Saturday, March 12, 2016

O Cão Vagabundo

Para quem for da minha geração saberá o que é (em inglês chama-se The Littlest Hobo, para o caso de precisarem de googlar) e para quem não for ou não souber:
O Cão Vagabundo era uma série que consistir num pastor alemão e as suas aventuras. As suas aventuras eram ajudar pessoas em apuros e, no fim, bazava.
Correndo o risco de estar errado porque não fui confirmar, o genérico final era o cão numa linha férrea a ir embora.

Identifico-me com cães em muitas coisas e com esta personagem em particular.
Lembro-me de vê-lo ir-se embora e não sentir nenhuma tristeza. A minha família - bons tempos em que o pessoal se juntava para ver séries - suspirava sempre porque ele nunca ficava onde o queriam mas eu não. Talvez inconscientemente aquilo fizesse sentido, para mim.
Muitos anos mais tarde, não há tanto tempo assim, comecei a achar que tinha percebido o porquê do quadro descrito; comecei a perceber o porquê de fazer sentido ele ir-se embora.

Por uma questão de educação que se emaranha em personalidade e num romantismo esquecido e já nem reconhecido como tal, eu preciso de me sentir útil. Quando não estou a ser útil ou quando acho que já não estou a ser útil (o que dá no mesmo) começo a pensar o que ando lá a fazer e este é aplicável a todas as situações.
Hoje, por exemplo, disse que viria trabalhar e perguntaram-me porquê? e a pergunta faz sentido...de facto, não precisava de vir trabalhar. Então porquê?
Ora, dias há em que preciso de ocupar porque pensar demasiado, no meu caso, não é uma coisa boa; dias há em que preciso de me sentir ocupado porque inactividade chateia-me...faz-me sentir inútil.

Sem sair disto, do Churchill uma vez terão dito que ele devia estar numa redoma com uma inscrição em baixo onde se leria Quebrar Em Caso de Guerra.
A ideia, comprovada pelo facto de o eleitorado concordar com ela ao banhá-lo com derrotas em tempo de paz, é a de que ele era útil em situações de desastre e perigo, quando era preciso quem segurasse o leme com força, mas já não em tempos de mar calmo.
Acho que o Churchill não concordava e não sei quem estaria certo mas, a completar a cena do Cão Vagabundo, a minha imagem própria não é muito diferente. Se acharem de mim o que terão achado do Churchill não me ofenderia e poderia sentir-me tentado a concordar.

Como acontece com quase tudo que nos rodeia, a mesma coisa tem duas faces.
Esta ideia que tenho sobre o que devo fazer e o que devo fazer é responsável por retumbantes sucessos e desastrosos inversos,
É a minha vontade de ser útil e nunca me amedrontar frente a ventos e marés que atrai as pessoas para mim;
É o meu sentimento de que se não estou a ser útil e de que não há ventos e marés para enfrentar que empurra as pessoas de mim.

Infelizmente, ao contrário do Churchill, não são os outros que decidem que já não interesse quando a tempestade passa, sou eu. Eu acho que não estou a fazer nada. Eu acho que já não é o meu tempo porque haverá gente muito mais talentosa para fazer nada que eu. Eu acho que será melhor que nem sequer percebam que o meu tempo passou porque não tenho nada de especial para partilhar e, como já foi escrito até me doerem os dedos, se for comum eu não quero.

....

Por motivos que não me apetecem detalhar:
Eu acho que não estás satisfeita!
- K...eu estou muito satisfeita. O que estás a dizer não é, sequer, próximo da verdade...
Pois, talvez. Não interessa muito. Eu acho que não estás satisfeita.

Percebem?
Não acho que me tenham mentido. Não acho que me foi dito para me fazer sentir bem, Acho que foi dito por ser verdade...mas não é o que eu acho e - coisa que tenho tentado mudar de todas as maneiras e feitios - porque eu acho a verdade é meramente secundária.

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