O Gelo
É muito desagradável o momento em que descobrimos que somos incrivelmente mais insensíveis do que deviamos ser. Aquele momento em que já estamos imensamente desligados mas que ainda não o estamos completamente; aquele momento em que ainda temos consciência do que devia ser e sabemos que já não é.
Nunca fui um tipo sensível do tipo que chora com filmes ou que tem muita pena de animais abandonados. Reconhecia o sofrimento e percebia que era de lamentar, sentia-o, reconhecia que não se devia jamais abandonar animais, parecia-me, mais que injusto, cruel.
Com o passar do tempo, contudo, o meu sistema nervoso foi sendo endurecido, tanto pelo que vi como pelo que vivi, e apesar de continuar a reconhecer e lamentar aquilo que considero injusto fui sentindo que sentia menos.
Poderia isto ser uma demonstração de um profundo egoismo e narcisismo? Não. Apesar de não negar o meu egoismo e narcisismo não era isso. Este afastamento que está a um passo da misantropia não floresceu porque eu ganhei um imenso interesse em mim mas porque fui perdendo interesse em geral.
Quando vemos ou ouvimos alguém que deveria ser o mais próximo possível em pranto a reacção deve ser se consternação ou algo semelhante, do tipo "I feel your paine!" e eu sei isso também e porque sei manifesto isso mesmo mas, na realidade, bem lá no fundo, não foi o que aconteceu. Poderia dizer que é a paga do que se fez antes, e não seria mentira; poderia dizer que a vida é fodida para todos e isso seria meia verdade.
Agora, o que realmente aconteceu?
Movi-me pelo que devia ser e não me arrependo porque se me tivesse movido pelo que sentia apenas iria juntar pranto ao desespero.
Nunca fui um tipo sensível do tipo que chora com filmes ou que tem muita pena de animais abandonados. Reconhecia o sofrimento e percebia que era de lamentar, sentia-o, reconhecia que não se devia jamais abandonar animais, parecia-me, mais que injusto, cruel.
Com o passar do tempo, contudo, o meu sistema nervoso foi sendo endurecido, tanto pelo que vi como pelo que vivi, e apesar de continuar a reconhecer e lamentar aquilo que considero injusto fui sentindo que sentia menos.
Poderia isto ser uma demonstração de um profundo egoismo e narcisismo? Não. Apesar de não negar o meu egoismo e narcisismo não era isso. Este afastamento que está a um passo da misantropia não floresceu porque eu ganhei um imenso interesse em mim mas porque fui perdendo interesse em geral.
Quando vemos ou ouvimos alguém que deveria ser o mais próximo possível em pranto a reacção deve ser se consternação ou algo semelhante, do tipo "I feel your paine!" e eu sei isso também e porque sei manifesto isso mesmo mas, na realidade, bem lá no fundo, não foi o que aconteceu. Poderia dizer que é a paga do que se fez antes, e não seria mentira; poderia dizer que a vida é fodida para todos e isso seria meia verdade.
Agora, o que realmente aconteceu?
Movi-me pelo que devia ser e não me arrependo porque se me tivesse movido pelo que sentia apenas iria juntar pranto ao desespero.
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