Tuesday, January 07, 2020

Homem Simples

É o que sou.
Afirmo-o muitas vezes e é comum pensar-se que estou a ser irónico mas não estou.
Na cabeça da generalidade dos que me rodeiam, ser-se capaz de pensamento abstracto ou ler-se mais do que uma bula de medicamento ou conhecer-se designers de moda com a mesma facilidade que se conhece a Dianna e Cristina Ferreira torna alguém complexo.
Não sou.

Outra coisa que ocorre com frequência é pensar-se que sou uma besta que conseguiu dispensar todos os sentimentos.
Soluções simples e desapaixonadas não são o mesmo que ser-se intrinsecamente frio;
Apreciações realistas e não eufemisticas ou douradas não são o mesmo que ser-se intrinsecamente frio.

Esta simplicidade deu-me algum trabalho.
Sendo mais honesto: a simplicidade de apreciação não me deu muito trabalho mas implementar ainda me dá.

Nesta mudança de paradigma por que já uma imensidão de humanos passaram mas que me está a acontecer agora, sabia o que quereria fazer mas já não se seria capaz de o fazer.
Tenho sido (pelo menos, até agora).
Concentro-me, apenas, no que posso fazer e não no que não posso.
Ah, K, isso todos sabemos!! dizem. Sim. E sabem ainda mais desde que as merdas espirituais e pseudo-densas entraram na moda.
Eu não me preocupo, realmente, com mais nada além disso e tenho, por isso, andado muito relaxado.

Ela sabe que eu tenho razão mas não consegue fazer o mesmo.
Não recrimino.
O normal não sou eu.

Ontem, um gajo disse-me:
Eh, pá! Entramos na reunião e o gajo nem nos deixou sentar! Disse para ficarmos todos em pé!
Respondi: Valor! Por mim eram todas em pé. É pra render não é para fazer sala.
Depois, mais ou menos no mesmo sentido:
Nem nos perguntou o que achávamos e nem nos explicou nada daquilo...uma pessoa precisa de ser acarinhada...
Respondi: Não. O que tu queres é SENTIR-TE acarinhado; queres que o pessoal finja que se interessa e que a tua opinião conta para alguma merda. Não conta. Tu sabes que não conta. Queres que o pessoal finja que quer saber.

Especialmente esta segunda afirmação poderá parecer ressabiada; de alguém revoltado e amargo.
Não sou nenhuma das duas coisas. Sou simples.
Interessa-me o que é e não o que parece ser; 
Só posso agir sobre o que é e não sobre o que não é;
Apenas a realidade é passível de ser enfrentada e resolvida.

Simples.

...mas não se pense que isto é só vantagens.
Não é.
Ainda não aprendi o suficiente.
O meu cérebro reptiliano ainda mostra a tromba com demasiada frequência.
E é, também por isso, que não sou só simples mas também estúpido.

Amanhã, terei uma entrevista.
Não estou nervoso. Nunca fico nervoso com estas merdas.
O meu ego é demasiado grande para aceitar a...realidade.
Apesar de massacrar os meus neurónios com tu não és o maior! Tu precisas de fazer o que sabes que é preciso fazer para impressionar as pessoas chatas!! Só precisas de fazer essa merda por meia hora! MEIA HORA!!!
...mas, depois, não funciona.
Ou melhor, as hipóteses de funcionar são baixas.

Eu sei que não sou um génio e nem o maior. Estou certo disso.
Sucede que estou igualmente certo que sou um bocado fixe e se não se entender isso não merecem o meu tempo.

Eu sei que está dentro das minhas capacidades fingir durante meia hora ou uma hora. Já saquei gajas, não é?!
Mas, depois, acho um bocado fraco e baixo subjugar-me a apetências e a superficialidades dos outros.

Simples.
Estúpido. 

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