Monday, August 17, 2015

3 Coisas

1) Ele disse-me que eu sou fria;
2) Ele disse-me que eu sou frígida.

Uma destas afirmações ouvi-a recentemente e outra há mais tempo; duas mulheres diferentes; dois gajos diferentes a dizê-lo; duas mulheres a ponderar que eles tivessem razão; dois gajos enganados.

Quanto à primeira, entre outras coisas, já me foi buscar a lugares de onde não estava em condições de sair e, uma delas, levou-me para casa dela, despiu-me, deitou-me na cama, cobriu-me, beijou-me a testa e disse-me não te preocupes, está tudo bem. Dorme bem. Não estava tudo bem mas ainda assim dormi bem.
Porque não quer estar com gente só porque essa gente quer estar com ela, ouve com alguma frequência que é fria e começa a acreditar, de tantas vezes repetido.
Ela tem problemas, como eu e todos nós, mas frieza não é um deles.

Quanto à segunda, quando me contou que lhe tinham dito o que lhe disseram, ri-me muito e ela ficou meio ofendida.
Ri-me porquê?
Porque só não me engolia, literalmente, porque não podia. Mais uma vez, ela tem problemas, como eu e todos nós, mas ser frígida não é, seguramente, um deles.
Ouviu aquele idiota dizer-lhe aquilo tantas vezes que começou a acreditar.

Ambas as histórias levam-nos para o clássico o problema são os outros.
Um não concebia que lhe fosse dito não, entre nós não vai acontecer, daí ela ser fria;
O outro não percebia o que tinha de fazer, daí o problema ser dela.

Lembrei-me disto porque há uns tempos, numa cena de Recursos Humanos, foi-me perguntado qualquer coisa relacionada com a minha facilidade em ter atritos com algumas pessoas de vez em quando.
Respondi que sempre que isso acontecia olhava para tudo o que tinha feito para entender onde tinha sido responsável. A isto, disseram-me: Hmm... não tem perfil de vítima e de baixa auto-estima para achar que a culpa é sempre sua...
Corrigi o que pensei ter sido claro: Não, não. Eu não acho que tenha sempre culpa, só me é mais fácil tentar perceber o que fiz para, depois, decidir quem tem culpa e agir como tem de ser.
Ah, assim parece-me mais certo. Isso é egocentrismo.

E é. E sou.
O que acontece é que se os outros dois camelos fossem mais egocêntricos, provavelmente teriam pensado, primeiro, por que é ela fria comigo ou por que é ela frígida comigo e talvez a conclusão fosse diferente e talvez essa mentira tantas vezes repetida nunca viesse a parecer verdade.

3) A Intervenção

Acabei de ligar e dizer Isto não é uma intervenção!! ainda antes de ouvir estou? e tinha a vantagem de ser mentira. Era uma intervenção mas como isso me faz parecer uma coisa que não gosto de ser porque não é sexy e não se coaduna com a minha imagem - a voz da razão - entrei à defesa.

Foi, com panos quentes, um aviso dando conta de que se encaminha para onde eu já estive e de onde nunca saí; um antro de quase solidão onde as pessoas se metem quando perdem a perspectiva do que as rodeia a troco de qualquer coisa. Neste caso, trabalho, no meu caso...bem, no meu caso era outra coisa.

Contrariando a minha natureza e contrariando-a porque algo mais importante do que ela se levantou, andei uns minutos a dar colo e a explicar assim não pode ser.
Ainda não é certo que tenha resultado, ainda que pareça, mas se não resultou vou fazer o costume e que me é bem mais natural: intensificar a pressão e intensificar o que tiver se intensificar, mesmo correndo o risco de ser desagradável e ver o feitiço virar-se contra mim...mas o meu egocentrismo latente não me permite fazer menos do que tudo o que consigo porque acho que consigo tudo e o custo é sempre secundário.

3 coisas diferentes;
3 coisa que revelam tanto dos outros como de mim;
3 coisas que mostram que de tanto nos martelarem com alguma coisa na cabeça ela passa a ganhar vida própria.

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