Monday, February 19, 2018

Outra Pessoa

Sempre achei engraçado o facto de as pessoas estarem a pensar noutra pessoa quando atribuem o nome ao seu filho.
Não, Rúben não porque conheci um Rúben que era um penedo;
Não, Carlota não porque era o nome da tua ex;
Não, Micael não porque não sou Pai do filho do Toni Carreira;
Não, Paula não porque todas as Paulas que conheci eram pêgas.

Apesar de ser irracional atribuir a numa nova pessoa características que conhecemos de outras, não é parvo.
Irracional, sim.
Parvo, não.

Todos somos condicionados pela memória.
Há uns tempos, vi uma história de uma mulher que fugiu do filho porque ele era demasiado parecido com o marido que morreu e isso era-lhe insuportável.

Hoje, tive uma reunião com um gajo que me fez lembrar outra pessoa.
Normalmente, não me incomoda que me tentem enganar e que se façam passar por aquilo que não são. É um jogo. Faz parte do papel deles e encaro-o com o relaxamento de quem faz isto há muito tempo e conhece as regras.
....o problema com que este gajo, em concreto, se deparou sem saber é que o fingimento que apresentou era demasiado semelhante ao fingimento a que estive exposto durante muito tempo; este fingimento, que era impessoal, tomou conta da minha memória e a minha memória é extremamente pessoal.

Também nisto não sou especial.
Quantos de vocês ouviram frases ou afirmações de uma pessoa e as transpuseram, de imediato, para outra?

Bem:
este caso poderia ter acabado mal mas não acabou.
Estou mais velho, mais atento e, espera-se, mais esperto. Percebi a tempo o que estava a acontecer e dei conta que o sangue que me estava a subir aos olhos não devia ser flamejado naquela direcção.

Ah, K! Então foste espectacular e conseguiste ser imparcial? Conseguiste traçar uma linha entre a realidade a que estavas exposto e a ficção em que estavas a pensar?!
Não. Infelizmente, não sou tão espectacular.
O que fiz foi abreviar a coisa ao máximo que conseguir e chutar para tratamento por escrito, depois.
Por escrito, conseguirei ser espectacular.
Ao vivo, só consegui evitar o pior e isso é só meio espectacular.

------------------------

E na onda de um dos posts anteriores em que descobri que uma música que presumia ser de uma banda era, de facto, do Otis Redding, aqui fica mais um exemplo:

A Change Is Gonna Come do Sam Cooke pelos Allman Brothers:

0 Comments:

Post a Comment

<< Home