RACIONALIDADE
Como é sabido, a igualdade tal como a vendem eu não a compro. Nós não somos todos iguais. Começa mas não termina na aparência.
Como é, também, sabido, faz-me espécie o racismo porque apesar de não sermos iguais (da mesma maneira que o meu pé esquerdo não é igual ao direito) somos, no fundo, a mesma coisa (da mesma maneira que o meu pé esquerdo e o meu pé direito são pés).
Talvez o que mais nos distinga seja o que fazemos ou tentamos fazer mas não necessariamente o que somos.
A racionalidade tem um peso significativo nisto, na minha opinião.
No seguimento do primeiro parágrafo: eu tento ser o mais racional que consigo mas não me é possível desligar-me, por completo, da parte emocional...ainda que o quisesse, o que não é certo. Também no seguimento do primeiro parágrafo: provavelmente por tentar com mais força, sou mais racional do que a maioria de nós e isso acontece, apenas, porque reconheço as minhas limitações e não sou iludido.
Ah, K, andaste a fumar merda?
Não. Tentarei concretizar.
A irmã dEla é agarrada ao dinheiro. Além de ser, parece.
Eu sou agarrado ao dinheiro. Apesar de ser, não pareço.
Ah, K, tens a mania que és super seguro e confiante e andas a enganar as pessoas?!
Não. Mas isso fica para daqui a pouco.
A principal diferença entre eu e ela é que me chateia a irracionalidade de ser agarrado porque não é produtivo e faz-me mal. É possível que ela ache o mesmo mas não sabe como evitar; eu aprendi.
Nunca me ouviram discutir uma conta num jantar com amigos e nunca me viram cobrar dinheiro que tenha emprestado.
Nunca me ouvem dizer que tenho X dinheiro ou perguntar a quem quer que seja quanto ganha. Além de não perguntar, só em casos muito excepcionais e que me possam afectar directamente me interessa.
Nunca me ouviram falar de dinheiro ou querer saber quanto alguém pagou por sei lá o quê.
O meu comportamento é tudo menos de agarrado...mas sou agarrado.
...só que chateia-me ser agarrado.
É verdade que o meu agarranço não é materialista nem social. Não guardo dinheiro porque quero comprar isto ou aquilo. Não guardo dinheiro para ter mais dinheiro do que outra pessoa.
O dinheiro, para mim, é paz. Segurança contra um imprevisto. Liberdade.
...mas não deixo de ser agarrado.
Por exemplo: não consulto o meu saldo bancário quase nunca. É certo que se passam meses sem que vá ver quanto tenho no banco. É certo que se me roubarem dinheiro - contando que não é uma batelada violenta - não darei por ela.
Porquê?
Por estes dias fui ver se me tinham pagado uma determinada merda por mera curiosidade de quando será que isto é pago? e, já que lá estava, fui ver o saldo e pensei caralho, mais 3.000,00€ e ficava com um número redondo e será que já recuperei o dinheiro que rebentei nas férias?!
O que interessa o número redondo? Nada.
O que interessa se já recuperei o dinheiro que gastei nas férias? Nada.
A minha cabeça sabe que ambos os números são irrelevantes mas a minha emoção, não.
Ela, por exemplo, é incapaz de fazer isto.
Ela é vencida pelo emocional de quanto tenho? e será que consigo atingir os X?. E ela tem muito mais dinheiro que eu.
Como sei isto? Porque tenho uma ideia aproximada - hoje, muito aproximada - de quanto tenho mas sei exactamente quanto ela tem porque...ela fala dessas merdas.
Tento controlar a natureza com a racionalidade e tenho de usar artimanhas para isso.
Este é apenas um dos muitos exemplos.
A maioria de nós sucumbe. A maioria de nós é o que não quer ser porque desconhece que nasceu e sempre será limitado. A maioria de nós quer mudar quando deveria, apenas, querer controlar.
Racionalidade. Realismo.
Voltando ao eu fingir e querer enganar as pessoas.
Nada disto acontece.
O que se dá é que os outros vêm-nos com se vêm a si.
Para ela, será virtualmente impossível imaginar que eu sou agarrado apenas porque não pareço. Confundirá o trabalho com a naturalidade. Confundirá o construído com o inato.
E a maioria é assim.
A maioria não se dá ao trabalho de olhar para lá do umbigo e isto nem sempre é por serem más pessoas ou burros. Somos montados no egoísmo. Todos nós.
Só para que entendam até onde vai o meu esforço e o meu asco pela irracionalidade de que não consigo desgrudar.
Ontem, depois do episódio do número redondo e do será que recuperei o dinheiro das férias? senti-me sujo e estúpido.
Entrei no carro e disse-Lhe:
Foda-se, acho que vou ter de te comprar qualquer merda cara!
- Porquê?
Pá, porque não sou capaz de comprar merdas caras para mim e esta estupidez de ser o gajo mais rico do cemitério não faz sentido. Um gajo não pode ser refém da estupidez!
Poderão pensar que estúpido é eu querer gastar dinheiro de qualquer maneira.
Pode ser mas não para mim.
A minha luta para ser o que devo ser ou o que acho que devo ser é-me muito mais importante.
PS Por descargo de consciências acrescentarei o seguinte: eu sou afortunado por poder usar estas estratégias. Eu posso não olhar para a conta bancária e eu posso gastar dinheiro por uma questão de princípio.
Não estou nem próximo de ser rico - nem remotamente! - mas juntando as minhas baixas necessidades e o que vou ganhando, posso dar-me ao luxo de tratar dos meus princípios e perder tempo com evolução pessoal.
Não sou desligado da realidade nem moralista: o que fiz aqui, hoje, foi falar de mim e não tenho qualquer intenção de traçar um qualquer código de conduta.
A necessidade é rainha.
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