Wednesday, March 15, 2017

O Medo e Henry David Thoreau

Este fim-de-semana que passou, tive um jantar em casa de um amigo para o qual não me desloquei de carro. Nem eu nem ela.
A ideia foi de que, eventualmente, haveria demasiada bebida envolvida para, depois, se guiar. Não estou certo que a ideia se tenha confirmado mas, independentemente disso, não havia carros.

Passo seguinte: ir de Metro (o que também não aconteceu mas, para o caso, não interessa).
Saímos por volta das 3 da manhã e tivemos de fazer uma certa distância a pé e, entre a casa dele e o Metro, tem de se passar por um sítio algo sombrio e sem grande fama de ser seguro.

K, vamos passar por aí?
- Óbvio. É o caminho mais perto.
Não gosto de passar aqui.
- Não te deixava passar aqui sozinha.

Sou imune ao medo? Não. Não sou tão parvo.
Ignoro o perigo? Bem...se o considerar demasiado eventual e injustificado, Sim. Sim. Sou um bocado parvo.

Não admito temer sem que seja um perigo actual e obviamente claro. Melhor. Se for um perigo actual e obviamente claro pode ser que pondere caso não esteja sozinho e o risco não seja apenas meu. Se for só meu, encaro também.

Como se liga isto a Thoreau?
The mass of men lead lives of quiet desperation.

Ora,
a ideia de que vivo em silencioso desespero não me cai bem.
A maior parte das vezes em que a tampa me salta resulta da impressão de que estarei a tolerar aquilo que não deveria estar a tolerar.
A percepção, nem sempre certa, de que me estou a sujeitar dá-me cabo do sistema e, como bom animal que sou, quando o sistema está a ser atacado...ataco.
É, para ser honesto, neste momentos que me torno mais destrutivo e, em consequência, é destes momentos que guardo piores memórias (ainda que raramente me arrependa).

A história com que comecei, é um bocado disto.
A ideia de que me estou a sujeitar ao medo não me é querida e o resultado de me sujeitar é manifestamente mais doloroso que uma pancada, um assalto e coisa que tal. Talvez não seja pior do que ser baleado mas como ainda não aconteceu, não sei.

Há muitos anos atrás, levei um soco tal que fiquei uma semana sem ver do lado direito.
Lembro-me disto porque:
1. Passou;
2. Jurei que merda daquele tipo e naquelas circunstâncias não me aconteceria mais...e não aconteceu. Fui estúpido e esperei em vez de tomar as rédeas. Poderei ser espancado outra vez mas não daquela maneira.

Há menos anos atrás, um arrumador estava a chatear-me e respondi-lhe. 
Depois, fingiu (ou tinha mesmo) uma faca no bolso e eu, que estava enclausurado dentro do carro e não teria tempo de sair e foder-lhe a boca antes de uma eventual facada, fiquei-me.

O olho pisado passou-me.
O ter-me ficado com o arrumador, não.

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Candeia que vai à frente, alumia duas vezes

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