Sunday, January 22, 2017

Black Mirror (agora, mais ou menos sim)

No Natal, um casal amigo de uns amigos perguntou-me se já tinha visto. Estes gajos são cineastas ou coisas parecida e disseram que era muito esquisita...sendo esquisita uma das minhas preferências para quase tudo.
Comecei a ver há uns dias e já mandei abaixo uns quantos episódios.
É, de facto, esquisito.

Aquilo é uma crítica social com muita incidência nas tecnologias mas ultrapassa isso e a crítica não é, necessariamente, clara; melhor: ela é clara mas não é esfregada na cara como isto são vocês, animais!
Por não me sentir a mais enquadrada das pessoas, gostei de ver e gostei de não me rever em nada do que ia vendo mas, depois, apareceu um episódio.

Numa penada;
o pessoal tem um chip metido na cabeça que grava tudo o que acontece, pelos olhos do próprio. Uma memória externa, se preferirem, que pode ser consultada exactamente enquanto tal.
Logo à partida, isto pareceu-me horrível porque o cérebro é tão feito para lembrar como para esquecer e o meu já tem mais tendência para lembrar do que para esquecer, o que é desagradável.

A parte do lembrar demasiado é muito esmiuçada.
A pessoa - no caso, a personagem principal - retoma cenas e revê-as para apanhar sinais da mulher dele para com um terceiro. Vê, revê, vê, revê e ela vai-lhe dizendo que ele é maluco e que está a imaginar e não a ver.

Faz sentido.
Tudo é o seu contexto e sugestão.
Ver algo demasiadas vezes com a ideia do que ali se está a passar tende a reforçar as ideias que se têm e não necessariamente a realidade do que está a acontecer.
Revejo-me nisto.
Faço um esforço muito grande para não condicionar o que vejo ao que quero ver e faço-o porque revejo tudo muitas e muitas e muitas vezes.

Ponto de situação:
Para o pessoal que quer ter o chip: nunca me aconteceria. Isso é para doer aos outros.
Para o pessoal que remói nos pormenores: acontece-me mesmo sem chip. Não quero reforçar a capacidade.

O pior e melhor veio depois.
O pior: o gajo não imaginou nem interpretou. Estava a acontecer. Ela tinha-o encornado e fica no ar se foi a vez que ele descobriu ou muitas outras;
O melhor: a série evitou ser o feel good em que ele só estava um bocado queimado e ela sofreu com o queimanço, nada tendo feito.

Filhos da puta...reforçam a minha ideia de que "o que parece é" e um gajo passa tempo demais a imaginar que está a imaginar.
K, tens sempre razão, mesmo quando não querias...

Os outros episódios que vi são agressivos para os outros e, por isso, mais agradáveis de ver e apreciar.
O Black Mirror, como todos os mirrors são muito melhores quando apontados para outra pessoa.

ps. o episódio acaba com ele numa casa vazia a usar o chip para se lembrar de quando não estava vazia.
Saber é melhor. Não morremos estúpidos.
Saber é pior. Morremos sozinhos.

Devemos estar todos a precisar:

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