Friday, November 22, 2019

Duas Pessoas

1 Pessoa

Hoje estive a falar com um gajo com quem não tenho por hábito falar muito.
Nada tenho contra ele, além de o achar um bocado chato e demasiado sabichão para o seu próprio bem.
De há uns tempos para cá, parece-me estar melhor ou, pelo menos, comigo tenta debitar menos factos que o não são e que, por isso, me forçam a responder.

Hoje, estava a contar-me que X funcionava mal e que tinha dito isso ao Y, por ser a correia de distribuição entre ele e quem decide.
Em resumo, disse-lhe que:
1. o pessoal que decide, como todos nós, tem uma determinada formação e é com base nessa formação que toma decisões. Ser-lhes-à sempre muito difícil - como a todos - entender e empreender uma projecto diferente porque não o entende como deveria entender;
2. à gaja que serve de corrente de transmissão disse-lhe pior; disse-lhe que era uma ilusão achar que ela iria dizer a quem decide precisamos de outra pessoa para fazer, pelo menos, parte disto porque, para ela, isso seria assumir incompetência, apesar de não ser isso que lhe foi dito.

Podia discorrer sobre mais coisas que disse para parecer um génio mas, na verdade, não foi daqui que retirei o interesse da coisa; não foi por ele ficar impressionado com o que eu vejo e o que eu sei.
Não.
O que foi interessante foi isto:
Achas que não consigo ver isso porque sou muito novo?
Dúvida legítima e perfeitamente plausível mas foi o assumir de uma limitação ou, até, de uma diminuição intelectual quando comparado comigo.
...mas achei honesto e verdadeiro.
Aprecio gente que coloca questões quanto a si mesmo sem embaraço (sem prescindir de se ter arrependido, depois).

Só para não ficar no ar:
disse-lhe que não sabia mas era possível.
Expliquei-lhe que eu só comecei a ler realmente a partir dos 30, apesar de parecer - quando comparado com o meio - que li todos os livros do Mundo.
É difícil responder se é só por causa da idade.
Tem que ver com personalidade, também. E com interesse. E com esforço.

2 Pessoa

Outro, hoje, disse-me que apreciava a minha postura porque te estás a cagar e fazes o que queres.
Pensou ser um elogio, porque visto de fora é super romântico.

Honesto, porque sou, respondi-lhe que ele também podia ser assim, se estivesse numa de pagar os custos que isso acarretam.
É como apreciar a admirar os heróis de Guerra: eu também admiro mas apetece-te morrer ou ficar amputado?

Acho que se devia admirar o que se almeja e não o que se acha super cool.
...e o que se almeja é sobreviver e eu admiro quem, dentro de determinados limites, faz o que tem a fazer para sobreviver.

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