...Sempre À Espreita...
Nesta minha senda de ser um gajo mais relaxado, optei, de há uns tempos para cá, por deixar alguns assuntos morrerem sem lhes dar importância.
Isto é recente mas mais antiga é a decisão de deixar de sentir a necessidade de corrigir todas as barbaridades que ouço e sei estarem erradas.
Da mesma maneira que acho uma profunda parvoíce dizer a alguém que é feio sem que tal tenha sido perguntado, comecei a achar que corrigir só por obsessão me fazia parecer um pedante que não gosto de parecer. Era uma compulsão, é certo, mas ninguém tem de adivinhar.
Sucede que isto nem sempre resulta e a fina camada de verniz com que me fui revestindo tem muito menos resistência do que gostaria...
Ontem falou-se da Casa dos Segredos, ao jantar.
Ouvi que a culpa era das televisões que davam às pessoas o que elas queriam e não deviam; ouvi dizer que aquilo representa a ralé da sociedade; ouvi que era deprimente e de terceira categoria...enfim...
Não fiz a transposição do dever das televisões educarem as pessoas para o próprio conceito de democracia;
Não atirei à cara o facto de as mesmas pessoas que criticam isto verem e discutirem o Keeping Up With The Kardashians e as WAGS;
Não referi que elas - como nós - faziam às escondidas o que os gajos na televisão, porque filmados, fazem às claras;
Não disse que a TVI é privada e que, por isso, faz o que quer e que veja quem quiser.
Não fiz estas referências nem muitas outras que poderia fazer porque não me queria chatear.
Limitei-me, quase delicadamente, a dizer que a Casa dos Segredos é uma extensão, ou vice-versa, do Facebook e da sociedade de voyeurs e gente supérflua, com a ideia de todos - individualmente - serem o centro do Universo.
Admito que isto não seja uma evidência das mais claras mas é apenas uma opinião que admite contraditório mas já não admite um contraditório de qualquer forma. Quer dizer. A opinião admite mas eu não.
Então,
partiram para o tipo de respostas que tira o pior que há em mim e me atira para uma década atrás: argumentos que nada têm que ver com o que tinha dito e, pior, argumentos que nem isso são na busca vazia e pálida de apenas ter razão.
(In)Felizmente, por uma questão de temperamento e de formação profissional, este gosto de verosimilhança é um velho conhecido e sou bastante bom nele mas, ainda mais (In)felizmente, a dada altura achei que devia saber coisas e não só parecer que sabia coisas, o que me tornou um animal híbrido e algo esquisito mas que se adapta com facilidade.
A isto, acresce que além destas odiosas coisas ainda tenho a capacidade de ser o ferro quente que toca só onde dói.
....o jantar não acabou bem porque entrei em modo de ataque.
Pronto, K. Tens razão. És o mais inteligente. És o mais esperto. E também és o mais bonito.
- Pois sou. O melhor é não te esqueceres disso.
Já não estou a achar graça à brincadeira...
- Não? E vais fazer o quê?!
Nada. Não ia nem vai fazer nada.
Eu não faço bluff e se há muitas coisas sobre mim que se esquecem, essa não é uma delas.
Não foi fixe mas não foi dos dias em que saí mais desagradado comigo por ter regressado a um estado mais primário.
Saí um bocado desagradado mas não muito. Foi merecido.
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