Não Vai Ser Animador!
O meu Avô padeceu de uma doença que o foi degenerando enquanto o tempo foi passando.
O pessoal sabia que a coisa estava a azedar mas não sabia porquê e ele sempre mentiu a respeito. O que se estava a passar só foi descoberto quando ele deixou de ser capaz de coerência e teve de ser internado.
Entre a descoberta e o fim da vida dele deve ter decorrido uns 5 ou 6 dias.
Por que motivo não contou?
Bem, haverá mais do que uma hipótese mas, conhecendo-o, o que ia acontecer é que ele sabia que o pessoal o ia apertar com tratamentos e estilo de vida e isso não lhe apetecia - como nunca apeteceu.
Então,
decidiu esconder e continuar a fazer o que lhe dava na real gana.
Alguns dos meus familiares ficaram fodidos porque se ele tivesse dito poderia ter sido feito mais alguma coisa e ele poderia ter durado mais algum tempo.
Eu não fiquei fodido. Foi o que ele quis e não estou certo que estivesse errado.
O que se passou, no entretanto, nos 5 ou 6 dias a que me referi, foi, de entre outras coisas, o seguinte:
A minha Avó percebeu para onde a coisa caminhava se ele acabasse por não tombar.
O meu Avô estava completamente incapacitado de tomar conta de si e iria ficar acamado e demente o resto dos dias ou meses ou anos que durasse.
Sendo certo que esta talvez não fosse a principal preocupação da minha Avó (talvez), preocupava-a muito o que iria ser a vida dela a partir daquele ponto: o que lhe ia sair do pêlo; o que lhe ia sair do bolso; o transtorno que lhe iria criar e por aí fora.
A minha Avó chegou a dizer que Deus o leve! e este sentimento não foi altruísta pelo sofrimento dele mas sim pelo dela que seria vindouro. Bem, pelo menos em parte.
Poderão vocês agora pensar foda-se! Esta gaja é uma pessoa de merda! e não poderei afirmar o contrário porque, se calhar, vocês ou alguns de vocês passaram pelo mesmo e a vossa reacção foi diferente (espero que a minha também seja, se chegar a isso).
Eu, contudo, não penso assim.
Somos todos - uns mais que outros - inerentemente egoístas e pensamos, primeiro, em como o que quer que seja se irá reflectir em nós.
Não fiquei com má ideia dela. A preocupação dela era legítima. Não fiquei a pensar como é possível! e nem que cabra!! e não pensei nada disto porque aceito as limitações humanas.
É o que é e nada mais.
Madre Teresa, eu?
Nã. Isto ainda não acabou.
A minha aceitação encerra-se e demora pouco a encerrar-se. É rápido e, as mais das vezes, insusceptível de regressar.
Não aceito que se exija aos outros o que se é incapaz de dar.
Não aceito que se peça aquilo que, pelo que se fez, não se tem direito.
Não aceito que se afronte quem não merece ser afrontado.
Não aceito que gente injusta clame justiça.
Eu sei que isto não é particularmente fácil de explicar mas espero que não seja demasiado difícil.
As limitações que todos temos fazem de nós aquilo que somos. A soma de virtudes e defeitos compõe o quebra-cabeças que se cruza connosco todos os dias.
O meu problema não é com aquilo que se faz mas com aquilo que se espera e, pior, com aquilo que se exige.
Aceito que a Justiça seja o caralho mas não admito que se espere Justiça quando se faz pouco por isso.
Não espero que ninguém me ajude mas se esperarem, do nada, serem ajudados: Justiça é o Caralho.
.....
Não sabes o que passo... Outro dia fui ao trabalho do T e ele fingiu que não me conhecia! Nem me respondeu quando o cumprimentei!
Isto foi dito sobre o meu irmão.
Quando soube desta merda, liguei-lhe e perguntei:
- Olha lá, a tua Avó disse ao P que foi ao teu trabalho e que tu a ignoraste?!
Tás maluco, K. Claro que não!
- Pera. Expliquei-me mal. Não te estava a perguntar se a tinhas ignorado, isso eu tenho a certeza absoluta que é mentira; o que queria perguntar era se ela alguma vez tinha ido ao teu trabalho.
Nunca, K. Nunca!
Não sou bom a perdoar estas merdas.
E, infelizmente, o T também não.
Somos muito diferentes, apesar de termos partilhado o mesmo útero em alturas muito diferentes, e apesar de ter tentado apoiar uma atitude mais complacente dele para com o Mundo, não fui particularmente bem sucedido.
Olho por Olho, Dente por Dente.
Deus Perdoa, Eu Não.
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