SÓCRATES
Por vezes aparvalha-me o quão inocentes e, até, parvas as ideias podem ser. Pior, ideias que se transformam em actos.
Quando se começou a aventar que iria ser proposta a pulseira ao Sócrates pensei: meu deus, como podem dar-lhe exactamente o que ele quer? e não me referia à prisão domiciliária... referia-me a palco.
Para se usar a pulseira em casa é obrigatório o consentimento do próprio, é o único tipo de medida de coacção em que tal acontece.
Era claro como água que ele iria recusar. E era claro como água porque os tigres não mudam as riscas (pedido perdão aos tigres deste mundo por usá-los em relação a um animal bem menos nobre e bem mais rasteiro) e o 44 vive muito melhor no meio do caos do que em tempos de acalmia (algo que entendo muito bem).
Esta parvoíce permitiu que aparecesse novamente nas notícias e para que o bando de papalvos que ainda o apoiam - e são tantos... - encham o peito com tal coragem de quem pugna pela justiça Às expensas do próprio bem estar!
Temos Mandela parece-me ouvir mas a verdade é que nem toda a lixívia do mundo o tornaria suficientemente branco para uma tal alusão.
Dêem ao inimigo o que ele quer... é deveras inteligente!
O que deveriam ter feito?
Simples: mantinham ou mandavam-no para casa com um moina à porta, casos em que ele teria de se sujeitar ao que fosse decidido; caso em que o fato quixotesco ficaria ainda mais ridículo; caso em que não se permitiria um levantar de crista; caso em que o animal feroz teria menos tempo de antena; caso em que não seria permitida uma ilusão - por mais ridícula que seja - de um mártir.
Pois é.
Isto não é só justiça nem é só alimentar a comunicação social com partes do que interessa (sendo que não me parece que nenhuma das partes esteja inocente neste quesito). Às vezes é preciso ver mais longe e, aqui, nem era preciso ver MUITO longe.
QUANDO SE ABRE OS OLHOS...
Há uns anos atrás um gajo que conhecia - cresceu comigo apesar de nunca ter sido meu amigo - levou um tiro à porta de um conhecido estabelecimento aqui da zona. Chamaram-no à porta, ele veio, um tiro foi dado, o gajo não resistiu.
De seguida, vi a notícia no jornal.
A reportagem dava conta do sucedido e da incredulidade disso mesmo. Familiares e amigos informavam que não entendiam como é que um tipo que morava em X, que era bom pai e bom marido, trabalhador que desempenhava as suas funções de jardineiro com todo o empenho tido sido alvo de tão vil acto.
Era, realmente, incompreensível; não se desse o caso de ser tudo mentira.
O gajo não morava em X, o gajo não era bom pai, o gajo não era casado e o gajo não era jardineiro.
Na verdade, a profissão que tinha tornava o acontecido muito natural como é natural que um carniceiro corte um dedo. Era um risco profissional que se concretizou.
Eu sabia disto.
Quem mentiu sabia disto.
Mas a maioria absoluta não fazia ideia porque, obviamente, tende a acreditar no que se noticia quando não tem motivo para duvidar.
Este tipo de coisas repetem-se, seguramente, vezes sem conta.
O que me leva a pensar nisto:
a) quando algo de supostamente esquisito acontece não é realmente esquisito, nós apenas desconhecemos o porquê... e quando o porquê torna tudo ainda mais esquisito, normalmente esse porquê não é o porquê que deveria ser;
b) a amplificação de um facto sem que saibamos que foi amplificado é perigosíssimo (o risível caso de eu estar noivo, por exemplo) ou mesmo que o saibamos, quando suficientemente amplificado é fodido da mesma maneira (o caso de um artista que conheci e que disseram que havia violado a filha, coisa que não aconteceu mas que passou a indiferente quando a comunidade papou).
Isto pode fazer com que um gajo se torne um bocado paranóico mas nada é mais paranóico do que ouvirmos que um desgraçado de um jardineiro que nunca fez mal a uma mosca foi assassinado à porta de um restaurante, pois não?
(começou o House. Vou parar mas já volto!)
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