Friday, December 14, 2018

"VOU CONTAR ATÉ 5!!"

Ouvi isto sexta-feira à noite, praí às 4 da manhã.
Saíram uns quantos idiotas de dentro de um bar, divididos em 2 grupos, a parecer que queriam andar à pancada. Só pareciam.
Um dos gajos desse grupo disse para um do outro vou contar até 5 e se não fores embora dou-te na boca!
Estava ao lado, eu e mais 2 amigos, e rimo-nos um bocado com aquilo porque os 3 - e, pensava eu, o resto do Mundo - sabe que se um idiota me dissesse aquilo estava a comer na boca antes de chegar ao 2.
Eram miúdos e estúpidos (sendo certo que eu mesmo quando muito miúdo nunca disse que contaria até merda nenhuma. Sou capaz de dizer vou-te foder a boca e, depois de um pequeno compasso, fodo mesmo).

Mas não é por estar a ficar velho para estas merdas de noite que falo disto.

Tenho cada vez menos vontade de me chatear.
Não me apetece.
Na circunstância que descrevi e que envolvia uns 15 gajos, estava praí a um metro de distância da confusão, pelo que não seria necessário nada de esquisito para espirrar para mim toda aquela merda.
Obviamente, eu e os meus amigos devíamos ter feito o que a maioria que estava à volta fez: afastar-se.

Não. Não aconteceu.
Ah, K, e se tivesse caído para o vosso lado mesmo que não fosse nada convosco?!
Pois, é isso mesmo. Teria passado a ser e a merda teria azedado.
Se sei que devia ter-me afastado, o que me impediu de fazê-lo?

Bem...uma das partes é racional mas a outra não.

A parte irracional é esta:
Não fui educado para recuar. Não foi uma opção que me tenha sido dada.
Em momento algum da minha educação primária me foi dito nã, há momentos em que o melhor é baixar a bola e evitar merda! Nunca. 
Não se procura mas também não se foge.

Obviamente, como acima escrevi, aprendi que há momentos em que o melhor é baixar a bola e outros em que se deve evitar que dê merda mas isto é meramente teórico e intelectual. 
No momento em que devo fazer uma coisa ou outra é uma terceira e muito mais natural que acontece.

É um bocado como darem-me ordens.
Eu sei que ninguém me dá ordens nem manda em mim; eu não sou um gajo inseguro. 
O pessoal podia dar-me as ordens que quisesse e eu só não faria. Estava resolvido. Mas não. Se me entram nos ouvidos palavras desse tipo as minhas luzes acendem todas e a reacção é imediata.

A parte racional também existe e - espero - justifica.
O Mundo não respeita racionalidade. O Mundo respeita músculo.
Eu sei que andamos até às orelhas em sensibilidade e o caralho mas é meramente verniz. 
O EUA não metem a cave no exército e no armamento para se defenderem; eles metem a cave no exército e no armamento porque quem manda é quem tem o pau maior e quem manda decide no que participa e no que não participa e escolhe o que respeita e o que não respeita.
A vida é assim. O Mundo é assim.

Este bando de panisgas que andam a educar. Estas crianças que ganham medalhas de participação e que têm de usar as palavras e que não podem sofrer bullying hão-de estar, a dado momento, fodidas.
Ah, K, mas se todos forem assim, a coisa vai lá.
É.
Dá-se que nem todos são e nem todos vão ser. A realidade e o Mundo não param na fronteira.

Se o pessoal do ISIS tiver armamento a sério, vai fazer o quê?
Se os desgraçados lituanos e romenos passarem a ter força vai acontecer o quê?

Os recursos são finitos. Todos eles.

Quando estes sensíveis que se anda a educar entrarem no mercado de trabalho e começarem a perder - porque aí há sempre mas sempre gente a perder - vão reagir como?! Vão entender que, afinal, não são só rosas? Vão recupera o que haveriam de ter aprendido na infância? Vão descobrir aos 20s que há gente mais esperta e mais forte e que os vencedores ficam com os despojos?

...e esta é a racionalidade atrás do podem andar aqui perto a matar-se, eu não me importo. Toquem-me e fodem-se.
Não é bonito.
Não é politicamente correcto.
Mas é uma extensão da realidade que rodeia, mesmo que não a queiram ver.

Mas é, também, pelo que descrevi que os novos roubam os lugares aos mais velhos.
Não é só porque fisicamente os ultrapassam é porque a sua ignorância permite-lhes atribuir valor ao que, no fundo, não tem.

Que me interessa a mim que um gajo me chame filho da puta?
É certo que lhe posso, em tese, partir os cornos mas se lhe partir os cornos com a vontade que tenho é possível que vá preso; mais vale deixar passar.

E é também assim que se destroem impérios.

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