Saturday, August 22, 2015

O Gajo do "MAS"

Perguntaram-me, há uns tempo, se costumava perder discussões mas, na verdade, não me foi perguntado; foi uma coisa meio socrática em que a pergunta pedia a resposta que o emissor já possuía ou achava possuir: Não.
É verdade que não costumo perder discussões e é, também, verdade que não gosto de as perder mas fui andando para a frente na vida.

Na mesma conversa, foi-me descrito um determinado tipo de gajo, o Gajo do MAS, um gajo que já fui mas que, parece-me, abandonei.

O que é O Gajo do Mas?
O Gajo do Mas é uma pessoa (e são muitas) que nunca não têm razão mesmo quando estão enganados. É uma tipo de gente muito irritante.
Imaginem que estão a ter uma conversa com alguém e que lhe mostram, cabalmente, que esse alguém está enganado. Se este alguém for um gajo deste tipo concordará...MAS. Este Mas é usado para concordar mas não completamente porque, no fundo, há uma parte em que continua a ter razão, sendo certo que não tem.

Eu fui isto. Eu era um destes gajos. Tinha um tal asco a estar enganado, ou melhor, em reconhecer que estava enganado que metia isto no meio para não levar uma goleada ou para parecer que não estava a levar uma goleada.

Hoje, felizmente, a coisa mudou.
Só torno a ser O Gajo do Mas se estiver a sentir que me estão a atacar; é como com o FC Porto: só me torno no fundamentalista cego que não gosto quando estou a falar com outro e sou empurrado para lá da razoabilidade.
Hoje, passei a ser uma outra coisa que, espantosamente, também irrita as pessoas: concedo sem reservas, quando acho que a razão me escapa....e, muitas vezes, do outro lado ouço coisas como não tens mais nada a dizer?! ao que respondo não. Tens razão. e recebo, em retorno, Estás a desconversar.
Preso por ter cão...

Sem sair, muito, do tema:
Porque tendo a ser assertivo a abrasivo, é comum pensar-se que estou numa missão para convencer alguém de alguma coisa mas, sem evasivas, o meu objectivo só é convencer quando tenho algo a ganhar em termos materiais: profissionalmente (ganhando vantagem na guerra) ou pessoalmente (um resultado imediato que me agrada como alguém levantar rapidamente as saias).
Nas mais das vezes, especialmente quando se trata de alguém que me é próximo, o meu objectivo não é convencer mas fazer entender o que estou a ver quando o que esse outro alguém vê uma outra coisa. Depois de conseguir mostrar, depois da outra pessoa entender o que eu vejo e por que vejo, largo de mão (nem sempre, é verdade) porque a escolha não me compete.

Isto, assim, parece obtuso mas com exemplos práticos é mais fácil entender-se (e é bom que entendam, senão volto a ser o MAS).

Há uns dias intervencionei uma pessoa amiga porque entendi que se estava a perder daquilo que interessa e a entrar num buraco que me é conhecido e onde se entra sem se dar por ela; nota-se quando se olha em volta e só se vê parede.
Então,
expliquei-lhe o que via e o que achava que devia ser feito. Foi entendido o que eu estava a dizer e, por isso, senti o meu dever como cumprido.
Agora que ela tem a visão dela e a minha há-de decidir qual a que está certa e optar pela que lhe parece mais razoável ou certa e eu não intercederei mais.
(este é daqueles casos em que não posso garantir que largarei de mão porque o bem estar da pessoa pode sobrepor-se à minha ética mas vou esforçar-me por deixar que a decisão seja tomada sem interferir...o que não me parece que vá acontecer mas...).

Emocionalmente, a coisa não é particularmente diferente.
É muito comum alguém tentar convencer-nos (ou nós tentarmos convencer alguém) que são o que nós procuramos e que somos burros em deixar passar uma oportunidade de sermos felizes.
Para não parecer o génio que raramente penso que sou, direi que a diferença entre o que descrevi e o que faço não será muito grande mas, para mim, é toda a diferença do mundo.

O que me preocupa e com o que vivo mal é que alguém não perceba onde está metido e o que vai abandonar. Preciso que seja claro que antes da decisão tomada se saiba sobre o que se está a decidir.
Aceito que me seja dito pá, eu sei e vejo mas não posso fazer nada! mas já não qualquer coisa do tipo não sei ao certo... mas pelo sim pelo não, vou parar... Nop. Isto não é aceitável.
Depois de reconhecido, depois de detectado, depois de entendido, cada um decidirá o que quiser mesmo que seja contrário ao que eu entendo dever acontecer. Nada mais sinto haver a fazer.
(este é daqueles caso em que posso garantir que largarei de mão)

O que não é raro é acusarem-me de não me interessar o suficiente. É nestas alturas em que é comum a outra pessoa precisar de uma prova; qualquer coisa como correr atrás ou um grande gesto que demonstre o quanto se quer, algo que, para mim, é apenas a procura de uma segurança que não existe.
Afinal, quem pode garantir o que quer que seja? Aparecesse-me (lamentavelmente terá de ser este o tempo verbal porque o tempo até por ela passa...) a Monica Bellucci pela frente e não estou certo que a minha mulher/namorada seja lá o que for não fosse de vela. 
A ilusão da segurança é muito apreciada pela população em geral mas eu nem de ilusionismo gosto...

Como consegues ser tão frio? também já ouvi tantas vezes que daria para colocar uma fotografia minha num dicionário dedicado a expressões mas a questão não é bem essa. E é estúpido e irracional pensar-se isto.
NADA em mim é frio mas às vezes sou forçado a ser, pelas circunstâncias e a única coisa mais forte que a minha vontade é a necessidade de ser o que é preciso.

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