Thursday, May 29, 2014

Depois de um Raro Post Sobre Alguma Coisa...

PIERRE BAYARD

Pierre Bayard é um professor de Literatura francês que escreveu um livro chamado Como Falar dos Livros que Não Lemos. Não se amedrontem, não geekei por completo mas isto é interessante.

Esta tese foi-me apresentada durante uma discussão sobre o Comunismo. Durante esta discussão, disse que tinha lido O Capital e que tal me parece indispensável tanto para quem o defende como para quem o ataca; em resposta, deram-me com este livro na tola.
Pareceu-me interessante e, quando isso acontece, tento ir ver o que se passa porque à partida parecia-me uma tese parva enquanto tal.
Sem querer, contudo, ainda antes de o abrir e ainda dentro da mesma discussão (já não sobre o Capital que não se precisava de falar dele para o entender mas sobre o 25.04 sobre o qual era preciso estudar profundamente para o compreender...) disse que a única justificação que encontrava para falar do que se não leu era o facto, evidente, de não se ter tempo para ler tudo o que se gostaria e, por essa razão, irmos pelas palavras de outros que consederaríamos avalizados para nos dizer o que entenderíamos se lessemos.

Ora, não surpreendentemente, uma das teses do livro em questão é precisamente essa. Com essa, não discordo; outro pensamento que me agradou é a questão filosófica de saber se podemos considerar como lido um livro de que nos esquecemos.

Resumindo o que a temática me merece (sendo certo que, a seguir, falarei de um livro...): É evidente que podemos falar do que não lemos, será mais comum do que o seu inverso, mas isso não justifica a não leitura por si.
Vamos a coisas concretas que podem ilustrar mais ou menos a cena:
a) falou-se durante muito tempo que deveria ser aplicada (ou reaplicada) a teoria de Keynes à economia por oposição è de Friedman, o que, na prática, se traduzia em mais Estado. Se não lermos Keynes e nos retivermos, apenas no que se diz (tanto pelos que defendem como pelos que são contra, o que é espantoso e faz todos parecerem seguidores do Bayard) é difícil percebermos que Keynes defendia a entrada do Estado em força quando este lá não estava antes. Ou seja: o efeito multiplicador funciona quando aparece o que lá não estava. Se o Estado está em 90% da economia, o efeito multiplicador é residual e inapto a fazer o que se pretende. Acresce que no mundo de Keynes, existiam fronteiras reais e hoje o dinheiro que se injecta cá acaba na malásia.
Mas, para isso, é preciso ler...
b) O Capital não é um problema de tese ou de escrita. Eu QUERO o mundo descrito por Marx. O problema do Capital é a realidade e a sua resistência à teoria. O Capital não é o caminho porque não se enquadra na natureza humana nem nunca se enquadrou. ISTO é defensável; é defensável atacar o impossível mas, na minha opinião, não a tese em si.
Mas, para isso, é preciso ler...

O Lobo de WALLSTREET

Antes de ver o filme li o livro. Na verdade, antes de saber que se pensava em fazer o filme li o livro (e Condessa, do filme, ainda me dá suores frios só de pensar nela...).
O filme desagradou-me. Não pelo clássico os livros são sempre melhores mas porque, como muita gente acusou, passa a imagem errada da coisa e glorifica os maus comportamentos.

Mas Kaiser, tornaste-te moralista? Não, nada disso. O que me irritou é que o livro, escrito pelo próprio Lobo, é menos festivo que o filme. Lendo o livro entende-se, pelo menos em parte porque por completo parece-me impossível, que houve muita gente que foi fodida e desgraçada pela festarola... no filme, não...
O filme alude, muito ao de leve, que alguns perderam dinheiro; o problema é que não foram algumas pessoas nem algum dinheiro, foram todas as pessoas e todo o dinheiro.
O filme concentra-se em atirar anões e na condessa e nos aviões e no barco e na condessa (meu deus, a condessa) e nos qualudes no queimar dinheiro na fogueira. Pode ser visualmente estimulante e libidinosamente também mas tudo não justifica tudo...

Quando li o livro deu-me náuseas esta gente. O Jordan é uma versão mais pobre e menos sofisticada que o Madoff, nada mais que isso.
Quando vi o filme fiquei a pensar que algum sofrimento dos outros era aceitável para o meu completo (?) bem estar.

Hoje, o Jordan dá conferências motivacionais, o que, trocado por miúdos, é o mesmo que dizer que continua a vender banha da cobra. É o mesmo gajo, a fazer a mesma coisa com um nome difenrente e fora do Código Penal...mas isso não é nunca referido ainda que também não seja escondido.

Então, moralista? Nada. Realista.

DROGAS

Quando fui operado, a anestesia geral fez-me alguma confusão, mais do que a operação em si (que não era de monta, refira-se). Primeiro porque há muitas histórias de anestesias gone wrong e depois porque me agrada pouco apagarem-me por completo.

Ultrapassado isto, que correu bem como se comprova porque estou a escrever, deram-me uma receita para alguma cenas, entre elas Vallium. Perguntei o motivo de me receitarem Vallium e responderam-me que era para a eventualidade de desconforto que poderia levar a que não conseguisse dormir decentemente. Atenta a resposta, disse-lhes que não iria comprar e muito menos iria tomar. Resistiria ao eventual desconforto da maneira que conseguisse e não dormiria, se a tal fosse obrigado.

A resposta, como algumas das que dou em circunstâncias destas (preciso mesmo de anestesia para levar pontos? é que normalmente levo a frio ou doi-me um bocado a cabeça, sim, mas enquanto for tolerável não quero aspirina nenhuma ou não vou tomar calmante nenhum, não estou nervoso), não são facilmente perceptíveis pelas outras pessoas (uma vez uma dentista perguntou-me como tinha aguentado aquela dor durante tanto tempo ao que respondi não era assim uma dor tão grande, hoje é que piorou um bocadinho sob o olha em pânico dela). E as explicações também não.

Não me agradam químicos. Não me agrada ser medicado. Não me agrada ter horas para fazer coisas.
Na minha cabeça (e acho que estou certo), quanto menas coisas tomarmos melhor efeito elas farão quando realmente precisarmos delas. Aspirinas e antibióticos e cenas dessas. Não quero ganhar resistências porque não quero cavalgadas.
No caso do Vallium, por exemplo, com resultados desastrosos para muita gente.
Quando tenho de tomar alguma coisa, tomo, mas sempre e sempre como última solução.

Outra coisa é que sempre convivi com dor. Os desportos que pratiquei e as pancadarias em que me meti foram empurrando para mais longe o limiar do suportável. Então, à semelhança dos químicos, foi-se tornando cada vez menos eficaz o próprio sentimento de desconforto.
Não me lembro de alguma vez ter sentido uma dor que me tenha deixado em estado de incapacidade quer física quer anímica; com maior ou menor esforço sempre consegui ir funcionando.

Não é uma coisa de macho mas que um gajo que leva 15 pontos a sangue frio impressiona, impressiona e isso não é, de todo, desagradável.

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