Saturday, January 09, 2016

SOLTAS

AS PESSOAS SABEM DEFENDER-SE!

Vou ultrapassar sem parar o facto de ser um tipo de afirmação que não tem correspondência, enquanto literal, com a realidade.
Ficaremos pela eventualidade de ser verdade.

O contexto em que isto apareceu foi o seguinte: aconteceu uma cena que não me agradou e, como de costume, o que não me agrada tende a não agradar-me mais do que um bocado mas, no caso em concreto, não o revelaria a quem a cena aconteceu a menos que me fosse perguntado porque não gosto de me meter onde não sou chamado.
Ora, esta minha irritação fez confusão a quem a contei porque quem ouviu parte do princípio que dá título a esta primeira Solta.
Novamente, vamos partir do princípio - errado - de que assim é. Interessa-me nada!

Fui educado para defender e para me importar apenas com quem me devo importar. Isto continua comigo mas houve uma ligeira mutação nesta forma old school de ser homem.
A mulher (sempre especificamente a mulher) deve ser respeitada enquanto tal mas não se deve chatear com coisas porque é para isso que lá devia estar; não precisa nem deve saber defender-se ou prover por si porque é para isso que lá estou; deve ser frágil e bonita e tratar de mim.
É machismo, eu também acho, e não gosto de tudo o que significou o que me foi ensinado mas, como disse, houve uma ligeira mutação que, para uns, será insuficiente, mas que, para mim, não poderia ser muito maior sob pena de deixar de me entender como homem.

Então,
a Mulher deve chatear-se, a mulher deve saber defender-se e prover por si, a mulher não deve ser frágil mas agradeço que seja bonita.
Agora, todas estas características que descrevi e que quero, quando eu ando por lá, serão sempre mais manifestação de vontade do que actos.
Porque se deve chatear mas eu chateio-me melhor; porque deve saber defender-se mas eu defendo melhor; porque não deve ser frágil mas eu sou menos.

Eu quero que se saiba defender mas não quero que precise de se defender.

O caso que descrevi não é sobre uma mulher minha no sentido carnal mas é uma (mais uma) que entrou no meu círculo e, por isso, chateia-me e chateia-me muito mas, acabando como disse já, não me meto a menos que me seja expressamente pedido porque sei qual é o meu lugar.

AS AMIZADES

Não sai do período temporal da questão anterior mas sai do âmbito específico.

Faz-me muita confusão quem tem muitos amigos (vá, partiremos do princípio que isto é, sequer, possível...) mas, depois, quando ouço uma ou outra merda a coisa começa a fazer mais algum sentido ao mesmo tempo que o termo amigo vai perdendo o seu.

É muito esquisito dizerem-me que sim, dou atenção ao X e finjo que me interesso pelo assunto mas os meus amigos não me vêm com essas merdas porque sabem que não tenho paciência.
Say What?
Percebem o meu dilema? Eu só papo chaços pelos meus amigos...se não estou disposto a ser massacrado com merdas que não me interessam por gente de quem gosto nem o início da frase ouço dos outros. Foda-se a necessidade de atenção!

Depois (muito mais dentro do tema anterior), imagine-se que, por exemplo, se quer fazer um agrado a gente que se conhece (e, por muito pouco que seja, agradar dá sempre trabalho) mas, depois, deixa-se que um amigo se desenrasque porque se sabe (ou devia saber) defender-se.
Serei obtuso por não entender? Deveria querer a aprovação de conhecidos (queria chamar-lhes estranhos) e não me dar ao trabalho de meter o pescoço por quem gosto/gosta de mim?! Porquê? Porque já sou aprovado?

Sou muitas vezes acusado de dar demasiada atenção às palavras e ao que elas significam. A minha tendência, pouco comum ao que parece, é ouvir Amigo e pensar Amigo e não uma qualquer escala da coisa.
...e volta-se ao início:
Como ter Amigos me dá muito trabalho não consigo entender quem tem muitos.
Ou são muitíssimo mais organizados e eficientes do que eu ou chamam Amigo sem grande esforço (na mesma medida de que agora se Ama tudo, desde um lápis a uma palavra).
...e é por isso que também sai caro ser meu Amigo: falhem-me de maneira que não entenda e são riscados da lista porque...dá-me muito trabalho.
...e é por isso que quando alguma coisa não me agrada mas ainda não me desagrada muito, ponho de castigo e desapareço uns tempos para que entendam que a coisa não me caiu bem. Poderão achar que é uma idiotice e eu concordo mas se não o fizer pode escalar e se escalar. risca-se.

A PERCEPÇÃO

Porque vou exigindo menos da Humanidade, a percepção dos outros não deixa de me causa espécie mas já não me deixa em ponto de bala. Além do mais, porque sei que assim é e colaboro com o que os outros pensam perceber sobre mim tenho ainda menos motivos para me sentir injustiçado.
Se os meus assuntos andam à volta de putas e vinho verde deverei esperar que pensem que me interessa mais do que putas e vinho verde?
Se gosto pouco de assunto triviais e cafezinhos chatos deverei esperar que não pensem que sou pouco sociável?
Se faço o que quero e não o que quero que façam deverei esperar que não pensem que sou egoísta e egocêntrico?

Tudo certo ainda que se devesse dar tanta atenção ao que se vê como ao que se ouve.

Coisa diferente é, por exemplo, mais do que pensarem dizerem que viram. Isso já me cai menos bem.

Imaginem este cenário: chego ao trabalho com uma mão partida e de mau humor.
Porque a percepção é que sou uma besta, falam entre si e dizem: o K deve ter-se chateado no trânsito e deu um soco em alguém e deu cabo da mão... Ok. Não foi o que aconteceu mas não é uma presunção completamente estúpida.
Coisa diferente é dizerem isto: Sabes, o K ontem chateou-se no trânsito, saiu do carro e deu dois socos a um gajo e deu cabo da mão... Isto não é uma presunção! Isto é uma mentira porque não podem ter visto o que não aconteceu.

Dir-me-ão ah, quem conta um conto acrescenta um ponto sim e a isso respondo vão pró caralho! Pensem o que quiserem, achem o que entenderem mas não digam que sabem quando não sabem.
Ah, e acrescento (para ambos os casos, embora, como disse, aceite nas presunções) METAM-SE NA PUTA DA VOSSA VIDA!

A DEPENDÊNCIA

É mais ou menos frequente confundir-se querer agradar com dependência, uma dependência psicológica por aprovação.
Normalmente, e bem, vê-se as coisas vindas de referir como diferentes mas, mais normalmente ainda, não se percebe que se chamam coisas diferentes sendo, no concreto, a mesma coisa.

Não há nada de errado em querer agradar quem merece ser agradado mas já há bastante de errado quando se quer agradar para que esse agradar se reflicta na ideia que têm de nós e não no bem estar de quem se agrada.
Elaborado? Confuso? Ok.
A minha Mãe quer que eu jante com ela todos os dias mas há uns em que não me apetece e outros em que prefiro fazer outra coisa. Ela não vai gostar quando eu não aparecer.
Ora,
eu quero que ela fique contente, sempre, e por isso aparecerei o maior número de vezes que conseguir;
eu não quero que ela fique desiludida comigo e por isso vou sempre.
Entendem a diferença entre uma coisa e outra?
Na primeira quero agradar e na segunda preciso de aprovação.

É como a incapacidade mais ou menos generalizada de entender esta subtil mas fundamental diferença: querer e precisar.
Imaginem que algum amigo me diz para ir ter com ele daqui a 20 minutos e, no caso, eu tenho outra coisa para fazer naquele momento. Pergunto precisas que vá? e ele responde-me que sim.
Saio de onde estiver e vou para lá e, quando lá chego ele não precisava mesmo, apenas queria.
Vai dar merda porque vai-me irritar. Se precisar eu largo tudo mas se quiser há menos coisas que largarei. Ele vai ficar fodido comigo mas terá de engolir porque não preciso que me valide e que me valorize de acordo com as suas vontades.

Eu quero mas eu não preciso.
Eu não preciso de aprovação nem de pancadinhas nas costas e, por isso, sou muito mais livre com tudo o que isso tem de bom e de mau.

FINALIZEMOS COM ALGO MAIS PESSOAL

Há uns dias foi-me dito que um abraço meu tinha sido especial e isso fez-me confusão porque não tinha sido o primeiro nem o segundo nem, acho, o milésimo.
A minha ideia foi que a única diferença real é que tinha sido um abraço público e isso tinha feito a diferença. Porque ela queria que soubessem que a, bem, abraçava.

A resposta foi que não era que quisesse que soubessem que a abraçava mas que não queria esconder que a abraçava.
Isto joga a direito à minha percepção das coisas porque penso exactamente o mesmo: se não gosto de publicitar também não gosto de esconder...porque não preciso que me aprovem nem tenho medo que me desaprovem.
Achei que fazia sentido, achei que era mesmo isso.

Passado algum tempo deixei de achar o mesmo.
Por motivos que não me apetece descrever porque isto já vai longo e está a cansar-me, o comportamento e acontecimentos seguintes revelam que a minha primeira apreciação estará certa (ainda que não o possa garantir).

Então, é legítimo achar que me chateia pensar que alguém quer fazer de mim o que eu não faço aos outros e nem sequer gosto de ser: uma demonstração pública do que me pertence ou, no caso, de que pertenço. 
É legítimo mas errado.

EU não preciso que se saiba mas EU quero que todos se fodam; quem não é como eu não tem de querer ou precisar as mesmas coisas.
Não em importo - neste caso muito em específico como em casos semelhantes anteriores - que me escrevam nas costas PROPRIEDADE DE X
Se for propriedade de alguém (e, nas condições certas, até quero) não é o facto da comunidade saber que me incomoda se for verdade.

...e é isto.

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