"K, estou com um problema grave..."
- Tou, então? Tudo bom?
Nem tudo, K. Estou com um problema grave e, se calhar, vou precisar da tua ajuda. Quando posso falar contigo?
- Fora de expediente, em qualquer altura. É só dizeres.
E quando é isso?
- À hora do almoço ou depois das 18. Em que dia quiseres.
À hora do almoço não dá jeito porque vou almoçar com a tua X.
- Ok. Mas qual é o problema?
Pá...Bati com o carro da empresa duas vezes nos últimos seis meses e, este fim-de-semana, quando cheguei ao carro alguém me tinha metido a frente dentro. É complicado. Então, acho que vou precisar de 1.500,00€.
- Ok.
Não te faz falta?
- 1.500,00€ é muito dinheiro para toda a gente, acho. Mas, pelos vistos, precisas mais deles do que eu, por isso, pode ser.
É para te pagar! Estou a ver outras hipóteses mas, contigo, estou mais à vontade.
- Ok. Quando quiseres, diz alguma coisa.
...K, isto é muito sigiloso. Não queria que a tua Y nem o teu I saibam.
- Quando quiseres, diz-me alguma coisa.
Odeio que me atirem areia para os olhos e, normalmente, não pactuo com essas merdas mas há sempre excepções.
A única coisa que posso fazer com mentirosos é mandá-los foder e não fazer mais perguntas. A cada mentira, a merda só vai piorar e a única coisa que se vai ouvir são mentiras.
Como é bom de ver, reduzi a minha disponibilidade ao horário fora de expediente; coisa que nunca faria em outras circunstâncias porque caguei no horário de expediente;
Como se repara, além de qual é o problema não perguntei mais nada. A informação foi-me sendo transmitida sem que perguntasse nada e não pergunto nada quando não vou confiar na resposta;
Como se constata, não coloquei nenhuma questão quanto ao reembolso do dinheiro. Mais contacto custa-me muito mais do que o dinheiro.
Quanto ao dinheiro, perceba-se o seguinte:
Eu detesto emprestar dinheiro porque eu detesto dinheiro.
O meu problema (e é um problema) com dinheiro é que ligo, directamente, a quantidade de dinheiro que tenho com a amplitude da minha liberdade e porque dou um enorme valor à minha liberdade tendo a não gastar dinheiro em coisas que apesar de mais tangíveis me são muito menos preciosas.
Então,
gente que me pede dinheiro emprestado porque quer jantar fora mais vezes ou gastar em putas ou comprar um carro ou seja o que for não tem muita sorte...e quase toda a gente que precisa de dinheiro emprestado é porque gasta onde não deve (anos e anos de experiência adquirida junto de pessoas que não têm muito dinheiro e que, ainda assim, o gastam em merdas).
É uma imensa parvoíce, para mim, emprestar dinheiro que me custa (mais ou menos) a ter para que outros usufruam da minha psicose em favor de bens e cenas que não considero importantes.
Ah, K, mas não és tu quem decide o que é importante! e a esta afirmação respondo com Se é com o meu dinheiro, não decido o caralho!!
Para que queiram decidir pelos vossos valores - como eu faço! - não fodam com a piça dos outros.
Sempre que emprestei/dei (dei muito mais vezes do que emprestei) dinheiro nunca perguntei para o que servia.
As únicas pessoas a quem emprestei/dei/ofereci dinheiro são pessoas em quem confio.
Não são pessoas em quem confio que me pagarão de volta - como disse, tenho mais facilidade em dar - mas pessoas em cujo discernimento confio; são pessoas que conheço e cuja vida não me é misteriosa; são pessoas que precisam ou precisaram para alguma coisa importante e, mais que isso, não tiveram necessidade de dinheiro porque foderam o delas em merda.
Então, por que acedi?
Há muitas razões para isso mas a principal é que, como disse, fica-me mais barato não fazer perguntas e nem recusar porque isso reduz a conversa.
Espero ardentemente - mas sem qualquer fundamento para achar que assim será - que me seja mandado o número da conta para fazer a transferência e pronto! Infelizmente, acho que ainda vou ter de papar mais uns minutos de histórias que não me interessam e mentiras que me irritam.
Puta que pariu a minha sorte.
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