Fazer a Cama
Por vezes há dificuldade em entender-me.
Um dos motivos que vai criando esta dificuldade é uma aparente dicotomia entre o que penso e o que faço. Dicotomia que, na realidade, não existe. O que se passa é que há uma diferença muito grande entre o abstracto e o concreto.
Muitos de nós são muito rápidos a julgar os outros. Eu não sou.
O meu desconhecimento do que se terá passado ou se passará na vida dos outros impede-me de ser demasiado taxativo nas apreciações que teço. Não sei o motivo de terem feito isto ou aquilo e não faço ideia do contexto que levou ao que quer que seja.
...então, quando alguém que não conheço faz alguma coisa tendo a pensar que terá havido um qualquer motivo que levou a isso porque é muito raro alguma coisa nascer do nada.
Coisa diferente é quando sei e estou por dentro.
No caso concreto posso e serei muito crítico, especialmente quando me é íntimo e não me permite extrapolar ou imaginar. Eu sei. Isso muda tudo.
Nestes segundos casos, parece que me passo de Mandela a Pol Pot mas não sou uma coisa nem outra.
A mim as lágrimas impressionam merda nenhuma quando resultam de se ter o que se merece.
Ah, coitadinho ou Ah, coitadinha!.
É o caralho.
Eu vou-me deitar na cama que faço e os outros vão fazer o mesmo. Ou melhor: se depender de mim, os outros vão fazer o mesmo.
Semeiem o caralho do vento e sentirão a puta da tempestade.
Não sou dado a penas. Não sou dado a perdões.
Ah, mas perdoar é divino! É. Ou divino ou estúpido.
A maioria dos arrependimentos não o são, de facto.
A maioria dos arrependimentos não se destinam ao que fizemos aos outros, em sentido estrito. A maioria dos arrependimentos aparecem quando precisamos de alguma coisa de alguém para com quem não nos portamos bem ou para quem deveríamos ter sido melhores.
Não dou a outra face.
Confirma-se: estou a voar de raiva.
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