Saturday, May 09, 2015

AS PALAVRAS

Eu sei que parece picuínhas mas chateia-me que se travistam palavras.
Ontem, a notícia quanto à vitória do Cameron em Inglaterra dizia qualquer coisa como os ingleses escolheram a austeridade.
Austeridade não é uma coisa má. Austeridade não se consubstancia em sofrimento; Austeridade é, apenas, uma atitude realista de equilíbrio, ou seja, é seriedade e não sofrimento. O que se deu é que as pessoas, como nós, sofrem de uma dieta violenta e não da manutenção de uma dieta equilibrada...que é o que a Austeridade, nesta metáfora, é.

A palavra Intelectual também apanhou.
Ser-se Intelectual, em princípio, não é uma coisa má porque o intelecto não é uma coisa má e não é um defeito gente que o usa com mais afinco que outros.
Hoje, contudo, quando se pensa em Intelectual pensa-se em gente chata e pedante, atira-se este título como uma pedra e não como um afago ou com admiração, que é o que deveria acontecer.

A palavra Simpática é um eufemismo para gaja feia.
Então, como é a tua amiga?, pergunta que quando seguida de É simpática nos atira para o evidente camafeu.
Simpatia não é uma coisa má - para mim é chata mas eu não sirvo de medida - mas quando usada como característica primeira revela-nos que o que, em tese, teria mais interesse não está lá.

Enfim,
o problema, como de costume, não é o conceito mas as pessoas.

REAL POLITIK

...vem um bocado no seguimento...
A Real Politik, se bem me lembro, foi um termo cunhado para definir a forma como Kissinger dirigia a política externa americana (porque era de ascendência alemã) e, simplificando, é uma coisa parecida com o Maquiavelismo, sendo que a maior diferença entre uma coisa e outra foi o tempo e não o âmago; quero com isto dizer que não podia Kissinger, como pôde Maquiavel, dizer claramente que mais vale ser temido do que amado...e vale mesmo.

Hoje, usa-se o termo que serve de título como um insulto porque devemos ter o Mundo como interesse primeiro e esta prática é a sua negação.
O problema, uma outra vez, é o resultado:
Como é do conhecimento generalizado mas pouco sitematizado, a Europa foi para o Médio-Oriente ajudar o pessoal e apoiar os rebeldes e defender as populações e por aí fora (se conseguiu ou se foi suficiente é outra história); o pessoal do Médio-Oriente - o pessoal que se foi ajudar - não está muito virado para morrer e as pessoas que não estão nessa onda tendem a fugir...e muitos tentaram fugir para a Europa.

Até aqui, tudo certo.

Só que quando as vidas que se querem salvar lá começam a aparecer no Mediterrâneo a querer chegar cá uma gajo deixa-as afogarem-se ou repatriam-nas, quando têm a sorte de sobreviver.
Faz sentido?
As pessoas que abraçam árvores peroram contra e acham desumano: não estão enganadas;
As pessoas que têm de dirigir países tentam evitar o assunto para não dizerem que os seus recursos são escassos e o conforto dos nacionais é mais valioso que a vida dos estrangeiros: não posso garantir que estejam enganadas.

Isto é utilitarismo e realismo.
As vidas valem todas o mesmo? Sim, nos livros.
Na realidade, não sei com que números estaria disposto a sacrificar a vida de quem gosto pelas de quem não conheço.
Triste mas verdadeiro. Não faz de mim uma besta, faz de mim uma pessoa como as outras pessoas.

Quanto ao Medo e ao Amor, repetirei o que tenho ideia de já ter dito por aqui:
Jesus Cristo (partirei do conhecimento comum para não complicar) queria ser amado e não temido e foi amado, em retorno, tanto no seu tempo como no nosso.
Acabou por aleijar porque amavam-no tanto que lhe cravaram um pregos.

Quantos de nós tentariam cravar uns pregos no Mike Tyson de antigamente?
Pois, não era o amor que nos impediria mas sim o medo de levar nos cornos.

ALTRUÍSMO E EGOÍSMO

Quem priva, proximamente, comigo tem ideia de que sou altruísta;
Quem não priva, proximamente, comigo tem ideia de que sou egoísta.
Estou mais perto dos segundos mas como ontem me acusaram de serem os primeiros a ter razão, senti necessidade de explicar.

Então,
O conceito de Altruísmo está ligado, com razão, ao sacrifício de colocarmos interesses alheios à frente dos próprios. O que sucede é que às vezes, quando fazemos bem às pessoas, elas acham que apenas as estamos a benificiar a elas, o que não ocorre frequentemente no meu caso.
A realidade, pura, é mais esta:
Eu gosto de me sentir útil para as pessoas de quem gosto, então, quando as estou a ajudar estou, também, a ajudar-me a mim. Existe uma troca mas é subtil.

É difícil conceber que quando dedico a minha atenção e preocupação a alguém que precisa - e, às vezes, precisa muito - estou, também, a receber.
Quando alguém está numa situação difícil e que sente que só eu a posso ajudar - não por ser particularmente brilhante mas antes por causa das minhas características específicas - não concebe que seja mais do que um fardo mas, se eu gostar da pessoa, é.

Eu sem um propósito sinto-me perdido e quanto mais propósito mais encontrado estou.
Quem recebe o que dou nem nota, muitas das vezes, que também me está a entregar porque este meu defeito de precisar de uma direcção não é visível.

No verdadeiro teste de Altruísmo eu falho: se a pessoa não me interessar ou se já me interessou e me irritou por um qualquer motivo, sou incapaz de roubar parte das minhas forças e do meu tempo para ajudar. Se não me custar mesmo nada, talvez, mas nada custa nada.

Outra forma de tentar explicar a, por vezes, pequena diferença entre estas coisas é esta:
Duas pessoas doam um determinado dinheiro a uma determinada instituição ou a uma determinada pessoa.
Uma doa porque as pessoas precisam de ajuda;
Outra doa porque as pessoas precisam de ajuda e porque isso o faz sentir bem.

O Segundo obtém retorno pelo que doa;
O Primeiro não obtém retorno, só ajuda.
Não considero nenhum dos dois melhor ou pior e o resultado, para quem recebe, é precisamente o mesmo mas um deles é menos Altruísta que o outro.

O TEMPO

Ontem, ao almoço, achei melhor ter companhia. Não porque tenha problemas em almoçar sozinho mas porque me apetecia comer um hamburger e quando como hamburger sozinho faz-me sentir como as pessoas que se embebedam sozinhas: deprimido.
A dada altura, o assunto começou a andar à volta daquilo que podia e devia fazer para...como direi...bem, pensar em sacar menos gajas e ficar-me por uma mais tempo (esta pessoa não me conhece o suficiente para distinguir que eu só quero uma para sempre mas como não vejo isso a acontecer fico com várias pelo tempo que aguentar).

Disse-lhe, então, que quando me envolvo com alguma seriedade com alguém a coisa funciona assim:
Em viva voz ou de forma que se capta: Eu não preciso de ti para nada! Se quiser companhia feminina, tenho amigas; Se quiser sexo, tenho outras amigas. Eu, de ti, não preciso de nada. Eu quero-te, só isso.
A outra pessoa, porque normal, achou que o que lhe tinha dito era muito agressivo e acho que a maioria das pessoas entenderiam da mesma maneira; a maioria das pessoas tem medo de ser largado quando gosta de alguém, daí (um bocado na onda de ser amado ou temido, ainda que nunca assumido) que lhes faça muita confusão que alguém delas não precise; a maioria das pessoas, ainda que nunca admitindo, prefere que precisem delas e que se sintam presas a elas porque é mais uma arma para se sentirem seguras.
Eu não quero isso.
Eu não preciso disso.
Eu quero que me queiram e quero querer a outra pessoa. Não quero precisar porque quando se precisa há algo de útil no outro e quando apenas se quer não há utilidade mas prazer.

Hmm, ainda te vou ver a andar caídinho por alguém e tentar a todo o custo conquistá-la! que é uma outra afirmação que ouço com uma frequência alarmante.
Não, é pouco provável que aconteça.
Se virmos pela rama, como ela viu, poderá pensar-se que é um exercício de valorização pessoal e alguma snobeira; algo do tipo sou bom demais para esse tipo de coisas!! mas não é.
Na minha cabeça, a coisa acontece rápido. Nos primeiros minutos percebe-se se a coisa pode acontecer ou não. Não me refiro a amor à primeira vista, porque é parvo, mas o interesse é, ou não, imediato. Se sentir interesse, sou capaz de avançar, se só eu tiver interesse, esqueço e sigo em frente.

A mesma coisa com tentar conquistar.
Talvez seja capaz de algum esforço se a quiser foder. Afinal, há-de ser rápido, tanto o corpo como a alma, e não terei de conviver com a atracção que contruí.
Não sou capaz de tentar conquistar uma pessoa que queira realmente. Sou transparente porque como não a quero a prazo não tenho interesse em andar apenas com o fato de domingo.

...e voltamos ao porquê de precisar que se entenda que eu não preciso mas apenas quero.
Não quero ninguém enganado quanto ao que conta. Pode parecer estranho; pode parecer suicida; pode parecer néscio.
Quero que se saiba o que me vai fazer irritar, o que vai destruir, o que convém evitar.

Pois, é por isso que os homens não são românticos, como as mulheres!!!
Oi?!
Querer em vez de Precisar não é romântico?!

Hmm... pensas e fazes essas coisas todas e, depois, olhas para trás e vês as coisas que perdeste e arrependes-te. As oportunidades que não aproveitaste!!
Coisa, também, já ouvida em quantidades nauseantes.
Ainda não me aconteceu. Quer dizer, eu sei que perdi oportunidades ou que não as aproveitei como devia. Eu sei que menos de uma determinada característica minha ou uma curva que não consegui dar teriam escrito o meu percurso de forma muito diferente e até melhor.
Felizmente, o tempo ajuda-me.
Como a minha natureza ou a forma como a construí é solipsista, quando o tempo me permite, quando a ausência me acontece, volto com facilidade - ainda que talvez não com alegria - ao estado primeiro em que não sinto falta. Volto a sentir-me confortável com o facto de não me preocupar se chega bem a casa e se está contente ou triste com o que quer que seja. Volto a estar mais descansado e a sentir-me mais livre.
O tempo ajuda-me.

...e no meio disto tudo, eu não quero sentir-me mais livre nem mais descansado mas a minha cabeça não está certa de permitir esta simples mas dolorosa alteração.
...a história de deixar solto quem se ama porque se também te amar volta (parafraseei mas acho que é isto) comigo é uma tanga. Se me deixam ir embora não volto.

E MAIS MAGIA


Nem sequer é a minha música favorita mas qualquer coisa com o Dereck a tocar vale a pena.
É muito esquisito ver-se um guitarrista como este gajo (em slide não conheço melhor, apesar de ele achar que o Elmore James era melhor) sem pedaleiras e sem muita extravagância em palco.

Bem, vale a pena.

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