Pensar Não Faz Mal
Há uns dias, numa conversa com uma pessoa que estará a passar uma fase de merda, disse-lhe:
Não faz de ti má pessoa ocorrer-te, de vez em quando, "foda-se...se ela morresse este meu tormento passava!. Só faz de ti uma pessoa...
Ela não me tinha dito que tinha pensado tal coisa mas não me desmentiu. Para mim era óbvio que já lhe tinha ocorrido e era, também, óbvio que lhe doía que tal coisa lhe tivesse passado pela cabeça.
Ela ficou chocada, por uns minutos, por eu ter dito o que disse mas percebeu que não estava a fazer um juízo de valor sobre a péssima pessoa que ela poderia ser.
Pensar não faz mal.
Quando colocados perante a adversidade, o mais natural é que queiramos que a adversidade acabe e, instintivamente, que acabe como tiver de acabar. É o Maquiavel que há em todos nós. Não interessa por que motivo acaba, interessa que acabe,
Depois,
os valores, a decência, a perseverança, a educação, o sentido de justiça e tudo o resto que nos impregna o cérebro há-de tentar encontrar uma solução que satisfaça ou que torne a situação mais tolerável mas, no início, só queremos o fim do que nos magoa,
E querer o fim do que nos magoa não é mau.
É certo que não partilhamos estas coisas feias que nos andam a massacrar o lado lunar da nossa mente e não o partilharmos quer porque temos vergonha delas quer porque achamos - com bons motivos para isso - que quem ouvir vai ficar pasmado com a nossa falta de escrúpulos ou com o nosso egoísmo. Sucede que estes apóstolos dos bons costumes são como nós.
Perdi a vergonha dos meus pensamentos há muito.
Em primeiro lugar,
porque não tenho completo controlo sobre o que penso e, honestamente, nem sempre tenho controlo sobre o que faço;
Em segundo lugar,
porque quero que se foda o que os outros pensam sobre o que faço e muito mais quero que se foda o que pensam sobre o que penso.
O maior problema da pessoa de que vos falo é um bocado este:
ela sente a obrigação que lhe é imposta como sendo própria e cumpre-a independentemente do que lhe custar.
Este sentimento de ter de cumprir com o que julga estar obrigada ou que pensa ser-lhe imposto redunda em queimadela e ameaça ao seu estado psíquico, pelo que uma situação de merda, alheia, faz com que a situação própria seja de merda; o que, por sua vez, a faz sentir que está a quebrar e que não pode quebrar; o que, por sua vez, a faz sentir que se a velha tombasse a situação e a obrigação e o queimanço terminariam; o que, por sua vez, a queima ainda mais porque deseja a morte de alguém em proveito próprio.
Quando um gajo anda fodido só serve para foder os outros e eu sou dos melhores exemplos disso.
Porque aprendi que o meu mau-estar alastra, preocupo-me muito em andar o mais equilibrado que consigo em benefício próprio e alheio.
Pode parecer, de vez em quando, que o meu egoísmo é apenas isso, egoísmo. E de vez em quando é porque os outros, como massa amorfa, interessam-me pouco mas nem sempre é uma manifestação de Rei Sol.
Mesmo para as pessoas a quem quero bem é preciso que eu me preocupe muito comigo, caso contrário ando a desejar que mesmo estas parem de me foder a cabeça, incluindo os momentos em que não me estão a foder a cabeça.
Em suma:
Pensar caralho, se a X morresse a minha vida era tão melhor...não prejudica ninguém nem faz de ninguém má pessoa;
Pegar numa almofada e sofocar a X já é muito mais questionável, não é?
Bem,
há mães que no desvario da depressão pós-parto e por privação de sono abanam crianças até as matar, não há?
(SEM A MÍNIMA INTENÇÃO DE AS CULPAR) Se calhar, se tivessem dito aos maridos/namorados/pais/mães/avós pá, tirem-me a criança das mãos por umas horas porque preciso de dormir e não estou a aguentar mais este camelo! alguns teriam sobrevivido.
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