Saturday, May 28, 2016

A Felicidade

Desde miúdo que a minha esperança na Felicidade é muito reduzida. Como levo as palavras a sério, a Felicidade é um bocado como o conceito de Pai Natal: existe na imaginação e enquanto existe é top.
Remetendo-me, para já, ao período de criança (direi até, praí, aos 18/19?!), a ilusão foi-me sendo retirada por causa daquilo a que fui sendo exposto.

A minha infância não foi, de forma alguma, má nem triste nem de memórias dolorosas, em geral, mas foi muito real. Pouco me foi sendo escondido e menos ainda me foi possível esconder depois de ter sido aberta a porta; é daquelas coisas: depois de visto o Sol não dá para fingir que não se viu.
Então,
a natureza humana e a própria da Natureza em si não constitui surpresa com o passar dos anos. Aliás, voltando ao Pai Natal, não estou certo de alguma vez ter acreditado nele porque não estou certo de que alguma vez mo foi vendido.

Enfim, somando as parcelas o resultado parece-me ser que é pueril acreditar-se na Felicidade.

Na idade adulta, é mais esquisito acreditar-se em Felicidade...
O passar do tempo foi confirmando e aprofundando o que acho ser a natureza dos outros e a minha e, por isso, um estado perene de satisfação é uma esperança irreal ou, pelo menos, o primeiro e mais violento sintoma de uma profunda estupidez.

Ouço os mentecaptos dos programas de televisão do coração e os analfabetos que escrevem livros parvos apoiar a busca do que nos faz feliz; encontrar a felicidade.
Podiam chamar-lhe Moby Dick, certo?
Podiam dizer que querem criar uma infinidade de Ahabs, certo?

Pois bem, por mim, quero ser Feliz de vez em quando e, felizmente, vai acontecendo. Vejo o vislumbre por uns momentos e isso mais do ser suficiente, é real.
Fui feliz na Lapa; Fui feliz em Mundaú; Fui feliz quando comprei um CD dos Led Zeppelin; Fui feliz quando venci o Campeonato Nacional; Fui feliz quando estive sentado à chuva às 8 da manhã.

Habituei-me e não me importo. Não ser Feliz não me chateia.
Aquilo a que não me habituo é à tristeza (reparem, não usei o termo Infeliz porque me sugere o mesmo de Felicidade, a inexistência de um tal estado). Estar triste, além de me fazer sentir que toda a minha testosterona se evaporou, leva a que me pergunte mas porquê e para quê?!, pergunta a que nunca encontrei resposta.
Como pouco em mim é comedido, quando estou triste não há gente alegre à minha volta. É um buraco negro que suga toda a energia que encontra.

O que me entristece, corto.
Não compensa.

Não posso esquecer o que vivi. Não posso ser mais estúpido do que o que sou. Não posso ser mais ignorante do que o que sou.
Não consigo acreditar em Felicidade mas posso controlar a tristeza.
I´m fine. I´m just not happy é o meu objectivo.

Relacionado, temos isto,

O George Costanza, num dos episódios do Seinfeld, decidiu pôr em prática a seguinte medida: quando as coisas estavam a correr bem, ia-se embora.
Por exemplo: numa reunião de trabalho, tinha uma boa ideia, toda a gente apreciava e ele saia nesse mesmo momento; quando estava com os amigos, mandava uma piada e ela funcionava...e ele saia nesse mesmo momento.
Quando explicou, todos o acharam parvo mas, passados uns momentos, perceberam que, de facto, aquilo funcionava. Ficavam sempre com uma boa impressão na memória.

Sim, é caricatural mas como em todas as caricaturas parte de uma parte que existe e, depois, exagera-se.

Por natureza, faço mais ou menos isto mas, ao contrário do George, não o faço para que fique uma boa impressão e uma boa memória mas antes porque me chateia a deterioração.
Não se enganem: eu gosto que as recordações que têm de mim sejam boas mas é muito mais importante não deixar azedar o que foi, a dado momento, óptimo, como acontece com uma enorme frequência. É como o leite...

É raro deixar que algo dure demasiado tempo (e demasiado tempo vamos dizer que é uma semana...sendo que uma semana pode, e muitas vezes é, demasiado tempo). 
Gosto de quando é bom e a, por experiência, o bom - como o entendo - muito menos do que perene, é de curta duração, como as cerejeiras em flor.

Ora, porque ainda sou humano, algo que ando há muito a tentar ultrapassar, houve vezes em que achei que valia a pena ficar e quando acho uma coisa destas é porque algo de realmente especial está a acontecer. Assumo o risco e espero que o resultado seja diferente, coisa que, à data, ainda não foi mas não tenho qualquer sentimento de pesar por isso. Não acho que não devia ter feito o que fiz.
Nestes casos, contudo, no momento em que comecei a sentir a deterioração que me pareceu ser apenas crescente, dei-lhe um fim ou deram-lhe um fim por mim ou provoquei o seu fim ou qualquer outra merda, interessa pouco.

Nas coisas que duraram acho que não saí em alta mas tenho a certeza que não deixei que fossem até ao fundo do poço.
Poderão dizer ah, mas tens a certeza que não iria até ao fundo do poço?! e a resposta é clara, óbvia e honesta: Não!
Poderia ter tomado um rumo contrário? É possível.
Poderia ter retomado o que tinha acontecido? Poderia.
Depois da tempestade vem a bonança? É. Digam isso ao pessoal de Nova Orleães...

Esta semana, disseram-me que o marido de uma gaja (não conheço nenhum dos dois) lhe tinha pedido o divórcio e que tal tinha sido uma surpresa.
Pá...não. Não pode. Ela podia não ter querido ou conseguido ver e, por isso, ser uma surpresa. Ser uma SURPRESA mesmo? Não.

Há dois dias, estava a falar com dois gajos e um deles falou muitas vezes da ex dele de há uns 10 anos.
Depois, falou-me de um casal qualquer que se tinha separado e passados 10 anos (acho que o hiato temporal foi este) se tinham reencontrado e a coisa tinha funcionado.
Disse-lhe que conhecia um caso desses. UM CASO. Quando só se conhece um caso no meio de tanta gente, estamos a falar de erro estatístico.
Ele contrapôs e eu respondi-lhe o que já muitas vezes por aqui escrevi e usei-me como exemplo:
Pá...as pessoas esquecem-se do motivo pelo qual as cosias correram mal. Não é por mal...esquecem-se! A L sempre que me fala diz que eu sou o maio sonho de consumo do Mundo. Gajo como eu, não se encontra. Pois...não se encontra...mas perdeu-se e perdeu-se bem. Há um motivo para as coisas terem corrido mal!

São estes buracos que me deixam petrificado. Melhor: é pensar que entro num destes buracos que me assusta e eu não tenho medo de quase nada.

....e para acabar porque espera-me cerveja

Muitas vezes é-me difícil perceber se me chateia perder pessoas ou se me chateia, apenas, perder.
Estive a pensar nisso por estes dias, uma daquelas dúvidas existenciais que parecem aparentemente parvas mas que se deslindadas têm uma enorme repercussão na vida de um gajo.

A minha personalidade é dominante, egoísta e controladora.
Quando se me conhece mais ou menos bem a parte do egoísmo é difícil de assimilar.
À primeira vista, o meu egoísmo é evidente porque, em geral, não me interessa gente que não conheço ou gente que conheço mal. Não é que lhes queira mal, não quero, mas não faço qualquer esforço para acomodar o que me poderá causar o mínimo dos transtornos.
Depois, se as pessoas que não conheço passarem a ser entendidas como amigas sou capaz de muito mais coisas do que o normal e, nesta altura, é muito difícil entender-me como egoísta.

O que acontece é o seguinte: tudo tem custos.
Não sou problemático nem tenho muitas necessidades que os outros possam suprir. Durante a esmagadora maioria do tempo, não represento qualquer peso para ninguém.
Infelizmente, apesar de não ser problemático, tenho problemas de vez em quando e quando tenho problemas, não se me pode dizer que não sem que eu entenda perfeitamente o porquê.

Ah, não podes ser assim e a isso respondo com a única coisa realmente útil que aprendo no curso que tirei: Tanto posso que sou.

Voltando:
por causa disto e de outras coisas, é-me difícil, à primeira vista e sem preparação, entender se o que me chateia é perder a pessoa ou, apenas, perder.

Não quero que me chateie só perder mas, às vezes, suponho ser esse o caso.
....e também por isso, tento sair on a high note.

...e por falar em note mas acrescentando-lhe um t mais:

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