Real Politik
A real politik é dos meus assuntos favoritos. A política, em si, menos mas a aplicação da realidade é-me muito apelativa.
Acho de um interesse virtualmente ilimitado a diferença entre o que se quer fazer e, depois, o que se faz. É certo que, quanto a isto, poderia ser mais cínico e dizer a diferença entre o que se diz e o que se faz, partindo, assim, do princípio de haver uma mentira envolvida. Nem sempre me parece o caso.
Por estes dias, estava a ter uma das muitas conversas sobre o porquê de gente menos abonada intelectualmente que eu tem manifestamente mais sucesso profissional e um dos motivos (entre muitos outros, seguramente) é que não me adapto ao que me deveria adaptar para que a escalada corporativa acontecesse ou acontecesse mais depressa...e quando entendem que quando digo isto estou a criticar quem o faz, engana-se: nada tenho contra a adaptação ao meio; é o instinto mais primário de todos é o da sobrevivência.
Então,
aqui como no quadro mais geral, a realidade sobrepõe-se à fantasia e o ser ao dever ser. É admirável, visto de fora, quem não se verga à diferença e assume o dever ser como aquilo que faz mas é pouco inteligente e, quando a realidade bate à porta, a maioria de nós vai escolher ser.
Voltando:
o Trump atacou a Síria dias depois de considerar que o Assad poderia ser um belo aliado contra o Daesh e, diz ele, fê-lo porque se deu um ataque químico e isso é intolerável.
Sem querer, o ataque desviou as atenções das investigações sobre as ligações à Rússia (o principal investigador tinha-se demitido por, pelo menos, parecer pouco sério) e, de caminho, tomar a posição contrária ao Putin quanto à Síria.
Coisa que não será de somenos: aproveitando o enquadramento que descrevi, ainda deu para mostrar que não se limita a ameaçar e é capaz de matar gente, mesmo!
Posso estar enganado mas parece-me ter sido isto que aconteceu.
Ora, o que isto tem de especialmente interessante é que o ataque (do Tump) e o não ataque (do Obama) à Síria são diametralmente opostos mas com o mesmo significado: Real Politik.
1. Trump distrai da confusão interna com o ataque;
2. Obama tolera ataques químicos porque, por exemplo, ao atacar o Assad estaria a ajudar o Daesh.
Quer com uma aplicação ou outra, contudo, quem se fodeu foram e são os Sírios.
(não falarei do Putin porque isto me faz parecer maluco: não estará o Putin a fingir-se ofendido e descontente com o ataque para camuflar a ligação com o Trump? Afinal, o Putin tá-se a cagar para todos os Sírios. Não é - nunca é! - uma questão de justiça)
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Poderia, agora, defender um Trump ou um Obama. Não o farei,
Tenho, obviamente, um preferido mas não é sobre isso que me apetece escrever.
Optarei pelo seguinte:
É muito fácil encarar esta gente como sanguinária ou assassina e, mais do que ser fácil assim encará-los, é possível que o sejam mas são, isso seguramente, humanos.
Quando se está muito alto na montanha deve ser difícil encarar-se o que por lá em baixo anda como mais do que formigas; deve tornar-se uma decisão mais fácil decidir e ponderar que grau de sofrimento é aceitável impor a essa massa indistinta de rastejantes.
Seremos nós, mais vulgos mortais, muito diferentes?
A maioria de nós pode dizer que sente imensa empatia por quem não conhece mas só se mentir dirá que lhe preocupa tanto a fome de um amigo quanto a de um africano angolano.
Não desejo a morte a ninguém mas não hesito em dizer antes ele que eu porque....prefiro que seja outra pessoa, que não conheço, a tombar do que eu. Eu, um gajo que não se sentiu nem remotamente contente com a morte do Bin Laden, por exemplo; Eu, um gajo que não acha que deva ser festejada a morte de quem quer que seja; Eu prefiro que sejam eles e não eu.
Este raciocínio impede-me, cada vez mais, de tecer juízos de valor sobre outras pessoas.
Como reparam, sou capaz de tecer críticas mas isso não é o mesmo que achar que quem erra - aos meus olhos - é menos que eu ou, sequer, pior pessoa.
Há uns dias, por altura do post sobre os dias especiais, contei a mesma coisa que aqui escrevi: não atendi chamadas porque não tenho paciência para um resumo de minutos do que se passa na minha vida a quem, possivelmente, nem faz parte da minha vida, agora.
Não critiques assim as pessoas, K!
- Mas...eu não estou a criticar. Não me ligam como eu não lhes ligo. Não lhes quero mal e nem sequer acho que são umas bestas. Eu só não tenho interesse, por isso, não faço...
Percebem?
Criticar no sentido de avaliar a qualidade de alguém quase nunca faço.
Criticar no sentido de apreciar o comportamento, faço sempre mas só digo se me perguntarem.
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