O Inferno Somos Nós
Não direi que é comum mas ouve-se, de vez em quando, que o inferno são os outros e é mais ou menos verdade quando somos montados de uma determinada maneira.
Porque sou mal integrado, os outros chateiam-me mas não os qualificaria como inferno porque não lhes ligo por aí além. Os outros muito dificilmente me causam dor; naturalmente, uso o termo outros no contexto devido, ou seja, uma massa indiferenciada de gente e não outros para os que identifico e me são próximos.
O Inferno sou eu.
As pessoas com quem tenho mais atritos e de quem quero distância são, as mais das vezes, aquelas onde vejo as minhas características que me são menos queridas num volume que temo ser o meu.
Ou seja,
eu vivo bem com as minhas limitações e exageros e defeitos mas, por conceder a minha imperfeição, admito como possível que essas limitações, exageros e defeitos sejam maiores e mais pronunciados do que me parecem. E quando me cruzo com pessoas que têm esses problemas numa medida que me parece desmedida...não gosto delas ou, talvez mais realisticamente, não quero conviver com elas.
Há uns minutos, soube que alguém tinha sido contactada para uma entrevista de emprego. Não o procurou (tem um e não anda em busca). Lembraram-me dela, e bem, por ser competente.
Estas coisas não me acontecem.
Nunca tive reclamações do meu trabalho nem da minha intelectualidade nem esforço mas também não costumam andar à minha procura.
Ok, acabo de me lembrar que já me aconteceu duas vezes e dessas duas vezes aconteceu porque as pessoas me conheciam.
Não foi um favor nem uma cunha. O que ocorreu foi que porque essas pessoas me conheciam, viam além da minha pouca vontade de conviver e de conversar e de lamber cus e de perder tempo com o que não me interessam.
Estas pessoas sabiam, à partida, que as minhas características especiais (eufemismo, olé!) eram compensadas por tudo o resto.
Voltando:
quando soube disto pensei caralho, a mim não me acontecem estas coisas! mas passou-me depressa.
Há mais do que um motivo para ela ter sido e ser, regularmente, contactada e eu não. Não é, apenas, uma questão de competência, é, também, uma questão de ser, ao nível da derme, ela ser uma pessoa de contacto agradável e com quem os outros se conseguem identificar.
Eu não sou nada disto. Eu não entro no radar também por isto.
Eu compreendo isto.
E, ainda assim, tive o momento caralho, a mim não me acontecem estas coisas! e fiquei muito irritado.
Não me devem nada.
Não me devo queixar daquilo de que sou responsável.
Não é inteligente querer ser aquilo que sou e, depois, pensar que deveria beneficiar daquilo que beneficiam aqueles que se integram onde não quero estar.
É verdade que, no momento em que escrevo, já me passou o momento descrito mas também é verdade que existiu e essa merda chateia-me muito.
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
(Ney, sempre!
Mesmo com um som fraco.)
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