....afinal
Como não considero mentirosa uma pessoa que mente ocasionalmente também não considero cobarde uma pessoa que tem momentos de cobardia ou casos específicos em que a coragem lhe escapa.
Não considero, também, como corajosa uma pessoa que faz o que quer que seja para a qual não necessita, intrinsecamente, de coragem; como, por norma, achamos que qualificamos os outros tendemos a entender como valente aquele que faz ou pratica o que nós não conseguiríamos praticar.
A minha opinião é diferente.
Não é corajosa a pessoa que arrisca a vida se não tem medo de morrer;
Não é corajosa a pessoa que leva uma paulada quando sabe que isso lhe não custará.
A coragem mede-se por enfrentar o que se teme e não o seu contrário.
Não penso o meu caso de forma diferente.
É fácil verem-me como corajoso porque não temo o que normalmente é temido. É fácil nutrir alguma admiração pelas minhas características pessoais não por serem imensas mas por serem menos comuns; não por serem de um valor inestimável, em si, mas porque são difíceis de encontrar.
O que só se percebe a muito custo porque sou perito em esconder onde me dói (quase tão bom como a descobrir onde dói nos outros) é que odeio expor-me e isso é tudo menos um sinal de coragem.
Entendam, não consigo dizer, sem duvidar, que é cobardia porque, genuinamente, acho uma perda de tempo e contraproducente andarmos de peito aberto por aí. É assim que um gajo apanha infecções.
Aliás, era capaz de afirmar categoricamente que não é cobardia mas há pequenas coisas que me fazem duvidar disso e me impedem de ter uma conclusão definitiva.
Tenho dificuldade em encaixar alguns termos quando me são dirigidos; é-me difícil aceitar, por exemplo, que gostem mais de mim do que deveriam (será querer controlar o que os outros gostam de mim um problema de control freak? Nada...); é-me difícil admitir elogios que entendo como exagerados; é-me difícil ouvir, sem um pequeno esgar de dor, uma expressão como para sempre.
Não deveria ficar desconfortável com isto;
Não deveria ficar desconfortável quando quero, da mesma pessoa, carne e alma;
Não deveria ficar desconfortável quando tudo está a correr bem em qualquer parâmetro da minha vida;
Não deveria ficar desconfortável quando sinto que algo me foge, um bocado, ao controlo.
Portanto, voltando há pergunta que me foi colocada:
Não sei.
Para ti, devo ser corajoso.
Para mim, a resposta é mais difícil.
E agora, porque não volto mesmo, do fundo do baú:
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