Saturday, July 18, 2015

Incondicionalidade e Um Pouco Mais

Tenho problemas com afirmações definitivas. Umas porque não acredito nelas e outras porque me forçam a cumpri-las independemente do que depois suceder.

Quantas vezes se ouve falar em amor incondicional? Provavelmente ouve-se menos quanto ao amor romântico, depois da adolescência, mas muito mais quanto aquele amor que se tem, por exemplo, por familiares.
É bonito, só não o entendo.
Muito por culpa da minha vivência profissional aprendi que quem mais nos/vos fode é a família e não por serem piores pessoas, afinal, todos somos familiares de alguém e, por isso, todos seriamos piores por isso, mas porque só nos fode quem está próximo. Uma evidência quase néscia mas a que precisamos de ser expostos para nos darmos conta dela.

Nenhum tipo de amor ou, sequer, relacionamento é incondicional, para mim. Nenhum.
Não, não vivo isolado num mundo darwiniano; não, não sou o maior dos crápulas; não, não desdenho a natureza humana ainda que não seja um apreciador da humanidade em si.
O que acontece é que não dou para vítima e também não sirvo para tapete. Não compreendo como se pode perdoar tudo a quem quer que seja, não entendo como se pode imaginar que uma qualquer pessoa não pode fazer nada para aniquilar o que por ela sentimos ou, especialmente, o que por ela estamos dispostos a fazer.
Poderá uma filha amar incondicionalmente um pai que a viola? Poderá um filho amar incondicionalmente uma mãe que matou o seu irmão? Poderá uma mulher amar incondicionalmente um homem que a espanca? Poderá um amigo gostar incondicionalmente de outro que não aparece quando se precisa dele?
Tudo é perdoável? Tudo é ultrapassável?
Eu sei que isto serão exemplos extremos mas o incondicional é menos extremo que eles? A menos que, como agora acontece frequentemente, se use a palavra incondicional de forma leve e sem atentar ao seu significado.

Reparem,
ouvi em qualquer lado uma afirmação deste tipo: esquecer é humano mas perdoar é divino. E quando se perdoa, ama-se.
Quanta gente divina anda pisada porque perdoa demais? Andar pisado também é divino? Depois das duas faces que se dá, passa-se para quê? Para o rabo?
Eu sei que o Deus do Novo Testamento é mais new age mas o do Antigo parece-me mais realista.

A única forma de alguma coisa ser para sempre sem restrições é que alguém morra antes, porque a única coisa realmente definitiva é a morte (e nem toda a gente acredita nisto).

UM POUCO MAIS

Não me escapa que quando páro sou maniqueísta.
Normalmente, perco muito tempo com nuances e com o que significa isto para este ou aquilo para aquele. Para as pessoas por quem tenho apreço sou bastante compreensivo porque não as meço por mim. Não lhes exijo o mesmo tipo de forças e fraquezas que me correm no sangue; não lhes exijo que pensem o mesmo que eu ou que façam o mesmo que eu independentemente de me assistir razão.
Compreendo muito. Tento compreender tudo.
Não encaro as limitações delas como defeitos mas como factos que nem sempre se conseguem controlar. Elas têm as delas, eu tenho as minhas.

A minha questão é de medida, como de costume.
Quando me obrigam a sair da subjectividade que descrevi e me forçam a ser o que por natureza não me é difícil: objectivo.

Pondo os pés no chão, tendo a ver a preto e branco porque, racionalmente, o que interessa é o resultado.
Se a minha complacência se vai o meu gelo aparece.
De que interessa os sentimentos e intenções e vontades quando o resultado é o mesmo? Interessa, em última análise, se alguém teve intenção de matar quando alguém morreu?
Ah, sim. Interessa porque se for voluntário ou acidental o juízo de culpa é diferente! e é verdade; Concordo sem reservas. Mas o que não muda é que alguém morreu, independentemente do juízo que ficámos cá para fazer, ao gajo que bateu a bota isso interessa nada.

Tenho muito poucos amigos e quando digo muito poucos quero mesmo dizer isso e não é nada de novo. Não tive imensas - ainda que algumas - desilusões, nunca foram muitas.
Sou, inclusive, um óptimo amigo. Só não faço o que precisam se não puder mesmo. Se me causar transtorno, nem hesito.Movo céu e terra, se tiver força para isso.
Além disso, sou tolerante a esmagadora maioria do tempo, nos termos em que já descrevi. Compreendo, respeito, procuro não julgar...todas essas coisas de que muitos se gabam mas que eu faço.

Agora, esses poucos não me dizem que não.
A minha manutenção é muito baixa, preciso de muito pouco muito poucas vezes e, por isso, se precisar não me podem dizer não.
Não sei se é muito ou se é pouco mas é a linha que é.
Não é incondicional.

E SÓ MAIS UM POUCO, SEM SAIR MUITO DISTO

Disse que alguém ter-me na sua vida tem custos.
Novamente, porque não se diz não faz com que seja pouco comum e parvo. Tudo tem custos. Tudo. E ter-me por perto também tem.

É politicamente incorrecto dizerem-se coisas destas e é politicamente incorrecto porque cada um é cada qual.
Pode ser mas que seja longe de mim.

Eu sou o gajo a quem se recorre quando a coisa fica escura. Os motivos para isso deixarei de parte mas, para ilustrar, digo o seguinte:
Trabalho há (talvez, sou mau em datas) 1 ano com uma determinada pessoa; há umas semanas, essa pessoa disse-me que ia fazer uma biópsia a uma cena e notei que temia ser cancro. Já tinha notado que alguma coisa se passava mas não me meto na vida das pessoas e não perguntei nada.
Enquanto o resultado não chegou, o meu contacto aumentou. Prestei mais atenção, perguntei mais coisas, mandei mais piadas, enfim, fiz o que achei que deveria fazer. Não era nada, felizmente.
Essa mesma pessoa, descobri ontem, acho, tem 1 filho com 6 anos (acho, também. Não prestei muita atenção).
Não sei a quantas pessoas ela contou da cena mas tenho a certeza que do filho toda a gente sabia...menos eu.

Arranja-se muita gente para comparecer ao casamento.
Estarão sempre menos pessoas no funeral.
O casamento, dispenso. Ao funeral apareço sempre.

Então, perguntem-se:
Deverá ter o mesmo custo e merecer o mesmo esforço quem aparece para a cerveja ou quem aparece quando não há cerveja?
É estranho quem dá mais exigir mais?

Se acharem, para mim não servem.

E SÓ PARA ACABAR

Há uns anos atrás, não muitos, em dias como este estaria, provavelmente, a preparar-me para apanhar uma bebedeira.
Em dias como este precisaria de um anestésico para esquecer o que não me apetece lembrar ou imensa confusão para me distrair. Mamas aos saltos e saias mais parecidas com fitas.

Essa necessidade, desapareceu.
Não foi de propósito, só aconteceu.
Deixei de precisar de estímulos deste tipo para conseguir encaminhar-me e sou mais feliz por isso.

O que também deixei de ter foi o ah, estava bêbado para justificar o que quer que seja mas também já não preciso.
É o que é. 

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