, afinal de contas, o valor que temos é o que valor que temos para os outros e, mais em concreto, a falta que lhes fazemos.
Poderão pensar que faço o mesmo, por sentir ser bem feito. Não faço.
Poderão pensar que não faço o mesmo, por sentir que não é fixe. Não faço mas não é por sentir que não é fixe.
Em data que não me recordo, estava a ver um jogo da NBA e o comentador disse qualquer coisa como isto:
Eles podem saber o que os outros vão fazer. Até lhe podem dizer. Não vai interessar se for bem feito. Não vão conseguir fazer nada para evitar.
Anos mais tarde, fizemos algo de semelhante: dissemos à equipa adversária - não de basquetebol - o que íamos fazer. Fizemos. Não puderam fazer nada.
O Rickson Gracie dizia - pelo menos nos treinos - como ia finalizar o gajo e em que membro o ia fazer (chave de braço ao braço esquerdo, por exemplo). E, depois, fazia.
Isto para dizer o quê?
Eu não me importo de partilhar toda a informação porque, no fundo no fundo, o que mais conta é a Execução.
É certo que a pessoa a quem ensino cenas vai avançar mas, ainda assim, fazer e fazer bem feito é uma outra coisa.
Sim, eu acho que é uma coisa de gente narcisista, isto que eu faço.
Sim, eu acho que é uma coisa que pode revestir-se de alguma soberba.
Na minha cabeça, contudo, funciona de uma outra maneira.
Eu gosto de ganhar mas ganhar sem competição sabe-me a pouco (mas nunca pensem que prefiro perder e jogar bem, isso, nunca!).
Depois, não me sinto assim tão mais inteligente porque os outros são assim tão mais burros...
...não nego que isto atenta com a auto-preservação mas isso nunca foi a minha principal preocupação.
Isto é assim que se faz. Agora...faz! e vão ver que nem sempre conseguem fazer.
Só uso o senão ficavam a saber o mesmo que eu quanto a informação.
Não em termos profissionais ou técnicos. Informação pura e dura.
O que eu sei, quanto ao que me rodeia, não partilho.
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