Monday, January 09, 2017

O Efémero e An Idiot Abroad

Já não me lembro quem foi o gajo que escreveu quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejeiras, coisa bonita de se dizer e uma imagem muito bonita até que as flores a que se aludem tombam.
Vi, não me lembro onde, uma Mãe dizer à filha o tempo de duração de uma borboleta e, perante o espanto e desagrado da miúda pela esperança de vida, acrescentar qualquer coisa como dura pouco mas a vida delas é linda!.
No Tróia, o Aquiles diz à (insert name, esqueci-me...) que os Deuses invejam os mortais porque cada momento dos mortais é irrepetível porque a sua vida é efémera.

Estes três exemplos são racionalizações e justificações demasiado retorcidas.
Não seria melhor que as flores durassem mais tempo?
Não seria melhor que as borboletas conseguissem bater as assas mais do que meia dúzia de vezes?
Não seria melhor termos mais tempo para tudo?

As coisas morrem.
Não precisam de muita justificação. Morrem.

Estas frases e estas ideias soam-me, se for muito sincero, a é dos carecas que elas gostam mais!, boato seguramente iniciado por carecas para justificar que o Mundo não acaba com a queda de cabelo.
Reparem: o Mundo não acaba mesmo mas...as mulheres preferirem os carecas parece-me parvo.

Largar é difícil...
Quando o meu avô estava a quinar tentou segurar-se à vida o mais que conseguiu.
Se lhe tivessem perguntado, uns anos antes, se quereria continuar a pulsar descrevendo as condições em que isso aconteceria ele teria respondido, prontamente, que não.
Eu, como vi aquilo, digo exactamente o mesmo: se eu ficar assim, deixem-me tombar depressa. Desisto. Não quero.
...mas perante a realidade, e não o cenário, será que não entraria em automático de preservação e tentaria o mesmo? Não sei mas não queria.

É difícil largar.
É difícil saber-se quando é o momento de largar.

No meu caso em concreto, direi que sempre larguei o que tinha de largar a tempo mas é perfeitamente possível que o tenha feito, sempre, cedo demais. E cedo demais pode ser tão mau ou pior do que tarde demais.

Querem ver a flor de cerejeira morrer?
Querem ver a borboleta morrer?
Querem ver a efemeridade da vida acontecer?
Eu não quero. Eu não preciso. 
Sabendo o que vai acontecer, o melhor será lembrar a flor em flor; a borboleta em voo; a efemeridade do momento numa fotografia mental, se outra não houver.

A vida é trágica porque se sabe, à partida, que se morre mas será que temos mesmo de estar lá para a tragédia e colaborar para a confirmação?
Para mim, sempre que se puder evitá-lo, deve-se fazê-lo.

Quero fazer contigo o que a Primavera faz com as cerejeiras só se não puder fazer o que a natureza faz com os espinhos do cacto...os espinhos duram mais tempo.
Dispenso a beleza da rapidez.

e An Idiot Abroad

Esta é uma série do Gervais em que um...idiota vai viajar, coisa que nunca tinha feito.
É verdadeiramente espantoso como um idiota daqueles tem tanto em comum comigo...

Se é certo que a maioria das observações dele são parvas e ignorantes quanto aos costumes dos povos que visita e quanto ao que aprecia (o gajo acha que a Grande Muralha da China é uma parvoíce e sobrevalorizada. Afinal, a Auto-estrada também se vê ao longo de quilómetros e é mais útil...) não é menos certo que concordo com muitas das coisas, o que me dá vontade de rir.

Quando frente ao Muro das Lamentações disse ok, estou a olhar para um muro e eu acho o mesmo;
Quando chegou ao Taj Mahal e lhe perguntaram se era espectacular ele respondeu que até era mas estava lá muita gente...e era ridícula a fila para se sentarem num banco e tirar uma fotografia (era o banco onde a Princesa Diana se tinha sentado) e eu acho o mesmo.

Engraçado foi quando o gajo conheceu um líder espiritual indiano.
Espiritualidade não lhe diz nada e tudo o que o líder lhe dizia não lhe era familiar ou, sequer, interessante mas essa experiência marcou o gajo.
No meio de muita coisa, o idiota sentiu o intangível e, com graça ou o que lhe queiram chamar, o mais intangível de tudo.

  (já não passava há muito...)

0 Comments:

Post a Comment

<< Home